Economia

Dólar sobe a R$ 2,22 e Bolsa cai 3,18%, após Fed sinalizar fim do programa de estímulo à economia

Alta da moeda americana frente ao real foi de 1,92%

SÃO PAULO - Mesmo com a manutenção dos estímulos à economia americana, anunciada pelo Federal Reserve (Fed), o banco central americano, nesta quarta-feira, o mercado financeiro reagiu negativamente à indicação dada pelo presidente da instituição, Ben Bernanke, de que o programa pode ser reduzido até o fim deste ano. Após a divulgação do Fed e o discurso de Bernanke, o dólar atingiu a máxima do dia batendo em R$ 2,224 e o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, acentuou as perdas verificadas desde o início do pregão e caiu mais de 3%. No fechamento, o dólar comercial se valorizou 1,92% frente ao real, sendo negociado a R$ 2,218 na compra e R$ 2,220 na venda, uma alta de 1,92%. É o maior patamar de fechamento desde 27 de abril de 2009. Apesar da alta de quase 2% na cotação da moeda americana, o Banco Central não interveio no câmbio.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, também teve desvalorização expressiva e caiu 3,18% aos 47.893 pontos, perdendo o patamar dos 48 mil pontos. O volume financeiro negociado foi de R$ 8,6 bilhões. Apenas quatro ações das 71 que compõem o Ibovespa terminaram o dia em alta. Nos EUA, os principais índices americanos fecharam com quedas superiores a 1%: o S&P 500 perdeu 1,39%; o Dow Jones se desvalorizou 1,35% e o Nasdaq teve perda de 1,12%.

Embora a ata do Fed tenha informado que não havia prazo determinado para o fim do programa de recompra de títulos, que mensalmente despeja US$ 85 bilhões na economia, Ben Bernanke afirmou que há um consenso dentro do banco central americano de que os estímulos à economia podem começar a ser reduzidos ainda este ano se a taxa de desemprego recuar. Segundo Bernanke, a economia americana ainda cresce a ritmo moderado e o desemprego continua elevado, embora o mercado de trabalho tenha apresentado melhora. Os riscos para o crescimento econômico também diminuíram, disse o presidente do Fed. Além disso, o BC americano manteve os juros entre zero e 0,25% ao ano e informou que não haverá alguma mudança na taxa enquanto o desemprego estiver acima de 6% - atualmente está em 7,6%. Bernanke disse que mesmo que o estímulo à economia seja reduzido, os juros vão demorar a subir.

Para o estrategista do banco WestLB, Bernanke chancelou o movimento recente do mercado de que o estímulo seria gradualmente reduzido. A alta do dólar nas últimas semanas em relação a outras divisas, principalmente de países emergentes, já era um ajuste a este cenário.

- O movimento de saída de investidores estrangeiros da Bovespa e da renda fixa provavelmente se acentuou nesta quarta, após a sinalização do Fed. Bernanke começou a coordenar as expectativas para um movimento de global de capitais após o fim do programa de estímulo. Nos EUA, as Bolsas que tiveram um fluxo de recursos abundante nos últimos tempos, já que o programa despeja US$ 85 bilhões na economia todos os meses, caíram num movimento de ajuste a um cenário com menos dólares. Por aqui, o dólar teve o maior impacto. É difícil prever o que vai acontecer, mas acredito que a tendência de alta se mantém e a moeda pode chegar facilmente aos R$ 2,30. O Banco Central terá um trabalho difícil para estancar a volatilidade e a pressão inflacionária vinda da moeda - diz Rostagno.

Ele acredita que a melhora da economia americana já está atraindo esse capital que sai dos mercados emergentes, como o Brasil, seja na compra de títulos ou até mesmo em ativos reais.

- Após o anúncio do Fed, o dólar começou a subir aqui e no exterior. A leitura é que mesmo mantendo o programa de estímulo, os sinais são de que a economia americana está se recuperando, o que fortalece o dólar frente a outras divisas. O Fed mostrou que os riscos para a economia estão diminuindo e o mercado de trabalho está se recuperando - analisa Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da corretora Treviso.

Para Pedro Galdi, estrategista da corretora SLW, a Bovespa passou a seguir o ritmo dos mercados internacionais, que também ampliaram a queda após a decisão do Fed. Para Galdi, ainda há muita incerteza entre os investidores, que acabam fugindo de mercados de risco.

- Embora a ata do Fed fale que não há prazo determinado para o fim dos estímulos, o presidente do Fed, Ben Bernanke, afirmou que há um consenso dentro do banco central americano que os estímulos à economia podem começar a ser reduzidos ainda este ano se a taxa de desemprego recuar. E isso certamente vai causar muita pressão sobre o dólar. É este cenário que o mercado já começou a antecipar nas últimas semanas e se acentuou hoje - explica Pedro Galdi.

Os juros futuros tiveram forte alta no final do pregão após a sinalização do Fed de que o programa de estímulo pode ser reduzido ainda este ano. Os rendimentos dos títulos americanos também subiram e o papel de 10 anos atingindo taxa de 2,33, a maior das últimas semanas. O DI com vencimento em janeiro de 2015 tinha taxa de 10,41% frente aos 10,19% de ontem. O contrato para janeiro de 2017 tinah taxa de 11,50% ante 11,05% de ontem. E o contrato para janeiro de 2021 apresentou taxa de 11,63% ante 11,27% de ontem.

Entre as blue chips do Ibovespa, Vale PNA caiu 1,58% a R$ 28,65, devolvendo os ganhos de ontem impulsionados pelo código de mineração; Petrobras PN perdeu 3,08% a R$ 17,29, enquanto as ações ON de Itaú Unibanco PN perderam 1,12% a R$ 29,03 e Bradesco PN teve queda de 1,92% a R$ 28,98.

Os papéis do grupo EBX voltaram a sofrer uma nova rodada de desvalorização, pressionando ainda mais o Ibovespa. Os papéis On da OGX, que têm peso importante no índice, caíram 13,04% a R$ 0,81, a maior baixa do Ibovespa; os papéis ON da LLX Log se desvalorizaram 11,21% a R$ 1,03, a segunda maior perda do Ibovespa, e os papéis da MMX Miner ON perderam 8,09% a R$ 1,25, a quarta maior perda do Ibovespa.

A reunião do Fed deixou o mercado em expectativa desde a abertura, com o dólar em leve queda frente ao real e a Bovespa no campo negativo.

Em relatório, economistas do Credit Suisse acreditam que o Fed começará a reduzir suas compras a US$ 65 bilhões por mês em setembro e parar as compras no segundo semestre de 2014.

A possibilidade de que o programa de estímulo fosse reduzido já vinha pressionando o dólar nas últimas semanas, no Brasil e em todo o mundo. Por aqui, desde maio, o Banco Central fez nove leilões de contratos de swap cambial, que equivalem a uma venda de moeda americana no mercado futuro, para tentar segurar a escalada do dólar. O BC despejou US$ 15 bilhões no mercado, mas a tendência da divisa americana continuou sendo de alta.

- Há desconfiança dos investidores em relação aos fundamentos da economia brasileira, o que potencializa a alta do dólar frente ao real. Muitas empresas estão procurando por hedge (proteção contra a desvalorização cambial) porque avaliam que a moeda americana pode subir ainda mais - diz Sidnei Nehme, da corretora NGO.