14/11/2014 11h15 - Atualizado em 14/11/2014 15h40

Empresas investigadas têm contratos bilionários com a Petrobras

Operação Lava Jato investiga esquema de lavagem e desvio de dinheiro.
Apenas com a Petrobras, empresas têm contratos que somam R$ 59 bi.

Adriana Justi e Bibiana DionísioDo G1 PR

Coletiva de imprensa na sede da Polícia Federal explica a sétima fase da Operação Lava Jato (Foto: Adriana Justi/G1)Coletiva de imprensa na sede da Polícia Federal explica a sétima fase da Operação Lava Jato (Foto: Adriana Justi/G1)

As apreensões, diligências, quebras de sigilo e depoimentos – colhidos durante toda a Operação Lava Jato – produziram um material robusto que prova o envolvimento de nove empreiteiras com formação de cartel e desvio de recursos para corrupção de entes públicos, segundo a Polícia Federal (PF). O delegado Igor Romário de Paula afirmou que, apenas com a Petrobras, essas empreiteiras têm contratos que somam R$ 59 bilhões. Boa parte destes contratos estão sob avaliação da Receita Federal, do Ministério Público Federal (MPF) e da Polícia Federal. Nesta sexta-feira (14), a polícia deflagrou a sétima fase da Lava Jato em cinco estados e no Distrito Federal. Durante todo o dia serão cumpridos mandados de busca e apreensão e de prisão.

A Lava Jato  foi desencadeada em março deste ano e revelou um esquema bilionário de lavagem de dinheiro. Ao todo, devem ser cumpridos 85 mandados em cidades do Paraná, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Distrito Federal. Os mandados foram expedidos pela Justiça Federal do Paraná, responsável pelas investigações. Já haviam sido presos o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto da Costa e o doleiro Alberto Youssef, acusado de comandar o esquema. Costa cumpre a prisão em domicílio no Rio de Janeiro e o doleiro está preso na sede da PF, em Curitiba. Segundo a polícia, dois investigados nesta fase têm ligação com Youssef.

 

"Nós trabalhamos desde o começo com foco específico na atuação de doleiros, no processo de movimentação financeira de dinheiro de recursos de origem ilícita focado nos doleiros e na lavagem desses ativos. A investigação vem avançando e completa na segunda-feira (17) oito meses. A fase desta sexta-feira tem o objetivo de buscar mais elementos de algumas empresas envolvidas, empresas para as quais os elementos de provas colhidos até agora são bem robustos", acrescentou Igor de Paula.

Até as 11h, foram cumpridos 49 mandados de busca e apreensão – em residências e escritórios de advocacia – quatro de prisão preventiva, 14 de prisões temporárias e seis de condução coercitivas.

Nesta fase, 27 pessoas devem ser presas, segundo a PF. Entre as prisões já realizadas está a do ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque. Indicado pelo PT para o cargo de alto escalão, ele foi preso em sua residência, no Rio de Janeiro, e conduzido para a superintendência local da PF. Também foram expedidos, segundo a Polícia Federal, mandados de prisão de funcionários das empresas Camargo Correa, OAS, Mendes Junior, Engevix e Galvão Engenharia, UTC e IESA, além de mandados de busca e apreensão nas sedes das empresas Queiroz Galvão, IESA, Galvão Engenharia, Camargo Correa, OAS, UTC/Constran, Odebretch, Mendes Júnior e Engevix.

As prisões foram direcionadas aos executivos das empreiteiras, que participaram dos contratos. “As pessoas investigadas tinham o hábito de dormir em hotéis, em outros apartamentos. Eles tinham a intenção de ficar fora de casa, temendo que essa a operação fosse realizada”, disse Igor de Paula. Conforme o delegado, houve também a prisão de alguns agentes secundários, suspeitos de envolvimento no transporte de valores para doleiros e no processo de lavagem de ativos.

Em Curitiba, são dois mandados de busca e apreensão e um de prisão prisão preventiva, direcionado a um empresário de uma das empresas investigadas, que tem contratos com a Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, e com a Abreu e Lima, em Pernambuco. Os mandados de busca foram cumpridos, já o de prisão está em aberto porque o empresário não foi localizado. A polícia não divulgou o nome deste empresário e nem qual seria o envolvimento dele nos esquemas investigados pela Lava Jato.

Todos os investigados que ainda não foram encontrados, esclareceram os delegados, já tiveram seus nomes registrados no sistema da Polícia Federal e estão impedidos de deixar o país. Os nomes dos investigados com mandado de prisão preventiva também foram incluídos na lista de alerta vermelho da Interpol.

A ação conta com 300 policiais federais, com apoio de 50 servidores da Receita Federal. A Lava Jato também desarticulou crimes de evasão de divisas e pagamento de propinas que operava inclusive dentro da Petrobras. Segundo a PF, foi decretado o bloqueio de aproximadamente R$ 720 mihões em bens pertencentes a 36 investigados. Além disso, o juiz federal Sérgio Moro, que está julgando a Lava Jato na primeira instância, autorizou o bloqueio integral de recursos financeiros de três empresas que seria de propriedade de um dos operadores do esquema criminoso.

Os principais contratos sob suspeita são a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, que teria servido para abastecer caixa de partidos e pagar propina, e o da construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, da qual teriam sido desviados até R$ 400 milhões. De acordo com a polícia, também há contratos da Refinaria Presidente Getúlio Vargas, em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba.

Delações premiadas
Na última terça-feira (12), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que, ao menos, nove pessoas já concordaram em colaborar com as investigações da Operação Lava Jato com a delação premiada. Além disso, outras já se interessaram em apontar nomes de envolvidos e fatos relacionados ao suposto esquema de pagamento de propina a políticos a partir de contratos da Petrobras, foco da investigação.

O Supremo Tribunal Federal (STF) já homologou a delação premiada do ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Janot relatou que há outras três delações concluídas e prontas para serem homologadas.

Além disso, informou o chefe do Ministério Público, mais “cinco ou seis” colaboradores estão negociando acordo semelhantes com os procuradores responsáveis pelo caso, entre eles o doleiro Alberto Youssef, apontado como um dos líderes da organização criminosa.

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