19/02/2015 06h36 - Atualizado em 19/02/2015 06h36

Homem que levou tiros dentro de carro na Maré tem perna amputada

Tiros atingiram perna esquerda e Vitor Borges aceitou a amputação.
Advogada afirma que vai entrar com queixa-crime contra o Exército.

Henrique CoelhoDo G1 Rio

Carro onde estavam amigos na Maré foi atingido por tiros de fuzil (Foto: Luciano Borges/Arquivo Pessoal)Carro onde estavam amigos na Maré foi atingido por tiros de fuzil (Foto: Luciano Borges/Arquivo Pessoal)

Uma semana após ficar ferido com tiros nas pernas e no tórax disparados por soldados disparados por soldados da Força de Pacificação da Maré, na sexta-feira (13), o estoquista Vitor Santiago Borges, 29 anos, teve a perna esquerda amputada no Hospital Estadual Getúlio Vargas, no Centro. A informação foi confirmada pela família de Vitor nesta quarta (18).

"Foi um desespero. Amputaram a perna porque a perna não estava reagindo a estímulos, e ele corria risco de vida se não fizesse isso. O médico falou com ele e ele aceitou", disse Luciano Borges, irmão de Vitor, que está internado em estado grave no hospital, mas se encontra lúcido. "É incrível. Só meu irmão se prejudica nessa história toda. E quem fez a coisa errada não se manifestou para ajudar", desabafa Luciano. Segundo ele, a filha de Vitor ainda não sabe o que aconteceu com o pai. "Como é que eu vou explicar pra ela?", questionou ele.

Vitor foi baleado quando estava entrando de carro na comunidade Salsa e Merengue, no Conjunto de Favelas da Maré, na Zona Norte do Rio. Dentro do carro, além de Vitor, estavam Pablo Inacio da Rocha Filho, sargento da Aeronáutica, Adriano da Silva Bezerra, que dirigia o carro, e os irmãos Jefferson Lima Da Silva e Allan da Silva. Ele ficou pelo menos cinco dias em coma induzido no hospital.

Vitor foi baleado no banco atrás do motorista (Foto: Luciano Borges/Arquivo Pessoal)Vitor foi baleado no banco atrás do motorista
(Foto: Luciano Borges/Arquivo Pessoal)

Após terem sido revistados na entrada da comunidade, o carro avançou para deixar Vitor em casa. De repente, houve uma ordem para que o carro parasse durante um tiroteio. Como o carro não parou, após uma tentativa de disparos de arma não letal, os soldados da Força de Pacificação da Maré dispararam cinco tiros de fuzil 762 para parar o carro. Dois deles acertaram em Vitor: um no tórax, que arrancou um pedaço de seu pulmão, e um tiro na perna esquerda que também passou pela direita, atingindo os dois fêmurs.

"Logo depois que saímos da revista e estávamos indo em direção à casa do Vitor tomamos os tiros. Obrigavam a gente a sair do carro, isso com o Vitor ferido lá dentro", relatou o sargento da Aeronáutica Pablo Inácio da Rocha Filho, de 27 anos, que estava no carro.

Segundo ele, após se identificar como sargento da Aeronáutica, o tratamento dos militares com relação aos ocupantes do carro mudou.

"Eles em seguida puseram o Vitor, o Adriano e o Jefferson dentro do blindado e os levaram até a UPA, enquanto eu pedia esclarecimentos. Nenhum dos militares estava identificado", afirmou Pablo.

Ações na Justiça
Fernanda Neiva, advogada dos cinco rapazes que estavam no carro alvejado pelos soldados da Força de Pacificação da Maré na última quarta-feira (11), disse que iria entrar na justiça nas esferas cível e criminal contra o Exército Brasileiro.

Na esfera cível, por danos morais e materiais, pelo tempo sem trabalho de alguns dos envolvidos e danos psicológicos e físicos para Vitor Santiago Borges, de 29 anos, ainda internado no CTI do Hospital Getúlio Vargas. Na esfera criminal, ela pretende entrar com uma ação no Ministério Público Federal por tentativa de homicídio e abuso de autoridade.

"É uma situação muito triste, grave e delicada. Mas vamos até o fim com isso. Vou às esferas necessárias com essa história", disse a advogada.

Pacificação responde
O Exército, em nota na semana passada, afirmou que por volta das 3h de quarta (11), de acordo com a Força de Pacificação, houve uma troca de tiros entre suspeitos e tropas do Exército após um patrulhamento na região conhecida por Salsa e Merengue e, durante o incidente, um veículo em alta velocidade entrou na área e recebeu orientação de parar. Até a publicação desta reportagem, a Força de Pacificação não respondeu sobre ações judiciais e atuação no caso após a amputação da perna esquerda de Vitor.

Em nota, a Força de Pacificação informou que o veículo não parou e foram efetuados disparos, na tentativa de fazer o motorista parar. Esta é a nota:

"Em acordo com as regras de engajamento, observando os princípios da proporcionalidade e progressividade das ações e visando cessar a atitude suspeita que ameaçava a integridade física de dois militares da tropa que estavam na trajetória do veículo, foram realizados 4 disparos de armamento letal".

Após os disparos, o veículo parou e a tropa prestou socorros aos passageiros e encaminhou os feridos à Unida de Pronto Atendimento (UPA) da Vila do João.

A Força de Pacificação disse também que já iniciou procedimento administrativo para apurar o ocorrido e que seus integrantes são militares treinados para "Garantir a Lei e a Ordem (GLO), estando preparados para esse tipo de situação".

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