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Cabello afirma que sanções são ‘prenúncio de ataque militar’

Venezuela convoca encarregado de negócios com os EUA para consultas. Medida é resposta a declaração de Obama que classificou país como ‘ameaça à segurança nacional’
Protesto de mulheres no domingo novamente voltou foco a Maduro Foto: FEDERICO PARRA / AFP
Protesto de mulheres no domingo novamente voltou foco a Maduro Foto: FEDERICO PARRA / AFP

WASHINGTON — O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Diosdado Cabello, afirmou que as sanções dos Estados Unidos a membros do governo representam o prenúncio de um ataque militar contra o país.

— Rechaçamos as intenções do imperialismo americano, e o que vem pela frente são ataques militares contra nosso território. Essas resoluções são usadas pelo imperialismo cada vez que um povo está prestes a ser atacado. Que armas temos para ameaçar os Estados Unidos? A dignidade. Esse é o sentimento das cúpulas imperiais que querem colocar suas garras sobre nosso país, e principalmente sobre nisso petróleo — afirmou Cabello, destacando que os Estados Unidos não têm envergadura moral para alegar que na Venezuela os direitos humanos são violados. — A maior potência do planeta afirma que nós, um país pequenino, somos uma ameaça a eles.

Cabello comentou o congelamento de bens dos nomes incluídos na lista de sancionados, e afirmou que aqueles que mantêm bens no exterior roubaram dinheiro da Venezuela.

— Um funcionário do governo que faça seu trabalho corretamente não pode ter dinheiro em lugar nenhum do mundo — disse o presidente da Assembleia. — Se tem bens em outro país, certamente está roubando.

Além de mandar uma mensagem ao presidente americano, Barack Obama, Cabello garantiu que a Venezuela jamais perderá sua dignidade.

— Se tivermos que passar fome, passaremos fome, mas este povo jamais perderá a dignidade, os valores, o amor e a luta para seguir adiante — afirmou.

O governo venezuelano convocou nesta segunda-feira o encarregado de negócios com os Estados Unidos, horas depois de Washington anunciar um novo pacote de sanções contra membros do governo venezuelano e classificar a Venezuela como “uma ameaça a sua segurança nacional”.

“Convocamos Maximilien Arveláiz, encarregado de negócios com os Estados Unidos, para consultas imediatas”, escreveu a chanceler venezuelana, Delcy Rodríguez, em sua conta no Twitter.

Atualmente a Venezuela não mantém um embaixador em Washington, assim como os Estados Unidos também não têm um embaixador em Caracas, o que faz dos encarregados de negócios as autoridades máximas nas relações diplomáticas entre os dois países.

AMEAÇA AOS EUA

Obama assinou uma ordem executiva nesta segunda-feira, declarando a Venezuela uma ameaça à segurança nacional, impondo sanções a sete cidadãos do país e manifestando preocupação com o tratamento dispensado a opositores. Entre eles, estão figuras-chave das Forças Armadas, a polícia, o serviço central de inteligência e a promotora que incriminou os opositores María Corina Machado e Antonio Ledezma.

“Funcionários do governo venezuelano no presente e no passado que violam os direitos humanos de cidadãos venezuelanos e se engajam em atos de corrupção pública não serão bem-vindos. E nós agora temos ferramentas para bloquear seus bens e o uso deles nos sistemas financeiros americanos”, declarou o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, em comunicado.

O secretário do Tesouro, Jacob Lew, afirmou que as sanções são voltadas para figuras que promoveram violência contra manifestantes ou detenções arbitrárias, como a do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma. Seus vistos americanos serão suspensos e seus bens em investimentos americanos, bloqueados.

O texto lamenta “os esforços do governo venezuelano para aumentar a intimidação de oponentes políticos. Os problemas venezuelanos não podem ser resolvidos com a criminalização”. Diz ainda que "a única maneira de resolvê-los é através do diálogo verdadeiro, e não detendo oponentes e tentando silenciar as críticas".

“Os EUA continuam comprometidos em manter vínculos fortes e duradouros com o povo da Venezuela e em melhorar a relação com o governo”, conclui a mensagem, que menciona ainda que a Casa Branca pede também a libertação de todos os prisioneiros políticos.

Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, sustenta que a crise política vivida no país decorre de uma tentativa de golpe de Estado orquestrada pelos EUA. No fim de semana retrasado, ele anunciou a detenção de cidadãos do país que teriam sido contratados para espionar em solo venezuelano. Ele também ordenou a redução de pessoal da embaixada americana em Caracas.

Desde que assumiu a Presidência em 2013, Maduro tem denunciado planos de golpe da oposição com o apoio dos EUA. Recentemente, a Venezuela pediu ao governo americano para reduzir seu corpo diplomático em Caracas em 80%.

OS SETE SANCIONADOS

Antonio José Benavides Torres : comandante de Defesa da Forças Armadas e ex-diretor de operações da Guarda Nacional Bolivariana. Acusado pelos EUA de compactuar com excessos da guarda.

Gustavo Enrique González López: diretor-geral do Sebin está entre os alvos de sanções dos EUA Foto: Reprodução
Gustavo Enrique González López: diretor-geral do Sebin está entre os alvos de sanções dos EUA Foto: Reprodução

Gustavo Enrique González López : diretor-geral do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin). Acusado de dar aval e apoio a repressão e detenções extrajudiciais, como a do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma.

Justo José Noguera Pietri : ex-comandante-geral da Guarda Nacional Bolivariana. Acusado de compactuar com excessos da guarda.

Katherine Nayarith Haringhton Padron : promotora do Ministério Público. Acusada de cooperar com abusos ao acusar e incriminar"sem provas" e argumentos membros da oposição como a deputada María Corina Machado e o prefeito Antonio Ledezma.

Manuel Eduardo Pérez Urdaneta : diretor da Polícia Nacional Bolivariana. Acusado de dar aval e apoio a violência excessiva por parte do órgão, principalmente no auge dos protestos, em fevereiro de 2014.

Manuel Gregorio Bernal Martínez : chefe da 31ª Brigada do Exército Bolivariano e ex-diretor do Sebin. Acusado de cooperar com a reação de agentes que mataram duas pessoas perto do gabinete do procurador-geral.

Miguel Alcides Vivas Landino : inspetor-geral das Forças Armadas e ex-comandante de Defesa integral da região dos Andes.