A noite de 24 de setembro de 2013 vai ficar marcada para sempre na memória dos moradores do município de São Francisco do Sul, na região Norte de Santa Catarina. Naquela data começou o incêndio químico que durou quase 60 horas. A cidade precisou ser evacuada às pressas. A nuvem de fumaça chegou a ser vista em uma imagem em alta definição da Nasa.
"Quando chegamos no local, percebemos que a situação ia ser muito complicada. Ficamos muito tensos com o que vimos e, logo em seguida, começamos a acionar o apoio necessário, entre eles a Defesa Civil", relembra João dos Santos Júnior, comandate do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville.
O fogo começou no final da noite de 24 de setembro, em um armazém com mais de 10 mil toneladas de fertilizantes, e produziu uma reação química que se alastrou rapidamente. Parte da população, sobretudo a comunidade que residia em áreas próximas ao galpão, precisou deixar a cidade. O governo de Santa Catarina decretou situação de emergência.
"A orientação básica para as pessoas é que deixassem o local. Notícias falsas sobre mortos causou transtorno na cidade. Era um cenário de guerra, porque não tinha um estabelecimento aberto. Não tinha mantimento, não tinha supermercado, não tinha água e a gasolina também tinha acabado", afirma o delegado Leandro Almeida.
A maior parte dos 47,5 mil habitantes deixou São Francisco do Sul por quatro dias devido ao incêndio. Ao todo, 13 bairros foram atingidos. "A gente trabalhou na evacuação de toda aquela região próxima ao armazém", conta Santos Júnior. A fumaça só foi controlada na manhã do dia 27 de setembro, após quase 60 horas de trabalho das equipes.
60 horas (Foto: Corpo de Bombeiros Militar/
Divulgação)
O município de Araquari abrigou moradores que tiveram que deixar suas casas em São Francisco do Sul. Pelo menos 157 pessoas foram hospitalizadas após inalarem a fumaça. O bombeiro voluntário David Marcelino, de 59 anos, que trabalhou no combate ao incêndio, ficou quase dois meses internado.
"Nós acordamos e demos de frente com aquela fumaça. Não sabíamos o que estava acontecendo, o que era. Colocamos umas roupas e uns cobertores dentro do carro e saímos sem destino e sem saber o que estava acontecendo e o que ia acontecer", relata Geovane Gonçalves, presidente da Associação Amigos do Portinho.
Ação de combate
O trabalho contou com 200 profissionais e consumiu mais de dois milhões de litros de água. Nos dois primeiros dias, os bombeiros disseram que a estratégia usada para conter a reação abrangeu a utilização de pouca água e a retirada do material. Como não teve efeito, optaram pela técnica de inundação apenas no dia 26 de setembro, quando o incêndio foi controlado.
(Foto: Rodrigo Philipps/Agência RBS)
"No período, foi mobilizado Exército, Marinha, Aeronáutica, bombeiros militares e bombeiros voluntários de toda a região" contabiliza o ex-coordenador da Defesa Civil, José Eduardo Neto. "Foi um trabalho muito árduo e cansativo", destaca o comandante dos bombeiros voluntários.
Os peritos criminais do Instituto Geral de Perícias (IGP) apontaram que a reação foi causada, possivelmente, pela junção de substâncias não identificadas e a umidade relativa do ar "em estado crítico", além do ambiente que abrigava o material estar propício para que a queima ocorresse. O documento aponta diversas irregularidades no galpão.
Ainda conforme o documento, a situação do imóvel em relação às normas do Corpo de Bombeiros do estado contra incêndio estava "completamente irregular”, pois o local não possuía projeto preventivo contra incêndios, licença de construção ‘Habite-se’ e atestado de vistoria para funcionamento. Os dois sócios do galpão onde ocorreu o incêndio químico foram indiciados pelo ocorrido.