20/06/2013 13h05 - Atualizado em 20/06/2013 15h54

'Taxa de câmbio é flutuante dentro de certos limites', afirma Azevêdo

Em determinado momento, países precisam agir, diz diretor eleito da OMC.
Entidade não tem competência para tratar questão cambial, afirma.

Gabriela GasparinDo G1, em São Paulo

Azevêdo nesta quinta-feira (20) em Slão Paulo (Foto: Gabriela Gasparin/G1)Azevêdo nesta quinta-feira (20) em São Paulo
(Foto: Gabriela Gasparin/G1)

O diretor-geral eleito da Organização Mundial do Comércio (OMC), o embaixador Roberto Azevêdo, disse nesta quinta-feira (20) acreditar ser difícil a existência de uma taxa cambial livremente oscilante dentro de um país e que, a partir de determinado momento, os governos precisam agir.

Azevêdo participa nesta quinta de encontro promovido pelo jornal "Valor Econômico", em São Paulo, para discutir os novos desafios do comércio exterior. Ele assume a direção da OMC em 1º de setembro.

"Acho difícil uma taxa cambial livremente oscilante. Acho que a taxa de câmbio é flutuante dentro de certos limites, que são estabelecidos de governo a governo. A partir de determinado momento, os governos agem", disse.

Ele deu a opinião após ser questionado sobre o risco de uma guerra cambial mundial. "Se isso pode ser considerado guerra cambial eu não sei", disse, sobre a atuação separada dos governos com relação ao câmbio em cada país. "Mas acho que não teremos nada como tivemos nos anos 80", avaliou.

Azevêdo disse acreditar ser improvável que as variações cambiais ocorram nos países sem qualquer tipo de controle e que cada país tentará ajustar o câmbio nos patamares que "acham razoáveis".

Com relação ao Brasil, ele salientou que a incerteza sobre a taxa de câmbio futura atrapalha nas negociações de comércio exterior. “Claramente a taxa cambial é uma preocupação grande e importante. Hoje em dia os movimentos de oscilação cambial valem mais que a tarifa de importação. (...) É uma situação difícil. (...) Não é bem o patamar de apreciação ou depreciação, mas a velocidade [da variação cambial]”, disse, acrescentando que não há formas hoje no mundo para lidar com essas oscilações.

OMC não tem competência
Ele disse, ainda, que a OMC não tem competência para tratar sobre a questão cambial. "De forma geral, é uma consequência de uma quantidade de medidas que levam a esse patamar cambial e a OMC não tem jurisdição para tratar de todos esses temas. É difícil imaginar uma instituição que trata apenas de comércio, ter todo o aparato necessário para tratar da questão cambial, que é muito mais ampla".

Azevêdo explicou que, olhando para a história das crises cambias, as decisões sempre foram tomadas pelos governos. "Não foi uma instituição, nem o FMI, nem o Banco Mundial. A OMC pode dar tratamento analítico do ponto de vista cambial, mas não imagino, não vejo como se possa esperar que uma organização apenas que trate de comércio vai resolver a questão cambial."

Segundo ele, ainda, até mesmo os governos não tomam as decisões com relação ao câmbio levando em conta apenas o comércio exterior.

"É muito difícil encontrar um país que use valorização ou desvalorização cambial como instrumento comercial puramente. (...) Embora o câmbio, do ponto de vista comercial, pode dar resultado positivo na perspectiva de um país, é muito raro encontrar um país que adote medidas no câmbio apenas para dar competitividade ao país. Geralmente [o objetivo] é muito maior, como dar estímulo ao crescimento econômico."

Avanço nas negociações
Com relação aos desafios que enfrentará a partir de 1º de setembro, quando assumirá a direção da OMC, Azevêdo afirmou que, apesar da percepção de que as relações comerciais estão mais fechadas desde a crise de 2008, na "vida real", de concreto, não existiram tantas alterações.

"Uma coisa é o fato que não houve mudança, outra coisa é a percepção de que o protecionismo aumentou, de que há uma dificuldade maior de abrir mercados (...). Temos que trazer a percepção para o real, que é que o mundo não mudou tanto, não há motivos para ser tão pessimista assim (...). Para tentar encontrar uma questão negociável, temos que pautar as discussões pelo o que é possível e não pelo o que é desejável."

O embaixador afirmou, ainda, que a reunião da OMC em Bali, na Indonésia, em dezembro, poderá ajudar no avanço de negociações bilaterais, o que, de certa forma, abrirá os olhos do mundo de que é possível negociar, ajudando na concretização de acordos multilaterais que estão "travados".

"Acho que é possível ter resultado [em Bali], difícil não é necessariamente impossível. O clima em Genebra é de pessimismo, de maneira geral, quem sabe a partir de setembro as coisas mudem um pouquinho (...). É difícil, mas não é impossível."

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