26/06/2013 17h56 - Atualizado em 26/06/2013 22h28

Nova tarifa não agrada e moradores voltam às ruas de Uberlândia

Grupo pediu por mais redução na tarifa do transporte coletivo da cidade.
Durante o protesto, quatro pessoas foram presas por vandalismo.

Fernanda ResendeG1 Triângulo Mineiro

Pela terceira vez, milhares de pessoas foram às ruas de Uberlândia nesta quarta-feira (26) para protestar. O principal pedido do grupo foi a redução imediata de R$ 0,25 na passagem do transporte público. Ontem, o prefeito Gilmar Machado anunciou a redução de R$ 0,15 na passagem, mas os manifestantes acharam o valor indevido e, segundo eles, só haverá negociação depois que a tarifa vigente de R$ 2,85 voltar a ser R$ 2,60, como era antes do reajuste feito no início do ano. De acordo com a Polícia Militar, cerca de 2 mil pessoas participaram do ato e quatro foram presas.

A concentração aconteceu na Praça Tubal Vilela, onde grupos escreveram cartazes e pintaram o rosto. Às 18h10, os manifestantes seguiram em passeata pelas avenidas Afonso Pena, João Pinheiro e João Naves de Ávila. A caminhada terminou com uma assembleia na Avenida Rondon Pacheco no cruzamento com Anselmo Alves dos Santos.

Segundo o sargento da Polícia Militar Roberto Emídio, a saída dos manifestantes pelas ruas foi tumultuada, pois não foram avisados oficialmente sobre o horário do início da passeata, nem qual seria o trajeto percorrido. Por isso, quanto começou a caminhada, haviam carros na Rua Duque de Caxias  - que corta a Afonso Pena - que tiveram que parar e esperar a passeata. Alguns comércios também estavam abertos e fecharam as portas. “É previsto em constituição avisar oficialmente quando há manifestações e esclarecer para todas autoridades envolvidas qual é o trajeto. A PM não foi avisada”, disse.

Parte dos manifestantes mudou o trajeto e manifestou em frente ao Terminal Central (Foto: Fernanda Resende/G1)Parte dos manifestantes mudou o trajeto e manifestou em frente ao Terminal Central (Foto: Fernanda Resende/G1)

Manifestantes desviam trajeto
Inicialmente o protesto estava previsto para fazer o mesmo percurso dos dois anteriores, seguindo da Praça em direção à Prefeitura. Mas, por volta das 18h40, cerca de dois mil manifestantes mudaram o trajeto e entraram na Avenida João Pinheiro, em meio a carros, motocicletas e ônibus. Eles ficaram por aproximadamente meia hora em frente ao Terminal Central. Houve um princípio de tumulto por causa do trânsito, mas foi controlado e desviado. O grupo seguiu com a caminhada pela Avenida João Pinheiro e, próximo a Igreja Nossa Senhora Aparecida, alguns vândalos picharam muros de propriedades particulares, veículos e ainda chutaram várias portas de estabelecimentos comerciais.

Em seguida, os manifestantes desceram pela Rua Prata, no Bairro Aparecida, onde uma bomba chegou a ser jogada no meio dos manifestantes. Pessoas em coro pediram por diversas vezes para que o manifesto continuasse de forma pacífica. Eles cantaram: "Sem violência. Sem violência".

A passeata seguiu até a Avenida João Naves de Ávila. No cruzamento com a Avenida Rondon Pacheco, um grupo fechou o trânsito e os carros que seguiam sentido Santa Mônica/Centro tiveram seus trajetos desviados. A caminhada mais uma vez continuou e a finalização aconteceu na Avenida Anselmo Alves dos Santos, onde os grupos ficaram sentados por algum tempo. No local eles fizeram uma assembleia, agradeceram o apoio da população e anunciaram novas assembleias coletivas e uma próxima manifestação, no início de julho.

Sobre os atos de vandalismo, uma das organizadoras da manifestação Paloma Sena informou que estas pessoas são integrantes de outros grupos. “Eles não nos representam, este ato é crime e a polícia tem nosso apoio. Tiramos fotos, filmamos e acompanhamos. Somos contra”, disse.

Segundo o  chefe da assessoria de comunicação da 9ª RPM, capitão Miller França Michalick, durante o ato quatro pessoas foram presas por vandalismo. As ocorrências de destaque ocorreram enquanto o grupo passava pela Rua Prata.

Grupo parou na Avenida Rondon Pacheco durante  passeata (Foto: Fernanda Resende/G1)Grupo parou na Avenida Rondon Pacheco durante passeata (Foto: Fernanda Resende/G1)

Pedidos dos manifestantes
Seguindo os mesmos passos dos protestos anteriores, o povo levou para as ruas cartazes, faixas, apitos e até carro de som. Muitas pessoas utilizaram máscaras e até pintaram os rostos. Além das tarifas, os manifestantes ainda pediram pela revogação do aumento dos vereadores, por concursos públicos para profissionais da saúde e educação e pelo aumento dos salários dos professores municipais.

Manifestantes se reúnem na Praça Tubal Vilela antes da passeata (Foto: Fernanda Resende/G1)Manifestantes se reuniram na Praça Tubal Vilela antes da passeata (Foto: Fernanda Resende/G1)

A estudante Camila Souza é membro do grupo ‘Coletivo Juntos’ e participou do protesto. Para ela, o reajuste feito pela Prefeitura não satisfez os moradores da cidade. “Protocolamos uma carta de reivindicações que está bem clara que a abertura para negociação de outras pautas só vai acontecer após a redução dos R$ 0,25. Em todo lugar do país foi assim e em Uberlândia não vai ser diferente”, disse.

Estudante usa cartaz para desabafar (Foto: Fernanda Resende/G1)Estudante usa cartaz para desabafar
(Foto: Fernanda Resende/G1)

De acordo com uma das organizadoras do manifesto coletivo Flávia Gabriela Franco Mariano, a intenção do grupo é continuar nas ruas até que haja uma negociação por parte do Executivo. “A redução da tarifa anunciada pelo prefeito não nos contentou e nos sentimos desrespeitados com a proposta. Consideramos possível chegar a R$ 2,60 e estamos lutando, pois sem isso não sentamos para conversar”, disse.

Flávia Gabriela ainda acrescentou que a margem de lucro das empresas de transporte tem que ser revista e que o serviço não deve continuar a ser tratado como mercadoria e ponto de monopólio.

O historiador e poeta de Uberlândia Siomar Rodrigues de Sousa considerou as manifestações na cidade e no Brasil como sendo fantásticas. Segundo ele, foram quase 15 anos sem ouvir a voz do povo. Ele tem 73 anos e aplaudiu a energia da juventude que está indo às ruas. "A juventude só precisa direcionar e ser mais objetiva nos protestos. Não adianta aceitar um descontinho de R$ 0,05 na passagem numa época que o governo destina R$ 30 bilhões para fazer estádio", salientou. 

Cerca de 120 agentes da Secretaria de Trânsito e Transporte (Settran) e mais centenas de policiais militares deram apoio no ato. O manifesto foi organizado novamente pelo Facebook.

Redução x Insatisfação
Como em outras cidades do país, em Uberlândia também houve redução na tarifa do transporte público. O prefeito da cidade, Gilmar Machado, anunciou na tarde de terça-feira (25), durante coletiva com a imprensa, a redução de R$ 0,15 na passagem de ônibus. O novo valor passa a valer a partir de 1º de julho. Atualmente os moradores pagam R$ 2,85.

Porta de comércio foi pichada na Avenida João Pinheiro (Foto: Fernanda Resende/G1)Porta de comércio foi pichada na Avenida João Pinheiro (Foto: Fernanda Resende/G1)

A decisão de diminuir a passagem de ônibus foi tomada por Gilmar Machado após consulta à sociedade e às empresas concessionárias do Município. Segundo ele, para incentivar a modernização do sistema e aumentar a segurança nos terminais, ônibus e estações, a tarifa de R$ 2,70 será aplicada apenas na utilização do Cartão do SIT (cartão eletrônico exclusivo para o transporte público municipal), que atende a classe estudantil, trabalhadores e demais usuários. Aqueles que optarem pelo pagamento feito em dinheiro, a tarifa aplicada será de R$ 2,80, sendo R$ 0,05 de redução da tarifa vigente.

A redução da tarifa foi uma das pautas discutidas pelo grupo de organizadores da manifestação. Eles se reuniram em assembleia coletiva na Praça Tubal Vilela no mesmo dia do anúncio do Prefeito . De acordo com um dos integrantes do grupo Ricardo Takayuki, os participantes da assembleia não concordaram com a nova tarifa estipulada por Gilmar Machado. O grupo acredita que o valor possa reduzir ainda mais. Não haverá nenhum tipo de negociação enquanto a tarifa não chegar a R$2,60.

A assessoria de comunicação da Prefeitura Municipal informou ao G1 que mesmo sabendo do posicionamento dos manifestantes em não querer conversar até que haja uma maior redução na tarifa, o Prefeito está aberto ao diálogo.  A assessoria disse também que caso os governos estadual e federal anunciem novas medidas que possam acarretar em maior redução dos valores, as medidas serão executadas de imediato em Uberlândia.

MP e os  valores nas passagens em Uberlândia
Por telefone, o promotor Fernando Martins informou ao G1 nesta quarta-feira (26) que irá requisitar à Prefeitura os documentos relacionados à redução da tarifa. A partir daí, o promotor de Defesa do Consumidor afirmou que deverá fazer uma recomendação para que apenas um valor seja praticado e que, se isso não for cumprido, entrará com uma ação civil pública contra o Município, já que não pode fixar dois preços (R$ 2,70 e R$ 2,80) para a mesma prestação de serviço.

 

tópicos:
veja também