25/10/2013 11h22 - Atualizado em 25/10/2013 13h08

Déficit da conta externa sobe e atinge marca inédita de US$ 60 bilhões

Valor já supera todo ano passado e deve atingir US$ 75 bi no ano, diz BC.
Ao mesmo tempo, investimento direto cai para US$ 43 bi na parcial de 2013.

Alexandro MartelloDo G1, em Brasília

O déficit em transações correntes, que é formado pela balança comercial, pelos serviços e pelas rendas, um dos principais indicadores das contas externas brasileiras, atingiu a marca inédita US$ 60,4 bilhões de janeiro a setembro deste ano.

Até o momento, a barreira dos US$ 60 bilhões nunca havia sido atingida. Com isso, o déficit parcial deste ano já superou o resultado negativo registrado em todo ano de 2012 (-US$ 54,23 bilhões, recorde histórico para um ano fechado) e teve alta de 77% sobre os nove primeiros meses do ano passado – déficit de US$ 34,13 bilhões.

Para todo este ano, o Banco Central manteve em US$ 75 bilhões sua estimativa para o resultado negativo da conta de transações correntes. O mercado financeiro, porém, acredita em um déficit maior neste ano: de US$ 79 bilhões.

Proporção com o PIB
Na proporção com o PIB, os números também mostram forte deterioração do resultado em transações correntes. Nos nove primeiros meses deste ano, somou 3,63% do PIB, contra 2,03% do PIB em igual período do ano passado.

Ou seja, o déficit quase dobrou nesta comparação. Para todo este ano, a expectativa do Banco Central é que o déficit das contas externas some 3,35% do PIB.

Até o momento, o maior déficit externo já registrado aconteceu em 2012, no valor de US$ 54 bilhões. Na proporção com o PIB, será o pior resultado desde 2001 (4,19% do PIB), ou seja, em mais de dez anos.

"Os déficits em CC como porcentagem do PIB estão crescendo, mas com estrutura de financiamento muito distinta daquela que ocorreu na decada de 90. Hoje, os empréstimos externos deixaram de ser a principal fonte de financiamento e o investimento estrangeiro direto cobre boa parte do financiamento do déficit externo", declarou Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC.

Balança comercial piora
A piora no resultado das contas externas neste ano está relacionada, principalmente, com o fraco desempenho da balança comercial brasileira – que acumulou um déficit de US$ 1,6 bilhão nos nove primeiros meses deste. Em igual período do ano passado, foi computado um superávit de US$ 15,7 bilhões. Houve, deste modo, uma reversão de US$ 17,3 bilhões no saldo comercial de janeiro a setembro deste ano.

Os outros componentes das contas externas, entretanto, também mostraram deterioração de janeiro a setembro de 2013. O resultado negativo da conta de serviços, por exemplo, somou US$ 34,8 bilhões, o que representa um aumento frente ao déficit de US$ 29,4 bilhões registrado em igual período de 2012. Nas rendas, o déficit somou US$ 26,2 bilhões no acumulado de 2013 – com alta frente a igual período do ano passado (-US$ 22,5 bilhões).

Investimentos estrangeiros
A autoridade monetária informou que os investimentos estrangeiros diretos somaram US$ 43,78 bilhões de janeiro a setembro deste ano, com queda frente ao mesmo período do ano passado (US$ 47,5 bilhões). A expectativa do Banco Central para este ano é do ingresso de US$ 60 bilhões em investimento direto. Com isso, o BC espera queda frente ao patamar registrado no ano passado (US$ 65,2 bilhões).

Financiamento do déficit externo
Com isso, o BC confirmou que o resultado negativo da conta corrente não foi integralmente "financiado" pela entrada de investimentos produtivos na economia brasileira até agosto e disse que espera que o mesmo fenômeno aconteça em 2013 fechado – algo que não acontece desde 2001.

Quando o déficit não é "coberto" pelos investimentos estrangeiros, o país tem de se apoiar em outros fluxos, como ingresso de recursos para aplicações financeiras, ou empréstimos buscados no exterior, para fechar as contas.

Analistas alertam, entretanto, que em um cenário de crescimento menor do PIB e menor disponibilidade de recursos nos mercados (com a sinalização do fim das medidas de estímulo nos Estados Unidos), e com uma confiança menor na economia brasileira, a atratividade do Brasil também é mais baixa – o que pode significar problemas no financiamento do déficit das contas externas.

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