João Olavo Soares de Souza cresceu em meio a uma família de adoradores do esporte. Mais conhecido
como Feijão, o tenista, nascido e criado em Mogi das Cruzes, cidade da Grande São Paulo com pouco mais de 400
mil habitantes, quase seguiu outro esporte. O atleta, que quando menino sequer gostava de feijão, cresceu, conquistou seu espaço no cenário mundial e, nesta segunda-feira, subiu mais duas posições e atingiu o 75º lugar no ranking da ATP, assumindo a condição de número 1 do
Brasil. Aos 26 anos, ele alcança sua melhor marca na carreira.
Impulsionado pelo bom desempenho
no Aberto do Brasil (semifinal), em São Paulo, e no Aberto do Rio (quartas de final),
torneios disputados em fevereiro, e pelo insucesso de Thomaz Bellucci (87)
nas mesmas competições, Feijão chegou ao posto de melhor tenista
brasileiro pela quarta vez na carreira, mas a primeira na condição
de top 100 do ranking mundial da ATP.
Quando a elite do tênis ainda era um sonho distante, o garoto João Olavo deu os primeiros
passos no esporte no basquete e chegou a integrar a categoria
infantil do então time de Mogi das Cruzes, que ainda mantinha uma
parceria com o Corinthians. O primeiro contato com as raquetes foi
aos 8 anos de idade, quando já mostrava habilidade e um talento
acima da média para os meninos da idade em um clube de Mogi.
por que feijão?
O apelido que se difundiu no mundo
do tênis acompanha João há muitos anos. Mas por que do nome ligado a um dos alimentos mais presentes na
culinária brasileira? De acordo com o pai, Milton Soares de Souza,
João era enjoado para comida e, ao contrário do que muitos imaginam, nem sempre teve uma boa relação com
o feijão.
- Quando ele era bem pequeno, detestava
feijão. Foi uma criança muito enjoada para comer, e nem podia sentir o cheiro de feijão. Depois não sei o que aconteceu, mas
agora ele não vive sem. Em qualquer lugar que está, pede um potinho de feijão – lembrou Milton.
-
Não
lembro
que não gostava, meus pais diziam que eu era muito pequeno na época.
Passei
a gostar muito depois. Minha
avó fazia um ótimo feijão,
assim como minha mãe –
falou Feijão.
início da carreira
Mas antes de o apelido pegar, João já demonstrava uma habilidade fora do comum para o tênis. Se está na posição que se
encontra atualmente, ele deve isso ao seu primeiro treinador,
Adalberto Pinos, que foi quem viu que o menino tinha um talento acima da média.
- Ele (Feijão) costuma dizer que
começou com 9 anos, mas ele começou mesmo aos 8. Um ano depois já era um campeão. Ele começou vendo o pai, a irmã e os
amigos jogando, então também resolveu entrar para fazer aulas
comigo. Logo no começo deu para perceber que era diferenciado.
Jogava muito fácil e tinha facilidade em fazer jogadas que outros
garotos da mesma idade não conseguiam fazer – lembrou Pinos.
influência da família
Feijão sempre foi cercado por uma
família que adora esportes. O avô, conhecido como Miltão, era jogador de
basquete. O próprio Miltinho, como o pai de Feijão gosta de ser
chamado, também sempre foi ligado à prática de esportes, principalmente o vôlei, e a irmã,
Maria Clara, era fã do tênis e se aventurava em campeonatos
oficiais em São Paulo.
- A Maria Clara jogava pela
Federação Paulista e, como nós éramos sócios de um clube, sempre
íamos bater uma bolinha. Um dia, o João perguntou se podia
jogar, e foi assim que ele começou a gostar – explicou Miltinho, o
pai.
- Sempre que posso acompanho o João quando ele está no Brasil. Neste
ano, por exemplo, fui ao Aberto do Brasil e ao Aberto do Rio, mas preciso me
virar para conseguir acompanhar. Sinto muita falta dele. É uma
saudade imensa para mim, que sou mãe. O João é um menino muito
família. Quando ele está no Rio, tento ir aos fins de semana para
poder vê-lo e diminuir essa falta que ele faz. Também nos
falamos pela internet e por telefone todos os dias, sem falta - falou Maria Angela Lima, mãe do tenista.
basquete e futebol
É difícil imaginar que um jogador que
precisa acertar uma bolinha com pouco mais de seis centímetros de
diâmetro tenha tido o primeiro contato com o esporte com uma bola
muito maior e com estilo totalmente diferente. O pai Miltinho lembrou que foi com o basquete
que Feijão começou a praticar esportes (veja o vídeo abaixo), incentivado pelas histórias
do avô, que foi campeão sul-americano pelo time do Sírio
Libanês, da capital paulista.
- Meu avô jogou pelo Sírio e eu só o
via jogando por meio de fotos e ouvia as histórias, mas eu tive de
escolher com 11 anos de idade e gostava mais do tênis, por isso
resolvi fazer essa escolha – falou o tenista número 1 do Brasil.
Feijão também admite que sua relação
com o esporte mais popular do país não é muito boa.
-
No futebol
sou muito ruim, não jogo nada. Sou meio desengonçado.
Torço pelo São Paulo, mas não perco meu dia por uma partida de
futebol – divertiu-se o tenista.
profissionalização
Se
para a maioria dos garotos de 15 anos a preocupação é ir bem na
escola, começar a pensar qual faculdade cursar ou qual jogo colocar
no videogame, para
o tenista de Mogi das Cruzes essa foi a idade na qual ele decidiu se tornar
profissional.
-
Em um dos torneios que ele disputou, recebeu a proposta para ir
treinar em São Paulo, no Brooklin (bairro paulistano) e ele estava
disposto a ir, com apenas 15 anos. Não tínhamos condições
financeiras, ele iria sem estrutura. Como pai fiquei preocupado, mas
ele disse “pai, eu vou. Eu quero. Vou ser profissional.”. Lembro
dele sentado no sofá de casa, dizendo que eu podia escrever que ele
seria um profissional. Para mim, ele estar onde está hoje é uma
satisfação sem tamanho. Me orgulho do meu filho – falou Miltinho.
evolução e atual momento
Para
o atual técnico, Ricardo Acioly, Feijão está apenas no início do
melhor momento da carreira, evoluindo o jeito de jogar e seu
desempenho em quadra.
-
Na minha visão, o Feijão está entrando no início dos melhores
anos da sua carreira. Ano passado ele conseguiu solidificar boas
coisas dentro e fora da quadra que irão ajudar a atingir todo o
potencial como jogador de tênis. Ele está amadurecendo e se
entendendo melhor a cada dia e, com isso, vai maximizando as qualidades
do seu jogo – explicou Acioly.
O bom momento de Feijão também o fez retornar para a equipe brasileira que disputa a Copa Davis. Após não ter sido convocado nas últimas participações da equipe, ele voltou a ser lembrado pelo capitão João Zwetsch e vai defender o Brasil contra a Argentina, entre os dias 6 e 8 de março.