30/06/2015 13h26 - Atualizado em 30/06/2015 15h31

'Faltou audácia', diz ambientalista sobre anúncio de Dilma nos EUA

Presidente prometeu zerar desmatamento ilegal até 2030.
Anúncio com Obama planeja reflorestamento e mais energia renovável.

Eduardo CarvalhoDo G1, em São Paulo

A presidente Dilma Rousseff e o presidente dos EUA, Barack Obama, se reúnem no salão oval da Casa Branca, em Washington (Foto: Kevin Lamarque/Reuters)A presidente Dilma Rousseff e o presidente dos EUA, Barack Obama, se reúnem no salão oval da Casa Branca, em Washington (Foto: Kevin Lamarque/Reuters)

O anúncio da presidente Dilma Rousseff feito nos Estados Unidos de que o Brasil vai reflorestar 120 mil km² de florestas (uma área equivalente à metade do estado de São Paulo), aumentar a geração de energia por fontes renováveis e combater o desmate ilegal até 2030 foi considerado pouco audacioso pelo diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Paulo Moutinho.

Segundo ele, a promessa de zerar o desmatamento ilegal nos próximos 15 anos é “tímida” e significa “tolerar a ilegalidade” por mais de uma década. "Ilegalidade é algo que precisa ser combatido por lei e não pode ser parte substancial de uma meta", complementou o ambientalista.

“É um processo que poderia ter muito mais efeito nos próximos 5 anos, por exemplo. É o mesmo que falar o seguinte: teremos tolerância zero com a falta do uso do cinto de segurança, mas vamos levar 15 anos para monitorar isso. Nesses 15 anos, muitas pessoas vão morrer por causa disso”, explica Moutinho.

Os compromissos divulgados nesta terça estão em documento assinado por Dilma e pelo presidente norte-americano Barack Obama na Casa Branca, em Washington.

Reflorestamento tem gargalos
Para Paulo, anunciar números de restauro de floresta é importante, mas "tem um gargalo que é saber como isso será financiado, já que os custos de restauro continuam altos". "Os dois países podem encontrar meios financeiros para isso. A meta ajuda nesse sentido, de você encontrar meios para se chegar lá", afirma o diretor do Ipam.

Ilegalidade é algo que precisa ser combatido por lei e não pode ser parte substancial de uma meta"
Paulo Moutinho, pesquisador do Ipam

Na declaração, o governo brasileiro afirma que vai aumentar a participação de fontes renováveis, tanto para geração de energia como para biocombustíveis, entre 28% e 33%, também até 2030.

Além disso, foi anunciada a criação de um grupo de trabalho entre os dois países sobre mudanças do clima, com o objetivo de "ampliar a cooperação bilateral em questões relacionadas ao uso da terra, energia limpa e adaptação, bem como diálogos políticos sobre a questão climática em nível nacional e internacional."

O documento, no entanto, não apresenta as metas nacionais brasileiras que serão levadas para a Conferência do Clima de Paris, quando será fechado um novo acordo global para frear o aquecimento global e, com isso, conter a mudança climática.

"A esperança é que no anúncio das INDCs (Contribuições Intencionais Nacionais Determinadas, na tradução da sigla em inglês) as metas de combate ao desmatamento surjam mais concretas", complementa.

Qual o objetivo das INDCs?
A apresentação de metas nacionais é um dos principais elementos que vão dar corpo ao novo acordo global do clima, em negociação no âmbito das Nações Unidas. Cada país precisa apresentar o que vai fazer para diminuir os gases de efeito estufa “dentro de casa”. A decisão foi definida na última cúpula do clima, a COP 20, em Lima, no Peru.

O futuro tratado – obrigatório a todos os países (legalmente vinculante) – tentará conter a temperatura do planeta em 2ºC até o fim deste século e, com isso, frear as alterações climáticas, que podem provocar catástrofes naturais em todo o mundo.

Estados Unidos, União Europeia e outros países desenvolvidos já anunciaram o que vão realizar. No entanto, os principais emissores de gases de efeito estufa – Índia, Austrália e Brasil – não divulgaram seus planos.

IPCC - arte (Foto: G1)

 

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