"Corre atrás dele, anota a placa, faz alguma coisa", disse Ricardinho, surfista, estirado ao chão em frente a sua casa na Guarda do Embaú, na Grande Florianópolis. Ricardo dos Santos havia acabado de ser baleado e berrava para o seu tio, Mauro da Silva, que também estava no local.
Os momentos seguintes aos três tiros, como relata o tio do surfista, foram de apreensão. As últimas palavras de Ricardinho foram ditas antes do socorro do Corpo de Bombeiros chegar para o atendimento. Na sequência, Mauro teria corrido em direção ao carro dos suspeitos e conseguido anotar a placa.
- Uma situação surreal. O cara sacou a arma e atirou. Não teve de fato uma discussão para atirar. Só pedimos para os "caras" saírem, o Ricardo olhou e falou duas coisas e saímos. Ele (suspeito) estava alterado, não conseguia falar muito. "A gente já vai sair, já vamos”, disse o irmão dele. O Ricardinho nem olhou para o "cara", ele atirou pelas costas, sem motivo algum – conta Mauro da Silva.
Segundo explica o tio, que também prestou depoimento para a Polícia, a situação teria ocorrido por volta das 8h40 da manhã desta segunda-feira. Mauro iria auxiliar em uma obra na casa do surfista. Juntamente com o jovem atleta, estaria o avô, Nicolau, para realizar a construção de encanamento residencial. Ao chegar no local, o tio se deparou com a cena em sua frente.
- O carro estava parado próximo da casa, e eles iam fazer uma parte do encanamento. Um Citroën C4 parou perto dos canos. Nisso passou o avô do Ricardo, seu Nicolau, e o cara falou uma gracinha. Aí o Ricardinho foi tirar satisfação, perguntando o que que tinha acontecido. Eu tinha acabado de chegar e escutei o Ricardo falar: “Saí daí cara, aqui não é lugar para isso, vamos fazer obra aqui”. O Ricardinho virou as costas e saiu, a situação já estava amenizada. Só que ele (suspeito) parecia embriagado, eram dois. O mais novo estava atrás do carro, acho que urinando. Eu fiquei um pouco para trás, e o Ricardo e o avô dele estavam pegando as ferramentas para começar a obra, uma enxada, essas coisas. Quando eu vi, o cara atirou – relata Mauro da Silva.
De acordo com informações do delegado da Comarca de Palhoça, Marcelo Arruda, responsável pelo caso, o irmão do policial suspeito de alvejar o surfista declarou que os tiros foram efetuados por legítima defesa. O PM, no entanto, ainda não prestou depoimento oficial. Segundo a assessoria de imprensa da corporação, ele irá permanecer preso em quartel da Polícia Militar em Florianópolis, a fim de facilitar maiores esclarecimentos sobre os fatos.
- São duas versões conflitantes. Uma parte diz que
seria legitima defesa, a outra diz que os disparos foram injustificados, que
não houve nenhuma agressão que motivasse esses disparos - disse o delegado.
O tio acompanha, juntamente com outros familiares e amigos, a situação
em frente ao hospital Regional de São José, cidade vizinha a
Florianópolis. O estado de saúde do surfista Ricardo dos Santos é considerado gravíssimo, segundo informação de familiares. Baleado na manhã desta segunda-feira, em frente à casa onde mora, na Guarda do Embaú, Grande Florianópolis, o atleta passou por duas cirurgias. Até o momento, ele segue internado, acompanhado pelos médicos do hospital Regional de São José. Ainda de acordo com familiares, que estão em frente ao setor de emergência do hospital, o surfista teve as hemorragias controladas pela junta médica no começo da tarde, por volta das 13h30. Entretanto, a situação é tida como muito grave diante dos três tiros que recebeu.
Até as 18h desta segunda, o hospital não havia divulgado o boletim oficial sobre o caso de Ricardinho. As informações, segundo explica o pai da namorada do surfista, Voleny Esser, são colhidas com a mãe, Luciane Dalcema dos Santos, e também com a companheira, Karoline Esser, que estão acompanhando de perto os procedimentos.