02/07/2015 19h11 - Atualizado em 02/07/2015 19h11

Casal reclama morte de bebê antes do parto em Rio das Ostras, RJ

Gestante diz que procurou atendimento três vezes; na quarta, perdeu o filho.
Para o pai, médicos queriam forçar parto normal.

Daniel SilveiraDo G1 Rio

Hospital de Rio das Ostras (Foto: Júnior Costa/G1)Fachada do Hospital de Rio das Ostras (Foto: Júnior Costa/G1)

Um casal morador de Rio das Ostras, na Região dos Lagos, reclama ter perdido o filho, ainda na barriga da mãe, por causa de uma suposta negligência médica em três atendimentos seguidos no Hospital Municipal da cidade. Segundo o pai, o comerciante Marcos Pacheco Steele, de 26 anos, com nove meses completos de gravidez, sua mulher recorreu ao pronto-atendimento público com fortes dores, mas os médicos adiaram em mais de uma semana para fazer uma cesariana. A criança nasceu morta. Em janeiro de 2014, dois casos semelhantes foram denunciados.

Steele conta que na gravidez do primeiro filho, a mulher, Rafaella Sales Rodrigues Santos, de 24 anos, foi acompanhada por médico particular, em outra cidade. A segunda gestação ocorreu com um intervalo de um ano, quando o casal já morava em Rio das Ostras. Segundo o comerciante, o pré-natal foi feito na rede pública. “No início, ela estava até gostando do atendimento na rede pública. No final que foi essa tragédia”, lamenta Marcos.

O comerciante diz que Rafaella já vinha sendo tratada com antibiótico, durante a gestação, devido a uma infecção urinária. No dia 13 de junho, ela foi ao Hospital Municipal reclamando muita dor, acreditando que poderia ser o início do trabalho de parto. “Ela já estava com 9 meses e uma semana de gravidez. Não fizeram ultrassom e falaram que a dor era proveniente da infecção. Mandaram ela continuar com o remédio”, conta Marcos.

Na semana seguinte a este atendimento, segundo Marcos, Rafaella voltou ao hospital duas vezes, ainda com fortes dores. A última foi no dia 20, uma semana após o primeiro atendimento. Ele afirma que ela foi rapidamente liberada nas duas vezes e que em nenhuma delas foi feito exame de imagem para verificar as condições do bebê.

Neste último atendimento, num sábado, Marcos conta que o médico agendou uma cesariana para a segunda-feira seguinte e medicou Rafaella com um medicamento para aliviar dores abdominais. “O remédio aliviou a dor. Mas, na madrugada ela retornou muito intensa. Fomos ao hospital domingo cedinho, um dia antes da data que o médico disse que faria o parto. Foi quando o médico disse que o bebê já estava morto. Ele disse que houve descolamento da placenta”, destacou Marcos.

Para o comerciante, o hospital quis forçar Rafaella a ter um parto normal, mesmo ela tendo sido submetida a uma cesariana um ano e dois meses antes. “Acho que poderiam ter salvado o bebê se eles tivessem mais cuidado. É revoltante você não poder ganhar o seu filho num hospital público”, reclamou.

Trauma prolongado
Marcos destaca que além do trauma de ver o filho ser retirado morto de seu ventre, Rafaella foi internada, após a cirurgia, na ala da maternidade. “Ela ouvia um monte de bebês chorando. No mesmo quarto havia outras mães, com seus filhos recém-nascidos no colo e parentes comemorando. Duas enfermeiras chegaram a perguntar a ela 'cadê o seu bebê', num total ato de descuido e descaso”, reclamou.

Hospital nega falha em atendimento
A Secretaria de Saúde de Rio das Ostras informou que abriu sindicância para apurar o caso, mas afirma que Rafaella Sales Rodrigues Santos sofreu um Descolamento Prematuro de Placenta (DPP). Segundo o órgão, o descolamento ocorre quase sempre de forma súbita e, na grande maioria das vezes, não é possível salvar o bebê. "É necessária a rápida intervenção médica, dada a hemorragia, para salvar a mãe, o que foi realizado pela equipe médica do Hospital Municipal de Rio das Ostras", diz nota da instituição.

Ainda segundo a secretaria, o exame de ultrassom não foi realizado porque não havia solicitação médica; uma vez que o diagnóstico era de infecção urinária. A instituição afirma ainda que o acompanhamento da gravidez na rede pública do município começou somente na 36ª semana de gravidez, o que não configuraria pré-natal. 

A secretaria acrescentou ainda que não houve, e não há, resistência alguma da equipe médica em realizar partos cesárea. Por fim, garante que a paciente permaneceu na enfermaria junto a outras mães porque, naquele dia, não havia vaga em outro leito e que o prontuário só é liberado se o paciente requerê-lo junto à Central de Documentação do Hospital Municipal. 

Dois casos em menos de 15 dias em 2014
Em janeiro do ano passado, duas mães acusaram o mesmo hospital de Rio das Ostras de negligência na realização de partos, que resultaram na morte dos bebês. À época, a prefeitura negou que a equipe tenha negligenciado atendimento devido e afirmou que a taxa de natimortos na unidade estava dentro do normal.

O primeiro caso ocorreu em 17 de janeiro. Ana Claudia Santos Oliveira, de 31 anos, grávida do primeiro filho, afirmou que aguardou atendimento por 40 horas, até que foi constatada a morte do bebê.

O segundo registro foi no dia 28, quando a dona de casa Cleide Cristina de Oliveira buscou atendimento para a filha, Kelly de Olivera, grávida do primeiro filho, mas acabou recebendo pedidos de desculpa, após a médica constatar a morte do bebê, ainda na barriga de Kelly.

Este ano, de acordo com o hospital, só nos primeiros quatro meses, foram realizados 542 partos, sendo o caso do filho de Rafaela e Marcos Pacheco o único óbito neonatal registrado em 2015.

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