Economia

Escolas em horário integral custam até R$ 800 a mais por mês

Nova lei do trabalho doméstico faz procura por serviço crescer no Rio

Patrícia Sauer apostou no horário integral para educar a filha mais velha, Lis, de 13 anos, e Sophia, de 8
Foto: Márcio Alves
Patrícia Sauer apostou no horário integral para educar a filha mais velha, Lis, de 13 anos, e Sophia, de 8 Foto: Márcio Alves

RIO - A regulamentação da nova lei do trabalho doméstico voltará a ser discutida no Congresso: o plenário do Senado deve votar em julho o texto, que depois segue para apreciação da Câmara. Os novos direitos dos empregados elevaram o custo para as famílias e, para driblar o problema, muitas já começam a mudar seus hábitos e rotinas, migrando para escolas e creches em horário integral.

No Rio, o salário de uma babá que trabalha 44 horas semanais — oito diárias de segunda a sexta-feira, e quatro horas no sábado de manhã — é de, em média, R$ 1.400, calcula a advogada trabalhista Claudia Brum Mothé, do escritório Siqueira Castro Advogados. Com as obrigações a serem pagas pelos empregadores (INSS, vale-transporte e FGTS), esse custo chega a R$ 1.800. Se incluídas estimativas quanto ao que vai ser gasto com décimo terceiro salário, férias e aviso prévio na hipótese de dispensa, R$ 2.200. E ainda é preciso lembrar das horas extras: por uma hora extra diária, o custo excedente é de cerca de R$ 200 por mês.

O preço das mensalidades em colégios e creches no Rio que oferecem o horário integral também é salgado. Mas, nos estabelecimentos ouvidos pelo GLOBO, a diferença entre o período regular e o de horário estendido chega até cerca de R$ 800, inferior ao da contratação de uma pessoa a mais em casa. Mas não só o lado financeiro pesa na escolha dos pais. Muitos acreditam que, na escola, seus filhos estarão mais seguros e bem assistidos.

— Mesmo antes de engravidar, eu já era contra deixar os filhos com a babá. O estímulo dado por elas é menor. Uma educadora impõe melhor limites e incentiva a criatividade — defende Patrícia Sauer, que trabalha cerca de 12 horas por dia, assim como o marido, e matriculou as duas filhas, Lis e Sophia, desde bebês, no horário integral do CEL. Hoje com 13 anos, Lis já está fora da faixa etária atendida pelo integral.

Patricia garante que elas adoram, não querem sair da escola e que, na ponta do lápis, até economiza, porque os alunos do integral têm maior quantidade de aulas de inglês e fazem atividades físicas como natação, judô ou ginástica rítmica, o que dispensa o deslocamento e a contratação de atividades externas em outras instituições.

May Chagas, diretora do Centro Educacional da Lagoa (CEL), onde as meninas estudam, conta que observa um aumento da procura, sobretudo de pais de alunos que já estudam no CEL, para estender o horário de permanência das crianças na escola depois da aprovação da PEC das Domésticas. Hoje, há fila de espera para período integral em todas as unidades do colégio (essa alternativa é oferecida para turmas do maternal ao 5º ano nas unidades de Barra, Jardim Botânico e Norte Shopping).

— A grande maioria já conhece nosso trabalho e não precisava do horário estendido porque havia uma pessoa em casa. É uma nova situação. Muitas mães procuraram recentemente informações sobre os custos do integral — diz May.

Carga horária flexível

No colégio, os pais podem optar pela carga horária de cinco, oito ou 11 horas diárias para o berçário (a antiga creche) e, do maternal ao 5º ano, entre os horários de meio período, americano (de 7h30 às 15h ou 9h30 às 17h) ou integral (de 7h30 às 17h). No integral e no americano, as refeições, com exceção do jantar, estão incluídas e são acompanhadas por uma nutricionista. Para as unidades da Zona Sul e da Barra, esse preço varia entre R$ 1.170 (cinco horas) e R$ 1.840 (11 horas) para o berçário; de R$ 1.060 a R$ 1.750 para o maternal; e de R$ 1.200 a R$ 1.945, do 1º ao 5º ano.

— As crianças não são levadas à fadiga, porque há intervalos, há um grande equilíbrio. E saem com todas as tarefas prontas. É um estudo dirigido e de qualidade — explica May.

Coordenadora do turno da manhã do horário integral do Liceu Franco-Brasileiro, Ani Vaz conta que, do universo de quase mil alunos matriculados no colégio do maternal ao quinto ano, 112 estão hoje no turno integral, onde ficam de 7h30 às 17h45. Até 18h45, o colégio oferece atividades extras como aulas de teatro e xadrez.

— Há sempre o cuidado de avaliar se a criança tem o perfil do horário. Se, mesmo após o período de vivência (uma espécie de experimentação) observamos que ela fica muito cansada ou irritada, conversamos com os pais.

A mudança que acontece hoje na sociedade brasileira já ocorreu em países considerados mais desenvolvidos socialmente da Europa e nos Estados Unidos. Victor Notrica, presidente do Sindicato das Escolas de Educação Básica do município do Rio, cita França, Espanha e Inglaterra como países em que o horário integral é amplamente difundido e que têm bons índices no campo da educação. Para ele, também os preços das mensalidades devem se acomodar nos próximos anos, já que aumenta a procura pelo modelo.

— De qualquer forma, a cesta básica de uma escola que oferece o período integral é mesmo mais cara — pondera.

No colégio Andrews, no Humaitá, as crianças, do regular ou do integral podem ficar até as 20h na escola se contratarem cursos extras, como teatro, futebol, jazz, aula de música, judô, balé, aula de flauta, artes ou ginástica rítmica. E a proporção de alunos no período integral é de 130 alunos para os 600 que a escola tem até o quinto ano.

— A demanda cresce ano a ano e não temos espaço físico para atender a todos. O olhar profissional sobre a criança, os feedbacks e o acompanhamento dão à família uma tranquilidade. Como as famílias estão cada vez menores, isso facilita o investimento dos pais — explica a diretora.

Além disso, o colégio não fecha durante o ano. Há colônia de férias em julho e até 20 de dezembro.

Na Palmo e Meio Educação Infantil, que reúne crianças de três meses a seis anos, cerca de 97% dos alunos já estudam no horário integral. Os pais podem escolher entre o período regular (de 4h de permanência), estendido (8h) ou integral (de 10h ou 12h). E o horário de entrada pode ser 7h ou 9h. Pagam por isso de R$ 915 (4h) a R$ 1.565 (por 12h) no chamado berçário e, na pré-escola, de R$ 915 (4h) a R$ 1.565. Para Marina Barreto, diretora da Palmo e Meio, é cedo para contabilizar o impacto do maior custo das domésticas na procura pela creche. Mas, sem dúvida, nas rodas de amigas e dos próprios pais, o assunto é recorrente. Para ela, há uma preocupação maior com a educação infantil nos últimos anos:

— A educação infantil hoje é mais valorizada. Os pais queriam saber antes se os filhos iam chegar em casa comidos, limpinhos. Hoje, há maior preocupação educacional — defende Marina.