Economia

Petrobras sobe quase 10% e faz Ibovespa fechar com ganho de 1,7%; dólar encerrou a R$ 2,18

Mercado avaliou positivamente proposta de política de preços da empresa para corrigir defasagens com exterior

SÃO PAULO - As ações da Petrobras apresentaram as maiores altas da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), nesta segunda, e ajudaram sustentar a valorização do Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro. Após divulgar resultados ruins do terceiro trimestre na sexta-feira, a empresa sinalizou que estuda uma política de preços para que se tenha maior previsibilidade do alinhamento dos preços domésticos do diesel e da gasolina aos preços internacionais. A defasagem desses preços foi determinante para o resultado negativo no terceiro trimestre. A notícia foi recebida com entusiasmo pelos investidores.

Os papéis ordinários já abriram o pregão com valorização de 4,62%, e fecharam com ganho de 9,83% a R$ 19,00 a maior alta do Ibovespa. As ações preferenciais (PN), que iniciaram o dia em alta de 5,62%, subiram 7,57% a R$ 19,89, a segunda maior valorização do pregão. São as máximas atingidas em mais de cinco meses. Na Bolsa de Nova York, os American Depositary Receipts (ADRs), títulos equivalentes a ações da Petrobras, subiam mais de 9% cotados a US$ 17,41.

Com a ajuda da Petrobras, o Ibovespa voltou aos patamar dos 55 mil pontos. O índice encerrou a sessão com alta de 1,70% aos 55.073 pontos e volume negociado de R$ 6,7 bilhões.

Também impressionou, segundo analistas, o volume financeiro movimentado pelas ações da Petrobras. Os papéis ON da petrolífera giraram R$ 492,8 milhões, enquanto as ações PN movimentaram R$ 1,4 bilhão.

- O mercado gostou da informação de que a empresa estuda uma política que alinhe os preços internacionais do petróleo com o mercado doméstico. Mas é preciso lembrar que a metodologia deverá ser aprovada pelo Conselho de Administração, até o dia 22, e o ministro Guido Mantega, que é presidente do conselho, pode vetá-la - analisa Luiz Roberto Monteiro, operador da corretora Renascença.

O governo já admitiu que o preço da gasolina está defasado, mas o reajuste dos combustíveis vem sendo adiado para evitar pressões inflacionárias. A nova política de preços prevê reajustes automáticos e periódicos de combustíveis.

O diretor financeiro e de Relações com Investidores da Petrobras, Almir Barbassa, disse nesta segunda que a política de preços já foi aprovada pela diretoria da Petrobras e que os parâmetros ainda podem ser ajustados. Ele afirmou que trabalha para estar com a nova política implementada inteiramente até a data anunciada, 22 de novembro. Mas analistas questionam o fato de a metodologia ter que ser aprovada pelo Conselho Administrativo da Petrobras.

Segundo Luiz Roberto Monteiro, a informação da criação de uma política de preços para a Petrobras se sobrepôs ao resultado da companhia no terceiro trimestre, que foi considerado péssimo e abaixo do esperado pelo mercado. Analistas esperavam um número mais próximo de R$ 5 bilhões de lucro.

- Os números foram horrorosos - diz Monteiro.

Lucro da Petrobras caiu 39% no terceiro trimestre

Na sexta-feira, a Petrobras informou que registrou queda de 45% no lucro líquido do terceiro trimestre, para R$ 3,39 bilhões, na comparação com o segundo trimestre. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a queda foi de 39%. A companhia afirmou que a queda nos resultados tem relação com a defasagem nos preços de derivados no Brasil, refletindo maiores cotações internacionais e desvalorização cambial. A importação de derivados pela Petrobras cresceu 90% no trimestre.

Mas a companhia divulgou que a diretoria executiva preparou uma metodologia de precificação para que se tenha maior previsibilidade do alinhamento dos preços domésticos do diesel e da gasolina aos preços internacionais. Esta metodologia já foi apresentada ao conselho de administração e o dia 22 de novembro foi o prazo estabelecido para que ela fosse aprovada.

Em relatório, o banco BTG Pactual afirma que "o governo brasileiro parece ter finalmente percebido o senso de urgência que deve ser dado aos problemas da Petrobras antes que eles se tornem ingerenciáveis". Com a nova política de preçõs, o banco retirou a perspectiva negativa para as ações da Petrobras em novembro, mas manteve a recomendação 'neutra', esperando definições para que seja implantada a nova política de preços.

O analista do Bank of America (BofA) Merrill Lynch, Frank McGann, avalia, em relatório, que a discussão de um mecanismo para aumentar a convergência entre os preços internacionais e nacionais dos combustíveis aumenta a transparência de resultados da Petrobras e diminui a percepção de risco em relação à empresa.

- Acreditamos que se a metodologia de preços for implementada, isso será positivo para a companhia. Porém, o resultado veio bem abaixo do esperado pelo mercado. O grande vilão foi o maior custo com aquisição de petróleo importado, decorrente da apreciação do dólar frente ao real, associado à elevação do preço do produto no exterior. A maior participação de derivados importados no mix de vendas da empresa determinou o aumento do resultado negativo. E o endividamento é outro ponto que preocupa - diz o estrategista William Alves, da XP Investimento em relatório divulgado nesta manhã.

No início deste mês, a agência de classificação de risco Moody's rebaixou os títulos da Petrobras – e os colocou em perspectiva "negativa". Entre as razões que levaram ao rebaixamento, estão o alto endividamento e problemas de caixa. De acordo com a Moody's, a relação dívida-lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortização (o resultado operacional da companhia) é de 3,8 vezes. Na prática, isso significa que as dívidas da petrolífera são quase quatro vezes mais altas que a sua capacidade de gerar caixa. É o indicador mais alto entre as companhias de petróleo, segundo a Moody's. A agência, porém, avaliou que a Petrobras tem grandes reservas de petróleo, um significativo potencial de crescimento e "apoio implícito" do governo.

Entre as demais ações mais negociadas do Ibovespa, Vale PNA subiu 1,24% a R$ 32,65; OGX Petróleo ON terminou estável a R$ 0,29, depois de cair mais de 17%, com o mercado apostando que a empresa entre com pedido de recuperação judicial esta semana; Itaú Unibanco PN teve alta de 1,18% a R$ 33,39 e Bradesco PN se desvalorizou 0,06% a R$ 32,20.

BC fez dois leilões de dólares

No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em queda na sessão desta segunda-feira, após duas intervenções no mercado de câmbio feitas pelo Banco Central. A moeda americana se desvalorizou 0,41% sendo negociada a R$ 2,178 na compra e R$ 2,180 na venda. Na máxima do dia, a moeda americana foi negociada a R$ 2,190 (alta de 0,04%) e na mínima bateu em R$ 2,180 (queda de 0,41%). No exterior, o dólar se valorizou frente a outras divisas.

O Banco Central realizou nesta segunda-feira dois leilões de swap cambial. O primeiro aconteceu das 9h30 às 9h40, e ofereceu 10 mil contratos que totalizaram US$ 496,2 milhões. Todo o lote foi vendido. Esse leilão faz parte do programa de intervenções no mercado para reduzir a volatilidade, anunciado em agosto. Já o segundo leilão aconteceu entre 14h30m e 14h40m, com oferta de 20 mil contratos totalizando US$ 989,5 milhões. Nesse leilão, todos os papéis também foram negociados.

Este foi o quarto leilão de rolagem de contratos que vencem no dia 1º de novembro. Três foram realizados na semana passada. Haverá mais dois: um amanhã e outro na quarta-feira. Mas o mercado calcula que o BC só rolará 60% dos US$ 8,8 bilhões em papéis que vão vencer.

Além de acompanhar a atuação do BC, os investidores também já estão na expectativa sobre a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que se reúne na próxima quarta-feira para decidir a taxa de juro e se inicia a redução dos estímulos à economia. Analistas acreditam que com o desemprego ainda acima de 7%, o Fed deve adiar para 2014 a redução das compras de títulos, que todo mês injetam US$ 85 bilhões na economia americana.

Para Felipe Salto, economista da consultoria Tendências, cresceu a percepção de que a política de estímulo à economia, com juro baixo e alta liquidez, deve continuar pelo menos até meados de 2014. A nova presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, que assumirá no início do próximo ano, é favorável à atual política monetária praticada pelo banco central americano. Principalmente enquanto o mercado de trabalho americano não mostrar recuperação sustentável.

- A reversão deste cenário só deverá acontecer em 2014. Enquanto isso, o dólar deve continuar no patamar de R$ 2,20, ou até abaixo disso aqui no Brasil, já que é a decisão de política monetária nos EUA que está influenciando a cotação - diz o economista.

A Tendências já revisou de R$ 2,30 para R$ 2,20 o dólar no fim de 2013. Para 2014, a nova projeção foi estimada em R$ 2,45 frente aos R$ 2,50 anteriores.

Salto também lembra que a atuação do Banco Central com os leilões diários de dólares no mercado futuro também teve influência para que a moeda americana descesse ao atual patamar.

- Os leilões do BC foram uma decisão acertada. Agora, cabe uma reavaliação do cenário daqui para a frente e se a intensidade desses leilões deve continuar a mesma ou se é preciso tirar o pé do acelerador - diz o economista da Tendências.

Taxa de juros futuros têm leve alta

No mercado de juros futuros, a maior parte dos contratos de Depósitos Interfinanceiros (DIs) começou o dia em queda, seguindo a desvalorização do dólar frente ao real. O Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira pelo Banco Central, também mostrou redução da expectativa de inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ao final de 2014, passando de 5,94% para 5,92% ao ano. Para 2013 a expectativa se manteve estável em 5,83%. A projeção para a Selic, a taxa básica de juros, este ano ficou em 10% e para 2014 em 10,25%, mesmo patamar da semana passada. Mesmo assim, as taxas passaram por um ajuste técnico e terminaram o dia com leve alta.

A taxa do contrato de DI com vencimento em janeiro de 2017 subiu de 11,28% para 11,30%. Já a taxa do contrato para janeiro de 2015 subiu de 10,47% para 10,49%, enquanto o DI para janeiro de 2014 saltou de 9,57% para 9,58%.