16/10/2013 11h36 - Atualizado em 16/10/2013 17h16

Entenda a crise da dívida dos EUA e suas consequências

Termina à 0h desta quinta (17) prazo para que teto da dívida aumente.
Se Congresso não elevar, país fica sem dinheiro para honrar compromissos.

Anay CuryDo G1, em São Paulo

O governo dos Estados Unidos corre contra o tempo para não colocar em risco sua credibilidade de bom pagador frente aos mercados internacionais. Os políticos norte-americanos têm apenas algumas horas, até a 0h desta quinta-feira (17), para chegar a um acordo e elevar o teto da dívida. Se não houver consenso, o Tesouro dos EUA não poderá mais emprestar dinheiro no mercado e poderá ficar sem caixa para honrar seus compromissos.

Entenda o que levou o país a essa situação e o que poderá acontecer.

O que é o teto da dívida dos Estados Unidos?
Nos Estados Unidos, existe um valor limite que o governo pode tomar emprestado no mercado para honrar seus compromissos. O teto atual é de US$ 16,699 trilhões. Não é permitido ultrapassar esse limite sem aprovação do Congresso.

Histórico da dívida pública dos EUA (Foto: Editoria de Arte/G1)

Por que esse valor é tão alto?
O alto nível de endividamento dos EUA ainda reflete, entre outros fatores, efeitos da "ressaca" da crise financeira de 2008 pela quebra do banco Lehman Brothers. Diante da recessão, os Estados Unidos precisaram de mais dinheiro para estimular a economia.

O país emitiu mais papéis para ter dinheiro para evitar a falência de empresas e bancos em dificuldades, isentar  e reduzir alguns impostos, e pagar benefícios sociais como seguro-desemprego, mais necessários em épocas de demissões e cortes de pessoal.

Antes disso, os EUA já haviam gastado muito dinheiro ao longo dos anos para financiar guerras e ações militares.

O que acontece se esse limite for ultrapassado?
Se o Tesouro avisa que só tem caixa até determinado dia – 17 de outubro, no caso – o Congresso tem de discutir e avaliar se aprova ou não o aumento desse limite. O presidente Barack Obama não pode baixar uma medida e aumentar o teto por conta própria.

O que acontece se o Congresso não aumentar esse teto?
Se os políticos não aprovam um acordo até a data prevista pelo Tesouro – 17 de outubro –, o governo pode ficar sem caixa para pagar juros da dívida e benefícios sociais.

Qual é a situação atual da dívida dos Estados Unidos?
O limite da dívida atual, de US$ 16,699 trilhões, foi alcançado em maio. O secretário do Tesouro, Jack Lew, enviou então uma carta ao Congresso avisando que os “recursos extraordinários” que o governo possuía acabariam em meados de outubro. Na ocasião, cobrou que os legisladores elevassem o teto “o mais breve possível”.

E quando esses “recursos extraordinários” acabarem, o que acontece?
Em outubro, esses “recursos extraordinários” que vêm sendo usados desde maio acabam, o governo não poderá mais tomar empréstimos e poderá deixar de honrar seus compromissos. Por isso, há um medo geral de que os Estados Unidos deem calote se o Congresso não aprovar um limite maior do endividamento do governo.

Se não houver acordo, a partir do dia 17, os benefícios não serão mais pagos, bem como os credores dos Estados Unidos?
Não. O Tesouro ainda tem uma “janela” de cerca de uma semana antes de precisar emitir mais dívida do que já tem. Dessa forma, o Congresso teria mais uns dias pela frente para tentar chegar a um acordo para aumentar a capacidade de endividamento. Essa "janela" acontece porque os Estados Unidos ainda terão receitas vindas da arrecadação de impostos, mas essas não serão suficientes por muito tempo.

Se acabarem todos os recursos que os EUA dispõem, o que pode acontecer com a economia norte-americana?
No início de outubro, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos advertiu que um default (calote) sobre a dívida poderia provocar uma crise pior que a de 2008 e seria catastrófico para a maior economia mundial.

Segundo o órgão, o mercado de crédito poderia congelar, o valor do dólar poderia cair, e as taxas de juros americanas poderiam disparar, levando a uma crise financeira e a uma recessão que poderão lembrar os episódios de 2008, "ou inclusive pior".

Por que o aumento do limite do endividamento não foi aprovado ainda?
Os Estados Unidos correm risco de dar calote porque os republicanos e os democratas não se entendem, já que possuem interesses diferentes.  A ala conservadora dos republicanos (Tea Party) tem sido contra o aumento do teto da dívida desde 2010, quando voltou a ser maioria na Câmara. Eles também são contrários ao projeto de reforma da saúde defendido por Obama e usam isso para “negociar’.  

Se o aumento do limite de endividamento for aprovado, o que acontece?
Se um acordo for aprovado até a 0h desta quinta, e o teto da dívida for elevado, o Tesouro volta a poder emprestar mais dinheiro para honrar seus compromissos.

Como está o andamento das negociações?
Nesta quarta-feira, a apenas algumas horas do fim do prazo, os senadores democratas e republicanos dos Estados Unidos alcançaram um acordo sobre o teto da dívida do país que poderá evitar um calote nas contas públicas.

A discussão do acordo foi retomada na noite de terça-feira (15), após as tentativas da Câmara dos Deputados falharem.  Esse acordo precisa ser aprovado pelos plenários da Câmara e do Senado, além de ser ratificado pelo presidente Barack Obama para entrar em vigor.

Como é o acordo que está em negociação?
O acordo prevê estender a capacidade de empréstimos dos EUA até 7 de fevereiro, embora o Departamento do Tesouro tenha ferramentas para prolongar temporariamente sua capacidade de endividamento para além dessa data, se o Congresso não agir no início do próximo ano.

O projeto também financia agências do governo até 15 de janeiro, pondo fim à paralisação parcial que começou com o novo ano fiscal, em 1º de outubro.

Imagem da sede do governo dos EUA refletida na água é feita do 15º dia de paralisação por falta de acordo. (Foto: Mark Wilson/Getty Images/AFP)Imagem da sede do governo dos EUA refletida na água é feita do 15º dia de paralisação por falta de acordo. (Foto: Mark Wilson/Getty Images/AFP)

O que essa paralisação do governo, que começou no dia 1º de outubro, tem a ver com esse impasse do teto da dívida?
A relação não é tão direta. O governo teve de paralisar suas atividades, fechando parques e dando licença para funcionários, porque o orçamento para o ano deveria ter sido aprovado até o dia 30 de setembro e não foi. Os republicanos da Câmara e os democratas do Senado não chegaram a um acordo e nada foi aprovado.

Sem esse orçamento, o governo federal vinha tendo seus gastos garantidos por permissões temporárias, chamadas de “resoluções continuadas”. A última, aprovada em março, expirou naquele dia, 30 de setembro.

Já o impasse que se discute agora é sobre o aumento da capacidade de endividamento dos Estados Unidos. Se o Congresso não aprovar esse aumento, o Tesouro não vai poder emprestar mais dinheiro e poderá não honrar suas dívidas.

Os republicanos, que comandam a Câmara, se recusam a aprovar uma nova permissão de gastos se não forem atendidos dois pedidos: adiar em um ano a entrada em vigor da lei de assistência à saúde do presidente Obama – o chamado “Obamacare” – e eliminar um imposto criado para financiar a cobertura de pessoas sem plano de saúde.

Quais os reflexos dessa crise para os mercados internacionais?
Primeiramente, haveria uma falta de liquidez mundial. Hoje, os títulos dos Estados Unidos são considerados os de maior segurança para investidores do mundo inteiro, de retorno certo. A maior parte das reservas de moeda internacionais de todos os bancos centrais também é em dólar. 

Países como China, Japão, Bélgica, Suíça entre outros, exportadores de petróleo, estariam entre os mais prejudicados, já que são os maiores credores estrangeiros, ou seja, que possuem mais títulos da dívida pública dos Estados Unidos.

Se o dólar perde muito valor, todos esses países, cheios de títulos dos Estados Unidos e repletos de reservas na moeda norte-americana, seriam diretamente prejudicados.

Além do prejuízo para esses países, haveria turbulência nas bolsas de valores no mundo.

No dia 10 de outubro, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, alertou que o fracasso dos Estados Unidos em elevar o teto da dívida causaria sério dano à economia norte-americana e mundial.

Nesta terça-feira (15), a agência de risco Fitch já colocou a nota dos Estados Unidos em perspectiva negativa, ou seja, sinalizando que pode haver redução, pela falta de acordo em definir um novo teto para a dívida do país. A nota da divida de longo prazo do país é "AAA", a mais alta da escala.

Quais os reflexos de um possível calote para o Brasil?
O Brasil é um grande credor dos Estados Unidos, considerado o terceiro maior. Se os Estados Unidos derem o calote, o Brasil não receberá o rendimento desses títulos, que passarão a valer muito pouco.

Além disso, um calote na maior economia dos Estados Unidos traria para o Brasil, assim como para os outros países, momentos de muita tensão nos mercados financeiros.

Alguns efeitos possíveis são: encarecimento do financiamento para bancos e empresas brasileiras, que precisam captar dinheiro no exterior; valorização do dólar e aumento do preço dos importados, o que geraria inflação; causaria também, consequentemente, a necessidade de se aumentar ainda mais os juros para controlar os preços.

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