Economia

BC atua, mas dólar sobe 1,63% e fecha a R$ 2,23; Bolsa cai 0,32% e tem pior semestre desde 2008

No último dia útil do mês, a Ptax, taxa média do dólar, subiu 1,42%

SÃO PAULO – Mesmo com duas intervenções do Banco Central injetando cerca de US$ 4 bilhões de dólares no mercado futuro de câmbio, o dólar comercial fechou em alta expressiva frente ao real. A moeda americana fechou com alta de 1,63%, sendo negociada a R$ 2,230 na compra e R$ 2,232 na venda. A divisa voltou a bater a máxima cotação do dia durante tarde, já após as intervenções do BC, atingindo o patamar de R$ 2,235 na venda. Na semana, o dólar comercial se desvalorizou 0,53%, enquanto no mês a alta da divisa frente ao real foi de 4,15%. No semestre, a alta da moeda americana é de 9,25%. É a maior variação percentual semestral do dólar desde o segundo semestre de 2011.

Na Bovespa, após três dias de alta, o principal índice, o Ibovespa, se desvalorizou. A queda foi de 0,32% aos 47.457 pontos e volume negociado de R$ 8,9 bilhões. No semestre, o Ibovespa perdeu 22,1%, enquanto no mês de junho a queda foi de 11,3%, segundo cálculo feito para o GLOBO por Dalton Vieira, analista gráfico, parceiro do Investmania. Foi o pior semestre do Ibovespa desde a segunda metade de 2008, quando o índice encerrou o período com desvalorização de 42,25%, auge da crise financeira internacional.

— O crescimento fraco da economia do país, a desilusão dos empresários frente ao governo, a perspectiva negativa para o rating do Brasil dada pela Standard & Poor’s. Tudo isso pesou sobre a Bovespa neste primeiro semestre. Agora, será preciso olhar os balanços do segundo trimestre, acompanhar a trajetória da Selic, a taxa básica de juro, que deve subir na próxima reunião do Copom, para fazer previsões para a segunda metade do ano. Há uma situação nebulosa pela frente, com o governo tendo que cortar gastos e investir em setores como transporte, saúde e educação, como se viu nas manifestações pelas ruas — diz Marcio Cardoso, sócio-diretor da Easynvest Título Corretora.

A maior queda do Ibovespa no dia foi dos papéis ON da MMX Miner, empresa do Grupo EBX, com baixa de 10,91% a R$ 1,47. Em seguida, na segunda maior baixa, vieram os papéis ON da LLX, do mesmo grupo, com perda de 8,33% a R$ 0,99. Analistas dizem que apesar do anúncio feito pelas empresas do grupo de que estão negociando ativos, não há nada de concreto até agora. Com isso, as ações voltarm a ser penalizadas. A maior alta foi das ações ON da JBS, com valorização de 4,52% a R$ 6,47.

Dólar já abriu sexta em alta e acelerou mesmo com leilões do BC

O dólar já abriu o dia em alta. Depois das 10h, a divisa bateu em R$ 2,28, a máxima do dia até então, quando BC interveio pela primeira vez. O leilão aconteceu entre 10h35m e 10h45m, e foram vendidos 40 mil contratos de swap cambial tradicional, o equivalente a US$ 1,9 bilhão. Como o dólar continuou subindo mais de 1%, cotado a R$ 2,223 na venda, o BC anunciou o segundo leilão entre 11h25m e 11h35m, ofertando a mesma quantia em contratos. A operação freou um pouco a valorização da moeda americana, mas teve efeito limitado. No início da tarde, o dólar retomou a trajetória de alta até o fechamento.

O leilão de swap cambial tradicional corresponde a uma venda de dólares no mercado futuro, que influencia a formação do preço da divisa no mercado à vista.

— O BC fez os leilões para evitar que a moeda subisse muito e saísse do controle. Mas, mesmo com essas intervenções, a tendência da moeda americana é de alta por aqui e no mundo — avalia Sidnei Nehme, sócio da corretora NGO.

Com isso, diz ele, quem estava vendido no mercado futuro (ou seja apostando na queda da moeda americana) acaba se desfazendo dessa posição, já que a tendência do dólar é de alta. No mercado futuro, o dólar para agosto, que passa a ser a referência do mercado, teve alta de 1,08% a R$ 2,236. Para Nehme, até o fim do ano, a moeda americana deve chegar ao patamar de R$ 2,30 frente ao real no câmbio comercial.

Desde o dia 31 de maio, foram quatorze leilões desse tipo realizados pelo BC, alguns com rolagens de contratos que estavam vencendo, para tentar deter a escalada da moeda americana frente ao real. Essas operações ofertaram cerca de US$ 27 bilhões ao mercado. A principal preocupação do BC é a inflação, já que o dólar em alta torna matérias-primas e produtos importados mais caros.

Nehme avalia que este último dia útil de junho foi mais complicado por ser fim de semestre. Isso acirrou a briga entre comprados (que ganham com a alta do dólar) e vendidos (que ganham com a queda do dólar) na BM&F para a formação da Ptax, a taxa média do dólar, no fim de mês. A Ptax é utilizada para a liquidação e rolagem de contratos, além de definir a taxa de câmbio que as companhias vão utilizar nos balanços do primeiro semestre para informar dívidas e receitas em dólar. A Ptax calculada pelo Banco Central acabou subindo 1,42% e ficou em R$ 2,215.

— A briga foi pesada. Enquanto os bancos estavam vendidos em US$ 23,8 bilhões, os fundos de investimentos nacionais estavam comprados em US$ 22,4 bilhões e os investidores estrangeiros comprados em mais US$ 4,2 bilhões — diz Nehme.

Para Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso, o movimento de alta do dólar, mesmo com intervenções do BC, tem um componente a mais nesta sexta. Para ele, certamente já houve zeragem de posições de investidores vendidos em dólar na BM&F, que passaram a apostar na alta do dólar.

— Também pode ter havido maior procura de hedge (proteção) de empresas com dívidas ou despesas em dólar, já que a tendência da divisa é de alta, com mostrou a Ptax, que subiu 1,42%. O movimento de pressão sobre o dólar foi atípico nesta sexta, já que a moeda vinha se desvalorizando nos últimos dias e caiu de R$ 2,25 para R$ 2,18. Nas últimas intervenções do BC, o que se viu foi uma tentativa de dar liquidez ao mercado. Hoje, o objetivo foi evitar que o dólar escapasse do patamar de R$ 2,20 — diz Galhardo.

No pregão brasileiro, os investidores também ajustaram posições em suas carteiras, com o fim do semestre e um desempenho pífio da Bolsa nos primeiros seis meses do ano. Entre as ações mais negociadas do pregão, Vale PNA se valorizou 1,31% a R$ 27,05, o que limitou as perdas do Ibovespa. Já Petrobras PN recuou 1,22% a R$ 16,18; OGX Petróleo perdeu 5,95% a R$ 0,79; Itaú Unibanco subiu 1,26% a R$ 28,77 e Bradesco PN teve alta de 1,62% a R$ 28,80.

No mercado de juros futuros, as taxas subiram acompanhando o movimento de alta do dólar. O contrato com vencimento em janeiro de 2014 tinha taxa de 8,93% para 8,87; o papel para janeiro de 2015 teve taxa de 9,89% frente aos 9,87% de ontem e o contrato para janeiro de 2017 teve elevação de 10,77% para 11,02%.

No exterior, nesta sexta, foram divulgados dados mais fracos da indústria americana, com impacto negativo sobre os pregões. O índice do Instituto de Gerência e Oferta (ISM, na sigla em inglês) sobre a atividade industrial na região de Chicago caiu para 51,6 pontos em junho, de 58,7 pontos em maio. Foi a maior queda em quatro anos. Analistas esperavam que o indicador apresentasse declínio para 55,5 pontos.

Nos Estados Unidos, o S&P 500 caiu 0,43%, o Dow Jones se desvalorizou 0,76% e o Nasdaq ganhou 0,04%. Na Europa, as principais Bolsas fecharam em queda. O índice Dax, da Bolsa de Frankfurt, caiu 0,40%; o Cac, de Paris, se desvalorizou 0,62% e o FTSE, da Bolsa de Londres, recuou 0,45%.

Nesta sexta, novamente membros do Federal Reserve (Fed) voltaram a criticar a reação exagerada dos mercados à sinalização do fim da redução dos estímulos à economia americana. Nesta sexta, o diretor do Fed, Jeremy Stein disse que a postura do banco central americano ficou praticamente inalterada. Houve, segundo ele, uma mudança na comunicação com o mercado, com o Fed explicando suas metas para o programa mensal de compra de bônus. O presidente do Fed de Richmond, Jeffrey Lacker, afirmou que é provável que haja mais volatilidade nos mercados financeiros à medida que são divulgadas mais informações sobre a redução do programa que todos os meses injeta US$ 85 bilhões na economia dos EUA através da compra de bônus. Segundo Lacker, as quedas das ações e as altas dos juros dos Treasuries após a reunião da semana passada “não deveriam ter surpreendido tanto”.