15/10/2013 08h11 - Atualizado em 15/10/2013 08h11

Fabricantes da moda 'retrô' de feiras paulistanas crescem com lojas de rua

Vestidinhos com estampas de bolinhas saem dos estandes para as vitrines.
'Minha Mãe Que Fez' abre 4 lojas e faturamento chega a R$ 1,2 milhão.

Gabriela GasparinDo G1, em São Paulo

A empresária Eunice Navarro, criou a 'Minha Mãe Que Fez' inspirada nas roupas da filha (Foto: Gabriela Gasparin/G1) Eunice Navarro criou a 'Minha Mãe Que Fez' inspirada nas roupas da filha (Foto: Gabriela Gasparin/G1)

Vestidos, saias e blusas com lacinhos, estampados com bolinhas e bichinhos. São modelos clássicos que costumam ser “vasculhados” pelo público adepto da moda “retrô” em feiras semanais descoladas na capital paulista e estão ganhando cada vez mais a vitrine de lojas de rua na cidade. Pequenos empresários que iniciaram as vendas nos estandes investem em lojas próprias para ampliar o público e aumentar as vendas – mas mantêm as peças “vintage” e os preços mais acessíveis das feiras.

Quem se veste assim é minha filha mais velha (...). As amigas viam e perguntavam quem tinha feito, e ela dizia ‘minha mãe que fez"
Eunice de Menezes Navarro, empresária

“Lojas fixas é mais fácil, vendem mais porque ficam a semana inteira aberta”, diz Eunice de Menezes Navarro, de 52 anos, dona da “Minha Mãe Que Fez”, que tem como carro-chefe blusas, saias e vestidos com cores vibrantes, com estampas “fofas” como de bolinhas ou bichinhos. Os preços dos modelos variam de R$ 35 a R$ 95.

As primeiras peças começaram a ser vendidas há cerca de 7 anos, quando a marca foi criada, em uma feira que acontece aos domingos no Shopping Center 3, na Avenida Paulista. Depois, a empresária foi ampliando a presença em outras feiras voltadas ao público “moderninho” paulistano – uma delas aos sábados, na Praça Benedito Calixto, em Pinheiros.

Recentemente, contudo, Eunice resolveu redirecionar o negócio e abriu mão dos estandes para vender apenas nas lojas fixas e no atacado.

A quarta loja está sendo inaugurada perto da estação de metrô Ana Rosa, na Vila Mariana, um ponto considerado estratégico pelo movimento. As três outras lojas estão espalhadas pelo centro e zona Sul da cidade (na Vila Mariana, onde fica a confecção, em Higienópolis, e uma terceira aberta há cerca de um ano em parceria com outra marca na Rua Augusta).

De acordo com Eunice, lojas fixas atraem consumidores que não iriam às feiras (Foto: Gabriela Gasparin/G1)De acordo com Eunice, lojas atraem consumidor
que não iriam à feira (Foto: Gabriela Gasparin/G1)

“O público que gosta vai te procurar em qualquer lugar (...). Na loja, hoje, quem tá passando e gosta, também compra”, diz a empresária.

A proposta da marca é vender produtos diferentes, a um preço acessível. “Quem gosta dessa moda é um público que também está trabalhando, não é 'patricinha' (...). A meninada que gosta dessa moda é gente que batalha”, disse.

Eunice avalia que o desaquecimento do consumo neste ano no país refletiu um pouco nas vendas, mas diz que o crescimento médio anual da marca tem sido de 20%, com faturamento médio de aproximadamente R$ 1,2 milhão.

A empresária trabalha com confecção há 26 anos, mas criou a "Minha Mãe Que Fez" por influência da filha. “Quem se veste assim é minha filha mais velha”, explica. Ela contou que fazia peças nesse estilo [com bolinhas e lacinhos] para a filha usar. “As amigas viam e perguntavam quem tinha feito, e ela dizia ‘minha mãe que fez’”, revela, explicando a origem do nome.

A empresa é praticamente familiar. Eunice conta com a ajuda dos filhos e de costureiras para a produção (algumas trabalham na confecção e alguns serviços são terceirizados).

Kelly Teixeira disse que se inspirou nas roupas de sua avó (Foto: Reprodução/Facebook/Bendita Maria)Kelly Teixeira disse que se inspirou nas roupas da
avó (Foto: Reprodução/Facebook/Bendita Maria)

Roupa da vovó
Inspiradas no vestuário da vovó, as peças estampadas da Bendita Maria, da empresária Kelly Cristina Teixeira, de 33 anos, também já podem ser encontradas em lojas físicas.

Formada em negócios da moda em 2005, ela criou a marca em sociedade com uma amiga para que pudessem vender os modelos em locais alternativos. “Eu ficava admirando as roupas da minha avó. Ela só usava saia com camisa e muito vestido, com estampas diversas, todos com o mesmo corte godê. Como ela era magra e alta ficava muito bom para ela, todos modelos eram comportados, porém fofos”, diz Kelly. “Daí surgiu a inspiração de trabalhar com esse tipo de corte, claro que adaptei esses modelos com uma linguagem mais moderna”, explica.

A marca também foca em modelos com preços mais acessíveis, que variam de R$ 39,90 a R$ 150.

Passado um tempo, ela passou a tocar o negócio sozinha. Chegou conciliar a confecção com outro emprego até 2008, quando pediu demissão e passou a se dedicar à marca em tempo integral.  Ela mesma desenha os modelos e tem uma pessoa que conclui a modelagem e produz. As costureiras são terceirizadas.

As vendas também sempre aconteceram nas feiras pela capital paulista, até que, há cerca de um ano, abriu a primeira loja na Rua Augusta (onde divide o espaço justamente com a "Minha Mãe Que Fez"). Há cerca de cinco meses, abriu a segunda loja, essa somente da Bendita Maria.

“A expansão foi necessária para o crescimento da marca, pois não tínhamos espaço suficiente para atender os clientes e manter um estoque para abastecer todos os lugares”, diz. Segundo ela, a loja física atrai o público que mora e trabalha na região. Segundo Kelly, as feiras atraem muitos turistas e pessoas de fora. “Agora a gente fidelizou o cliente.”

De acordo com Kelly, as vendas das lojas físicas já somam 60% do total. “Futuramente a gente quer abrir outra loja, e continuar nas feiras, mas a ideia é crescer, tem muita cliente que pede para abrir no Rio, quem sabe?”, diz.

Elizabete (esq.) e Raquel são donas da Donna Giulia (Foto: Divulgação/Donna Giulia)Elizabete (esq.) e Raquel são donas da Donna
Giulia (Foto: Divulgação/Donna Giulia)

Sapatos da infância
E foi exatamente da mesma forma – pelas feiras – que a empresária Elizabete Mitsue Pereira criou, há quatro anos, a marca de sapatos Donna Giulia, em sociedade com a amiga Raquel dos Santos Silva, ambas de 34 anos.

As vendas começaram nas feiras, mas há um ano e meio foi aberta uma loja física na Rua Augusta. “A loja auxilia no crescimento e divulgação. A região onde a loja está situada, além do grande público diário que circula. Há também a tramitação de muitas pessoas de outras cidades, estados e até países, e isso está levando a 'Donna Giulia' até outros continentes", revela Elizabete.

Elizabete, que é enfermeira, disse que na infância, no interior de Minas Gerais, tinha uma amiga de família de sapateiros e encomendava modelos pensados por ela para a amiga fazer. “Já em São Paulo, há quatro anos, circulando em uma feira de produtos alternativos, percebi que os frequentadores e os produtos ofertados tinham tudo a ver com aqueles sapatos que criávamos na adolescência”, revela.

A empresária disse que convidou Raquel, que na época estava desempregada, para fazer uma parceria na criação e logo da empresa. “Nossos modelos se opõem à ‘padronização’ e ‘uniformização’ (...), priorizando o contemporâneo e o processo artesanal, têm como premissa o conforto e qualidade”, relata.  Os pares custam, em média, R$ 150. 

Os modelos são fabricados no interior de Minas Gerais em uma pequena fábrica familiar. Segundo a empresária, o faturamento anual está em aproximadamente R$ 360 mil e, atualmente, a loja já representa 70% das vendas.

“As feiras foram o início de tudo, foi onde o público consagrou nossos modelos, aprovou a ideia e estilo (...). Quando pensamos na loja, queríamos um lugar ‘nosso’, meu, da minha sócia e das nossas clientes. Aconchegante e que pudéssemos recebê-las de maneira acolhedora e personalizada”, sugere.

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Modelos da Donna Giulia foram inspirados em ideias da infância de Elizabete (Foto: Divulgação/Donna Giulia)Modelos da Donna Giulia foram inspirados em ideias da infância (Foto: Divulgação/Donna Giulia)

 

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