Economia

Carro do futuro, uso no presente

Dirigimos o Volt por uma semana, com direito a viagem a Juiz de Fora. Veja no que deu

Em frente à estação de Paraibuna, após rodar 150km. Em alguns momentos, o carro parece uma locomotiva a diesel, com um motor a combustão gerando energia para outro elétrico
Foto: José Rodrigo Octavio
Em frente à estação de Paraibuna, após rodar 150km. Em alguns momentos, o carro parece uma locomotiva a diesel, com um motor a combustão gerando energia para outro elétrico Foto: José Rodrigo Octavio

Todos falam em futuro com carros elétricos. Daí que dirigir um Chevrolet Volt (que chegou ao Brasil apenas para experiências) é muito educativo. O modelo é um híbrido plug-in — ou seja: suas baterias podem ser carregadas numa tomada e o motor a gasolina só entra em ação em último caso.

Na concessionária, encontramos o carro sendo recarregado — algo que só se faz por meio de uma tomada de três pinos, bem aterrada.

Nosso desafio, portanto, era sempre deixar o carro para o pernoite ao lado de uma tomada dessas. Alguém dá a sugestão: traga Volt todas as noites à oficina e faça uma recarga de 8h. Nada prático... E nosso desfio aqui é dar a esse Chevrolet diferente um uso de carro de passeio normal.

Aperta-se o botão “power” e ouvem-se ruídos de Robocop para dizer que o carro está ligado. A principal informação do painel é de que a carga da bateria será suficiente para 34km.

O Volt desliza pela oficina como se empurrado por mãos invisíveis. Em modo 100% elétrico, só se ouve um discretíssimo zumbido (vuooooomm...), como o de televisões a válvula.

HilL Valley, 1955

Dobro a esquina e o marcador já indica 33km... A cada aceleração mais forte, um tracinho a menos. Começo a ficar paranoico. Lá fora, faz 29°C mas desligo ar-condicionado (dificílimo de operar) numa tentativa de economizar bateria. No sinal vermelho, sequer deixo o câmbio em drive, para não ter que pisar no freio e deixar o brake light aceso...

Quando se está preso em um engarrafamento as únicas vibrações que o motorista sente são das motos e caminhões ao redor. Se todos os carros fossem elétricos, as casas e apartamentos que dão de frente para o viaduto quadruplicariam de preço. Seria uma revolução viária e imobiliária...

No jornal, as tomadas da garagem são do modelo antigo, de dois pinos. É Volt, não vai ser dessa vez...

À noite, ida para casa. O carro dorme numa vila, novamente sem tomada. É mais ou menos como deixar um DeLorean voador numa rua de Hill Valley em 1955.

No outro dia, vamos buscar amigos e pegar a Rio-Juiz de Fora, para ver o que acontece. A caminho do Horto, dá para escutar o assobio dos micos e o barulho da cascata.

Um dos mostradores é o “powerflow”. A gente acaba ficando viciado em dirigir tentando regenerar energia “na banguela”, digamos. Se os carros elétricos um dia dominarem as ruas, as pessoas vão dirigir bem mais devagar.

Após 39km apenas na bateria, entra o motor a gasolina.

O painel vai indicando a administração de energia: só baterias; ou motor a gasolina apenas gerando eletricidade para recarga; ou os dois motores acoplados ao câmbio CVT (quando há necessidade de mais torque).

Na subida da Rio-Petrópolis, com pouca carga nas baterias, o motorzinho a gasolina de 83cv faz o que pode para levar os 1.715kg do carro. Do pedágio à entrada da cidade, o Volt faz assutadores 5,8km/l...

Depois, na parte plana, o consumo vai caindo para mais razoáveis 10km/l. E assim chegamos a Juiz de Fora.

Hora de voltar. Se as acelerações na reta são boas, nas curvas, o carro denuncia seu peso... As forças da Física mostram os limites desse sedã tão pesado, com pneus de baixa resistência à rolagem e suspensão mole à americana.

Na descida, após 372km, acendeu a luz do tanque reserva de gasolina. Vamos devagarinho, tentando deixar o carro funcionar só no modo elétrico e regenerando energia.

Um posto, enfim. Entre cidade e estrada, o consumo foi de 12km/l. Ou seja: sem tomada, nada de milagres de consumo.

E, assim continuamos pelo rodando pelo resto da semana na cidade, sem jamais achar uma vaga onde fosse possível plugar o Volt. Foram sete dias, 961km e uma conclusão: os carros elétricos e plug-in já existem, mas não estamos preparados para eles.