Economia

Apesar do câmbio valorizado, exportações brasileiras caem no terceiro trimestre

A culpa, segundo analistas, estaria no fôlego fraco das economias dos parceiros comerciais do país

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RIO - Nem o câmbio valorizado conseguiu ajudar o setor externo brasileiro no terceiro trimestre deste ano. A culpa, segundo analistas, não é apenas do Brasil: a economia dos nossos principais parceiros comerciais está com pouco fôlego e, portanto, compram menos. Entre os meses de junho a setembro de 2013, as exportações diminuíram 1,4% em relação ao segundo trimestre deste ano. Já na comparação com o terceiro trimestre de 2012, as vendas externas subiram 3,1%. No ano, as exportações cresceram 1,4% sobre o mesmo período do ano passado, informou o IBGE nesta terça-feira.

- Os nossos principais clientes crescem menos e estão comprando menos, por mais que o real tenha ficado atrativo e os produtos brasileiros mais baratos, a variante que determina o desempenho das exportações brasileiras no terceiro trimestre é o quadro externo desfavorável – afirma Alex Agostini, economista da Austin Ratings.

Para ele, Estados Unidos e Europa ainda estão com economias enfraquecidas e voltados para questões domésticas, assim, consomem menos. Já as importações, segundo o IBGE, diminuíram 0,1% no terceiro trimestre na comparação com abril a junho deste ano. Em relação ao terceiro trimestre de 2012, as importações subiram 13,7%. No ano, as importações cresceram 9,6% em relação a igual período do ano passado.

- Nossa sorte é que temos reservas grandes e nos deixa com colchão de liquidez que evita ataque especulativo, o que no curto prazo não deve trazer preocupação, mas se o país não se preparar para ficar competitivo nos próximos cinco anos, teremos problema. – analisa Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos.

- As transações correntes estão se deteriorando de tal forma que a balança comercial já não consegue compensar nem com o câmbio valorizado. – afirma João Pedro Brugger, analista da Leme Investimento.

Quanto as importações, o Brasil passou por um processo muito grande e natural de desenvolvimento de alguns setores e serviços ligados às atividades de saúde contaram com vultosos investimentos em equiapmentos que não são produzidos no Brasil. A importação no Brasil cresce, ressalta Alex Agostini, porque houve necessidade de reequipar também os parques industriais de atividades ligadas a vestuários, bebidas e calçados (áreas que crescem em todo o país, com destaque no Nordeste).

- Também houve importação de máquinas e equipamentos para atender a construção civil e os outros setores de infraestrutura logística por conta dos eventos.

A contabilidade das exportações e importações no PIB é diferente da realizada para a elaboração da balança comercial. No PIB, entram bens e serviços, e as variações porcentuais divulgadas dizem respeito ao volume destes itens. Já na balança comercial, entram somente bens, e o registro é feito em valores.

Necessidade de financiamento bate recorde no 3º trimestre

A influência do setor externo ajudou a jogar para baixo o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2013. O Brasil fechou os meses de junho a setembro com uma necessidade de financiamento recorde de R$ 43,942 bilhões. Houve um aumento de R$ 13,8 bilhões entre os meses de junho a setembro de 2012 - o indicador bateu os R$ 30,186 bilhões - e igual trimestre deste ano. O indicador segue trajetória de deterioração desde os meses de junho a setembro de 2008, quando a necessidade de financiamento da economia chegou a R$ 10,895 bilhões.

Com este resultado, o indicador para o terceiro trimestre foi o maior da série histórica calculada pelo IBGE, iniciada em 2000. Os dados sobre a capacidade financeira traduzem quanto e como os recursos da economia nacional foram aplicados. Quando o país não aplica verbas próprias, o cálculo é feito do ponto de vista da necessidade de financiamento. Neste caso, o indicador aponta como o resto do mundo financiou a economia brasileira.

A culpa para o crescimento da necessidade de financiamento na comparação com o segundo trimestre de 2012 está no saldo externo de bens e serviços e na renda líquida de propriedade enviada ao resto do mundo.

- O salto externo de bens e serviços piorou, passando de R$ 8,5 bilhões para R$ 31,8 bilhões no terceiro trimestre deste ano em relação a 2012. É uma piora de mais de R$ 23 bilhões. O resultado foi contrabalançado com a renda liquida de propriedade recebida do resto do mundo e a transferência líquida de capital recebida pelo resto do mundo. – afirmou Rebeca de Palis, gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE.

Segundo o instituto, a renda líquida de propriedade recebida do resto do mundo bateu os R$ 14,6 bilhões, um recuo de 2,1 bilhões sobre os R$ 16,8 bilhões registrados no terceiro trimestre de 2012. Já a transferência líquida de capital recebida do resto do mundo chegou a R$ 600 milhões nos meses de junho a setembro deste ano, acréscimo de R$ 7,2 bilhões diante dos – R$ 6,5 bilhões.

Entre julho e setembro de 2013, a economia brasileira encolheu 0,5% no terceiro trimestre deste ano, registrando o primeiro resultado negativo e o pior em mais de quatro anos. O dado divulgado pelo IBGE nesta terça-feira mostrou que houve perda expressiva de ritmo na agricultura e nos investimentos. Pela primeira vez, o instituto incorporou ao cálculo a Pesquisa Mensal de Serviços - que começou a ser divulgada este ano.