Saúde

Redução de mortes por doença leva população mundial a viver mais

Brasil tem perfil de mortalidade parecido com países ricos. Males da idade, como cardiovasculares, são os grandes vilões
Novos desafios. Doenças ligadas ao envelhecimento: prevalentes no Brasil Foto: Gustavo Stephan/31-01-2014
Novos desafios. Doenças ligadas ao envelhecimento: prevalentes no Brasil Foto: Gustavo Stephan/31-01-2014

RIO - A população mundial está vivendo mais, embora os contrastes entre os países continuem evidentes e, portanto, seus desafios em saúde sigam por caminhos diversos. Entre os fatores que puxam a curva está a redução de mortes por doenças infecciosas. As doenças cardiovasculares se mantêm como a principal causa de óbitos no mundo.

Com isso, a expectativa de vida global passou de 65,3 anos, em 1990, para 71,5 anos em 2013. As mulheres tiveram maior ganho: elas têm vivido 6,6 anos a mais, contra 5,8 dos homens. As conclusões são de um amplo estudo publicado hoje na revista “Lancet”, com mais de 700 pesquisadores de 188 países.

No Brasil, o estudo reforça uma tendência que já vinha sendo notada nas últimas décadas. O país tem progressivamente controlado as doenças infecciosas — relacionadas a um perfil de país menos desenvolvido — e se aproximado dos desafios de nações mais ricas, que enfrentam principalmente doenças relacionadas ao envelhecimento, entre elas as cardiovasculares e o mal de Alzheimer. Mas, entre as principais causas de mortes aqui, também figuram pneumonia, violência e acidentes de trânsito.

— O processo de transição epidemiológica ocorreu nas últimas décadas no país devido ao avanço da medicina e ao investimento em saúde — diz Itamar Santos, do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP.

Três doenças somam mais de 30% das mortes globais

Apenas três doenças — infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) — foram responsáveis pela maioria das mortes no mundo em 2013, representando 32% do total, de acordo com o estudo coordenado pela Universidade de Washington e divulgado hoje na “Lancet”.

Entre 1990 e 2013, países tiveram grandes progressos na redução da mortalidade por doenças como sarampo (83%) e diarreia (51%), mas, apesar da tendência de redução de óbitos globalmente, houve aumento em alguns casos: transtornos por uso de drogas (63%) e doenças crônicas renais (37%). Taxas de mortalidade de alguns tipos de câncer, incluindo de rim e pâncreas, também aumentaram. Por conta, em parte, do aumento da população, o número de mortes absolutas aumentou de 47,5 milhões para 54,9 milhões no período.

De acordo com a pesquisa, apesar do aumento da longevidade em países de baixa renda, os principais desafios de saúde enfrentados por nações como Bolívia, Nepal e Nigéria são muito diferentes daqueles de países como Japão, Espanha e Estados Unidos, onde as principais causas de morte são: infarto, AVC e câncer de pulmão. Já os países em desenvolvimento, como China e Brasil, estão mais perto da situação dos EUA.

— As pessoas hoje têm menos chances do que seus pais de morrer de determinadas condições, mas existem mais pessoas idosas no mundo — ponderou o diretor do instituto responsável pelo estudo, Christopher Murray. — Precisamos ter certeza de que estamos tomando as decisões certas nas políticas públicas hoje para nos preparar para os desafios de saúde e custos associados que estão por vir.

Enquanto isto, a importância da Índia no balanço global é cada vez mais representativo. Só o país somou 19% de todas as mortes do mundo, ou 10,2 milhões, em 2013. E, na África Subsaariana, a expectativa de vida aumentou devido à redução das mortes por diarreia, pneumonia e complicações ao nascer. A Aids, no entanto, continua sendo uma das principais causas de morte na região.