Economia

Preços do petróleo se aproximam das máximas dos últimos seis meses e sobem 14% desde junho

Segundo avaliação do banco Societé Générale, no pior cenário, conflito no Oriente Médio pode alavancar preços do Brent para US$ 150 o barril

RIO - O clima tenso devido à possibilidade de ataque dos EUA na Síria fez os futuros do barril de petróleo Brent subirem 1,36%, por volta das 9h37, sendo cotado a US$ 115,90. Perto das 2h (no horário de Brasília), o barril chegou a ser cotado na máxima de US$ 117, maior valor nos últimos seis meses. Já às 13h57, o barril do Brent atingia a cotação de 115,68. O ouro também se beneficiou da aversão ao risco e era cotado a US$ 1.428,90 a onça (às 9h37), alta de 1%. O metal era negociado na maior cotação do ano, até perder espaço no início da tarde e chegar a US$ 1.418,5 a onça. O receio entre os investidores é de que as crises na Síria e no Egito gerem um efeito em cascata na região e causem interrupções nas ofertas de petróleo. O Oriente Médio é responsável pela produção de um terço do petróleo mundial.

Segundo Alex Agostini, economista da Austin Ratings, o preço do barril do Brent registra alta de 5,6% no mês, mas apenas 2,4% no ano. Quando analisado o acumulado dos últimos 12 meses, houve queda de 1,3%. Do dia 3 de junho - quando o petróleo começou a escalada do preço - a 28 de agosto,  a variação passou de US$ 101,28 para US$ 115,90, alta de 14,4%.

— A última alta recorde foi em julho de 2008 quando chegou a quase US$ 140 o barril - aponta Alex.

A alta da cotação do petróleo é uma má notícia para a Petrobras, cujos preços praticados no país estão defasados em 23%, como destaca relatório do Bank of America, afetando as contas da estatal. Atualmente, a capacidade de refino da petrolífera já está a 99% de utilização, impossibilitando que no curto prazo a empresa consiga ampliar a operação. Para continuar atendendo à demanda interna, a empresa terá que pagar ainda mais por derivados - como a gasolina - comprados no exterior, e vai continuar não repassando este valor ao mercado doméstico, em razão da política de controle de preços dos governo.

Além disso, com o caixa da empresa em baixa mesclado ao câmbio nas alturas, uma explosão no preço do petróleo iria aumentar a defasagem dos preços da gasolina - podendo chegar a níveis recordes. Apesar da diferença de preços, o governo teme o impacto sobre a inflação e segura os reajustes, mesmo com o governo já ter sinalizado que eles irão ocorrer.

Cenário mais pessimista cota barril a US$ 150

O ataque iminente do Ocidente em resposta à utilização de armas químicas pelo governo do presidente sírio Bashar al-Assad deve trazer instabilidade ao Oriente Médio. Embora a Síria não seja grande produtora de petróleo, o país está próximo às principais rotas marítimas do para transporte do combustível. A preocupação dos investidores é que um ataque americano possa bloquear a circulação do petróleo ou afetar regiões produtoras, como Arábia Saudita e Irã. Como resultado, os mercados de petróleo começaram a precificar o risco da ação militar. No pior quadro, segundo cenário traçado pelo banco Societé Générale, a cotação do barril Brent deve atingir os US$ 150, superando a máxima histórica de US$ 147,50 (alcançada em julho de 2008).

"Nossa análise geopolítica indica que a questão não é se haverá uma ação militar contra a Síria - afirma o documento. A preocupação é de que um ataque contra a Síria vá reverberar na região, aumentando o conflito para outros países e, possivelmente resultando em uma interrupção maior na oferta. Nossa grande preocupação é o Iraque.", afirma o documento.

— A tônica de aversão ao risco deve predominar além do mês de setembro, que já era considerado decisivo para os mercados – afirma Daniel Cunha, analista da XP Investimentos – O mercado já estava ansioso com a chegada no novo presidente do FED e a eleição na Alemanha (maior economia da Europa). Agora a gente tem mais um componente adicional decisivo e com reflexos na economia diante do possível risco geopolítico no Oriente Médio com reflexos particulares nas cotações de petróleo – reitera.

Para o banco francês, assumindo que o ataque comece na próxima semana, a cotação base para o barril do petróleo Brent ficaria em US$ 125, mas reitera que este cenário base não inclui quaisquer rupturas de abastecimento reais resultantes do ataque americano sobre a Síria.

Para Álvaro Bandeira, economista-chefe da Órama, somente alcançará estes patamares recordes se houver grande intensidade dos ataques e das advesidades correlatas.

— Se Israel responder os ataques da Síria, por exemplo. — analisa. — Hoje os mercados já se mostram desequilibrados, refletindo nas moedas de emergentes e nos juros.

Moedas emergentes

O nervosismo devido a um possível ataque militar liderado pelos Estados Unidos contra o governo sírio levou as ações asiáticas para uma mínima de sete semanas nesta quarta-feira.

Uma forte determinação em evitar o risco também aumentou o apelo do iene, que chegou perto da máxima em uma semana contra o dólar e o euro depois de ter registrado o maior rali em mais de dois meses.

Esse ambiente fez as moedas de mercados emergentes ampliarem suas fortes vendas, com a rúpia indiana e a lira turca atingindo mínimas recordes, no momento em que investidores estavam se afastando antes de uma esperada redução no estímulo fornecido pelo banco central dos Estados Unidos, possivelmente já no próximo mês.

A rúpia indiana desvalorizava 3,8%, sendo disparado a pior moeda do dia e registrando a maior desvalorização diária desde 1993. A d esvalorização acumulada do ano já está na ordem de 20% e coloca a Índia como pior performer em 2013, seguida de Africa do Sul (-19%), Turquia (-14%) e Brasil (-13,5%).