Foi no sufoco, mas deu. Contra um adversário que nunca venceu em uma edição de Mundial masculino de
handebol, o Brasil teve que suar muito para se certificar de que a escrita chilena não
fosse quebrada nesta sexta-feira. Depois de passar quase todo o primeiro tempo atrás no placar, a seleção brasileira prevaleceu na segunda etapa e derrotou o Chile, no Lusail
Hall, em Lusail. Os comandados do técnico Jordi Ribera passaram pelos oponentes sul-americanos por 30 a 22, conquistaram a sofrida
vaga nas oitavas de final do Mundial do Catar e entraram no caminho da Croácia, uma das seleções favoritas ao título.
Capitão da seleção, Zeba foi o principal jogador do Brasil em quadra,
cobrando os companheiros, mostrando talento nos ataques e marcando sete
gols - ele foi o artilheiro da partida. João, que entrou no segundo tempo, também ajudou a mudar a cara do
jogo, com os cinco gols só na última etapa.
- Não entrei no primeiro tempo, então fiquei acompanhando do banco e vendo as falhas da defesa deles. Consegui ver isso, entrar e fazer o um contra um. É algo que já tinha estudado antes do jogo, no vídeo, e a gente colocou em prática. Consegui fazer os gols, vencemos e é o que importa - disse o central João, eleito pela IHF (Federação Internacional de Handebol) o melhor jogador do confronto.
O histórico do Chile não era bom. O handebol não é
tradicional no país, e a seleção disputa apenas o seu terceiro
Mundial. Nos dois últimos foi 22º e 23º, ocupando as últimas colocações e
ficando fora da segunda fase. A equipe nunca venceu na primeira fase dessas três participações (2011, 2013 e 2015), acumulando agora 14 derrotas e um empate.
- É um time que está acostumado a jogar contra a gente, consegue ler melhor os nossos pontos fortes e fracos, e isso dificulta o nosso trabalho. Mas depois, no segundo tempo, conseguimos equilibrar, melhorar nosso comportamento e nos minutos finais eles cansaram e conseguimos com as trocas fazer os gols e conquistar a vitória - disse o armador Thiagus.
Com quatro pontos (duas vitórias
e três derrotas), o Brasil ficou em quarto
lugar do Grupo A, atrás de Espanha, Catar e Eslovênia. Belarus e Chile, respectivamente quinto e sexto colocados, vão disputar a President's Cup, mata-mata com os dois últimos colocados de cada chave.
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O Brasil vai encarar uma pedreira nas oitavas de final: a
Croácia, campeã mundial em 2003 e bicampeã olímpica (venceu em Atlanta 1996 e Atenas 2004). O duelo entre brasileiros e croatas será realizado no domingo, às 16h (de Brasília).
Essa é a terceira vez que o Brasil avança ao mata-mata de um Mundial. As outras foram em 1999, no Egito, e em 2013, na Espanha. Na última edição, inclusive, a seleção alcançou sua melhor participação: o 13º lugar, após a derrota para a Rússia, por 27 a 26, nas oitavas de final.
O Mundial do Catar tem transmissão ao vivo pelo SporTV e pelo SporTV Play, para assinantes do canal. O GloboEsporte.com também acompanha tudo em Tempo Real.
O jogo
Jordi só fez uma mudança em relação às formações que praticou
nos últimos jogos: trocou o central João, de 20 anos, pelo mais experiente
Diogo, de 31. O time, porém, começou a partida muito lento. Além de desperdiçar
diversas jogadas no ataque, os comandados de Jordi Ribera abriram muito espaço
para os chilenos, tanto com a defesa postada quanto tomando o contra-ataque.
Quando o Brasil sofreu dois gols em sequência com a defesa toda aberta e ficou
atrás por 5 a 2 - gols brasileiros marcados por Valadão e Zeba -, Jordi perdeu
a paciência e fez o primeiro pedido de tempo, aos 10 minutos de jogo, para
arrumar o time.
Disputando seu quinto Mundial, Zeba passou a entrar mais em
quadra e se tornou a principal figura do ataque brasileiro. Quando voltava para
o banco na hora em que o Brasil defendia, gritava pedindo mais atenção aos
companheiros. Guiados pelo capitão, a seleção encostou no placar duas vezes,
primeiro com mais um gol de Zeba e dois de Borges (6 a 5) e depois com novos
tentos dos camisas 3 e 18 (8 a 7). Então Diogo saltou para empatar o confronto
a pouco mais de dez minutos para o intervalo.
De tanto que a bola passava por Zeba, o capitão da seleção
por vezes recebia marcação individual. Num dos contatos com Frelijj, o camisa
23 chileno acertou uma cotovelada no armador brasileiro e recebeu o cartão vermelho,
sendo excluído da partida.
Com o placar em 9 a 9, o Brasil não soube aproveitar os dois
minutos que esteve em superioridade numérica. Pelo contrário, Araya de pênalti recolocou
o Chile à frente, em lance que deixou Chiuffa também fora de quadra por dois
minutos. E mais, se Bombom conseguia boas defesas, inclusive pegando tiro de 7
metros, os brasileiros se mostravam muito afoitos no ataque. Nem mesmo o quarto
gol de Zeba e o quinto de Borges foram suficientes para dar a liderança ao
Brasil. Para infelicidade da equipe, até um gol de Valadão, no último instante
da partida e que levaria a um novo empate, foi invalidado pela mesa de
arbitragem - o cronômetro já havia chegado aos 30 minutos antes de a bola
cruzar a linha. Assim o Chile foi para o intervalo do mesmo modo em que esteve
durante praticamente todo o primeiro tempo, em vantagem, por 13 a 12.
Ao retornar à quadra, o Brasil mostrou, já nos três primeiros
minutos, uma outra cara. Mais eficiente e aproveitando que o Chile tinha Reyes
cumprindo punição de dois minutos, a equipe ficou em vantagem pela primeira
vez em toda a partida, após um gol de João e dois de Lucas (15 a 14). Passaram-se cinco minutos até que os chilenos voltassem a estar ganhando (18 a 17), e outros cinco para o Brasil recuperar a frente, com o quarto gol de João, e em seguida ampliar com o primeiro de Japa (21 a 19)
Os goleiros foram importantes no final da partida. Rick pegou pênalti, e Bombom saltou para executar uma grande defesa no arremesso de Diaz, já iniciando o contra-ataque que resultou no segundo gol de Chiuffa no jogo. Em seguida, Valadão também balançou a rede, e o Brasil já tinha quatro gols de vantagem (26 a 22). O momento era tão bom que Rick entrou de novo na meta brasileira só para pegar outro pênalti (e o rebote) de Reyes. Zeba, por outro lado, não desperdiçou mais duas cobranças de 7 metros que teve, chegando a sete gols no jogo e deixando o Brasil com uma boa gordura no placar a menos de três minutos do apito final (29 a 22). No último ataque, Patrianova arriscou de longe para fechar o marcador: 30 a 22.