Economia

Pela primeira vez no ano, inflação acumulada em 12 meses fica abaixo de 6%

Resultado em 12 meses ficou em 5,86%, expectativa do mercado girava em 5,85%
A evolução da inflação Foto: Editoria de Arte
A evolução da inflação Foto: Editoria de Arte

RIO - Pela primeira vez no ano, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou abaixo da marca dos 6%, no acumulado de 12 meses, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira. A inflação oficial do país avançou, em setembro, 0,35% (frente a 0,24%, em agosto) e, nos últimos 12 meses, tem alta de 5,86%. Os dados ficaram em linha com as expectativas do mercado, segundo pesquisa da agência Bloomberg News.

Após ter registrado variação quase nula (0,03%) em julho, a inflação vem seguindo tendência de alta nos últimos dois meses. No entanto, os índices mensais têm estado em patamares menores que os registrados no ano passado e no início de 2013. Como resultado, o IPCA se distanciou do teto da meta do governo, de 6,5%, mas ainda está distante do centro da meta, que é de 4,5%.

- Pela primeira vez no ano, a taxa foi para os 5%, porém mais para os 6%. Isso ocorreu porque, nesse segundo semestre, as taxas do IPCA, estão menos fortes de julho pra cá, do que foi em igual período do ano passado. Estamos trocando taxas mais altas, que estão ficando pra trás, pelas mais baixas - afirma Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índice de Preços do IBGE.

Os dados do IBGE mostram um contraste entre os preços regulados pelo mercado e aqueles monitorados pelo governo. Enquanto o dólar pressiona o pão francês, que acumula, até setembro, alta de 11,39%, o preço da energia elétrica ficou 16,78% menor no mesmo período. Os preços administrados, no acumulado de 2013, registram variação de apenas 0,01%, frente a alta de 2,51% de janeiro a setembro de 2012.

- Isso evidencia que são os administrados que estão segurando a inflação - afirmou Eulina.

Transportes e alimentos pressionam

Na variação mensal, no entanto, a inflação continua a apresentar itens em forte tendência de alta. O grupo que mais pressionou o IPCA em setembro foi o de transportes, que passou de -0,06% para 0,44%. A maior alta ocorreu no preço das passagens aéreas: 16,09%. Além disso, a redução das tarifas de ônibus urbanos deixaram de fazer efeito sobre os dados mensais, segundo o IBGE. O item ficou estável em setembro, segundo o IBGE.

- O efeito da redução das tarifas de transportes ficou pra trás, com um resíduo ainda em queda no mês de agosto mas, agora, passou. - diz Eulina. - Em relação às passagens aéreas, tivemos dois eventos em setembro que movimentaram bastante o país, Rock in Rio e Sírio de Nazaré. Com certeza, houve uma pressão de demanda - analisa Eulina.

O grupo de alimentos também contribuiu para a aceleração registrada em setembro, passando de 0,01% para 0,14%. O pão francês registrou a maior alta, avançando 3,37% em setembro, ante 1,56% em agosto. No ano, o pãozinho registra alta de 11,39% e, em 12 meses, 14,79%. O aumento do preço do produto é reflexo da farinha de trigo, que, em 12 meses, ficou 29,96% mais cara.

- O Brasil importa mais da metade do trigo que consome. E um dos principais fornecedores era a Argentina, que está com problema na safra, por conta da umidade, que prejudicou muito a produção. Os setores do país falam que é a pior safra dos últimos 111 anos - explicou Eulina Santos.

Por outro lado, entre os alimentos, o feijão carioca foi o destaque entre os itens em queda, com deflação de 13,95%, impactando em 0,04 ponto percentual a categoria. O grupo Habitação passou de 0,57% em agosto para 0,62% em setembro, com forte pressão do gás de botijão, que passou de 0,28% para 2,01%. Aluguel residencial (0,74% para 0,80%) e artigos de limpeza (0,28% para 0,71%) também pressionaram o grupo.

Na análise da inflação por região, a maior taxa foi verificada em Brasília (0,70%), onde as passagens aéreas, com peso de 2,11% e variação de 17,68%, causaram impacto de 0,37 ponto percentual. Na outra ponta, a menor variação foi de Salvador (0,03%) em virtude dos alimentos consumidos no domicílio, que apresentaram queda de 1,17%.

A farinha de mandioca, produto amplamente utilizado no Norte e Nordeste, acumula alta de 100,49%, em 12 meses, refletindo fortemente nos preços de alimentos destas regiões. Em Fortaleza (11,53%), Recife (10,71%) e Belém (11,45%), as altas superam 10%.

Efeito Minha Casa Melhor

O item Eletrodomésticos acelerou para 2,03% em setembro, frente a 1,43% em agosto. O grupo é fortemente influenciado pelo câmbio, que já se valorizou 1uase 15% desde abril, mas o aumento da demanda do programa Minha Casa Melhor, diz o IBGE, pode ter contribuído para a alta verificada na categoria.

- Tem um efeito dólar, mas pode ter um efeito demanda também, por conta do Minha Casa Melhor. Aqueles R$ 5 mil de crédito era para comprar eletrodoméstico. Então, provavelmente, houve uma pressão de demanda que propiciou um reajuste de preços - diz Eulina.

Em 2012, preços monitorados acumularam, até setembro, 2,51%. Em 2013, no mesmo período, acumula 0,01%. Ou seja, são esses preços que estão segurando a inflação. Energia elétrica, por exemplo, acumulava 0,52% em 2012 (até setembro). Em 2013, acumula deflação de 16,78%.

IPCA deve fechar o ano em patamar semelhante ao de 2012

Na semana passada, o Banco Central (BC) reduziu a projeção do IPCA para 2013, de 6% para 5,8%, em seu Relatório de Inflação, publicado trimestralmente. Foi a primeira vez desde setembro de 2010 que a autoridade monetária revisou para baixo esse tipo de estimativa. Apesar da perspectiva mais otimista, o diretor de Política Econômica da autarquia, Carlos Hamilton Araújo, destacou, na ocasião, que a inflação está “alta e desconfortável”, reiterando que o BC está trabalhando para trazer a inflação para o centro da meta (4,5%).

Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) da instituição divulga a nova taxa básica de juros, que, segundo analistas, deve aumentar em 0,25 ou 0,5 ponto percentual, levando a Selic para 9,25% ou 9,5% ao ano, em uma medida para combater a alta dos preços.

A inflação persistentemente alta foi apontada como um dos obstáculos para o crescimento brasileiro, em relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado na segunda-feira, que prevê crescimento de 2,5% neste ano, atrás de Índia e China. Na avaliação da entidade, a pressão sobre os preços pode frear o consumo das famílias, importante motor da economia brasileira nos últimos anos.

- Para os próximos meses, o câmbio menos depreciado reduz a pressão sobre os preços, mas o nível da inflação permanece elevado, e o IPCA deve fechar o ano próximo ao alcançado em 2012 - afirma Patrícia Pereira, gestora de Renda Fixa da Mongeral Aegon Investimentos.

Para Luiz Roberto Cunha, professor da Faculdade de Economia da PUC-Rio, o comportamento da inflação nos próximos meses depende, principalmente, da decisão do governo em relação ao preço da gasolina. Caso haja o reajuste ainda em outubro, ou até em novembro, é possível que o índice feche o ano levemente acima do patamar de 5,84%, registrado ao final de 2012.

- No próximo mês, a alimentação vai voltar a subir e ficar positiva. O IPCA do fechamento do mês vai depender do aumento da gasolina. Se o governo fizer até semana que vem, o índice pode fechar em até 0,60% - estima o especialista.

INPC  em setembro

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) avançou 0,27% em setembro, acima do resultado de 0,16% registrado em agosto. Com isto, a variação no ano está em 3,61%, abaixo da taxa de 4,11% relativa a igual período de 2012, aponta o IBGE. Considerando os últimos doze meses, o índice se situou em 5,69%, abaixo dos 6,07% dos 12 meses imediatamente anteriores. Em setembro de 2012, o INPC havia ficado em 0,63%.

Segundo a instituição, os produtos alimentícios apresentaram variação de 0,05% em setembro, enquanto os não alimentícios ficaram em 0,37%. Em agosto, os resultados foram -0,14% e 0,29%, respectivamente.

Dentre os índices regionais, o maior ficou em Porto Alegre (0,63%), onde os alimentos, apresentaram alta de 1,28%. O menor, por sua vez, foi o de Salvador (-0,06%), por conta da queda de 1,16% nos preços dos alimentos consumidos no domicílio.