O rock singular de "St. Vincent", que passeia de funk robótico a melodias sedutoras, já seria suficiente para um show marcante no Lollapalooza. Mas o repertório do seu quarto disco não é o único trunfo de Anne Clark, norte-americana de 32 anos, em apresentações eletrizantes. Ela é detalhista: planeja tudo que envolve sua performance, do visual dela e dos músicos (algo "fundamental") a dancinhas não convencionais.
"Eu acho que se você está no palco, como artista, tudo é importante", explica Anne em conversa rápida por telefone com o G1, definindo o show como uma "jornada psicodélica". Com um Grammy de álbum alternativo na bagagem, Anne, conhecida pelo nome artístico St. Vincent, estreia no Brasil. Ela vai no dia 24 ao Rio, 26 a BH e 28 ao Lollapalooza em SP.
A cantora e guitarrista disse ser fã de Caetano e Mutantes; falou sobre cantar com o Nirvana no lugar de Kurt Cobain e comentou as composições intrigantes que mostrará aqui. Ainda falou das partes mais teatrais do show, como costuma mostrar no final da música "Prince Johnny" (veja no YouTube): "Pulo, caio, rastejo escada abaixo...".
St. Vincent, Dave Grohl e Krist Novoselic na 29ªcerimônia de indução ao Rock and Roll Hall of
Fame (Foto: Larry Busacca/Getty Images/AFP)
G1 - Dave Grohl e Krist Novoselic chamaram você e Lorde para um tributo lembrando o feminismo de Kurt Cobain. Conversou com eles sobre a ideia?
Anne Clark - Nós conversamos, mas não foi nada sério, só passamos um tempo juntos nos divertindo. Mas a experiência de cantar nesse show foi tão impactante que nem consigo colocar em palavras. Significou tanto para mim, e o Nirvana significou tanto para o mundo... Eu me sinto incrivelmente sortuda por ser uma pequena parte do legado deles.
G1 - As letras do seu disco descrevem cenas ao mesmo tempo comuns e fantásticas. Quando escreve, você parte de coisas que aconteceram ou de fantasias e sonhos?
Anne Clark - Eu acho que você só pode escrever o que conhece. Obviamente há uma grande parte da imaginação que entra aí. Mas eu escrevo o que experimento, sobre minha vida. E eu crio personagens das pessoas que eu conheço, e de mim mesma. É tudo uma colagem da minha vida
G1 - Sobre o verso de 'Prince Johnny' (ouça) em que você diz que 'cheirou um pedaço do Muro de Berlim', você já disse que isso aconteceu, literalmente. Como foi?
Anne Clark - De novo, eu escrevo sobre minha vida. E sobre meus amigos selvagens...
G1 - Quando você escreveu 'Digital witness' (ouça), estava irritada com alguém específico tirando selfies?
Anne Clark - Não. Eu só questionei onde estamos agora, e parece que a gente está vivendo vidas paralelas. Temos as versões analógicas e as versões digitais de nós mesmos: os tipos que criamos online, os avatares. Às vezes parece que a serpente come o rabo e acabamos nos tornando essas versões fictícias de nós, que vivem online.
G1 - Durante o show, você nota pessoas tirando selfies e fotos de você, ao mesmo tempo em que canta sobre isso?
Anne Clark - Eu peço educadamente às pessoas para estarem no momento e se concentrar na jornada psicodélica. [Ela já pediu para os fãs desligarem os celulares em shows]. Mas não é uma ordem. O show também é feito para ser um pouco "meta". Às vezes eu pego a câmera das pessoas e tiro foto delas. É divertido.
St. Vincent no clipe 'Birth in reverse' (Foto:Divulgação)
G1 - No palco, você sempre está com roupas incríveis, de salto, com um figurino diferente. Como escolhe suas roupas? Alguém te ajuda? Você planeja esse visual com a mesma atenção de aspectos do show?
Anne Clark - Sim. Eu acho que se você está no palco, como artista, tudo é importante. Certamente o visual é fundamental. Eu tenho alguns vestidos que foram feitos especialmente, por encomenda, e o resto eu desenhei eu mesma. Assim como os da banda.
G1 - As danças e movimentos peculiares no show são igualmente planejados?
Anne Clark - Eu tenho que pensar. Eu sempre uso salto, e tenho que usar sempre o mesmo par. Por que no show há muita dança. Eu tenho que estar confortável nos sapatos que visto e em como eu me movo. Eu tenho que estar certa das coisas. Há muitas coisas logísticas que têm que acontecer direito. Eu pulo no público, caio, rastejo escada abaixo. Então tem que estar tudo ok para não dar errado.
Anne Clark, conhecida pelo nome artístico St. Vincent (Foto: Divulgação)
