RIO - A pesquisadora Claudia Stella tem doutorado sobre o impacto da prisão materna na escolarização dos filhos. Em entrevista ao GLOBO, ela explica que é essencial que a criança estabeleça novos vínculos. Segundo a estudiosa do tema, ‘no Brasil, a mãe é a maior responsável por acompanhar tudo’. Leia os principais trechos da entrevista a seguir.
O GLOBO: Qual o impacto da prisão da mãe na vida escolar dos filhos?
CLAUDIA STELLA: Mensurar é muito difícil. Na maioria dos casos, não sabemos onde estão, com quem estão. No Brasil, a mãe é a maior responsável por acompanhar tudo. E é a ausência de alguém para assumir esse papel que gera impacto no processo de escolarização das crianças, segundo os jovens adultos, filhos de mães presas, que ouvimos na pesquisa. Mesmo com a tristeza depois da perda do convívio com a mãe, muitos conseguem fazer um vínculo novamente com avó, madrinha. O problema é quando a criança não tem nada. Aí, pode desenvolver patologias. Pode se desinteressar pela escola.
O preconceito atrapalha esse rendimento escolar?
O que interfere nem é o preconceito. Porque esses filhos, em geral, vêm de comunidades onde o aprisionamento é muito comum. A minha hipótese inicial, inclusive, era o preconceito. Mas foi refutada pelos resultados de pesquisas. Na comunidade, eles já tinham essa vivência.
O que fez diferença na vida desses jovens adultos, então?
Percebemos que, se essa criança tem a sorte de ter a maternagem, isso faz a diferença. Alguns meninos tiveram uma avó muito presente. O que mais prejudica a criança com a mãe presa são as muitas guardas. Um ano com a madrinha, um com a tia, outro com a bisavó. Para estar matriculado na escola, seria melhor estar no abrigo. Lembrando que os dados que temos apontam para o fato de que apenas 10% dos filhos de mulheres presas ficam com os pais.
Como a mulher que está presa consegue ter controle sobre a vida escolar, sobre a matrícula do filho?
Ela tem que procurar a assistente social do presídio. As informações precisam estar disponíveis. Mas há de fato uma falta de controle no Brasil.
Mas nos abrigos, a escola é rotina?
O Ministério Público é que controla isso. O que acho é que a criança deveria ser levada em consideração já no julgamento da mãe.
O que se depreendeu, na pesquisa, sobre a história escolar dos jovens com mães presas?
A prisão materna pode deixar a criança em situação de vulnerabilidade, interferindo na socialização promovida na escola.
A senhora é a favor da convivência da mãe presa com os filhos? Isso influencia em seu rendimento escolar?
Experiências americanas mostram que o exercício da maternidade no cárcere reduz a reincidência da mulher no crime. Esses autores apontam: mesmo que exista uma separação posterior, se a criança tem alguém com cuidado maior, tem possibilidade de se recuperar. Em benefício da criança, advogo a permanência até os 3 anos. Seria o mais adequado para o desenvolvimento integral da criança.