Edição do dia 21/12/2014

21/12/2014 22h43 - Atualizado em 21/12/2014 23h43

‘Queria não acreditar’, diz filho ao falar sobre o pai, Roger Abdelmassih

Vicente revelou que está com embriões deixados na clínica, falou sobre processo movido contra Abdelmassih e conta como rompeu com o pai.

Vicente Ghilardi. Médico especialista em reprodução humana. Filho do ex-médico Roger Abdelmassih, condenado a 278 anos de prisão pelo estupro de pacientes. Os dois trabalharam juntos por 14 anos.

Vicente condena o desaparecimento de uma parte dos embriões produzidos por Roger Abdelmassih. Diz que o pai nunca teve uma relação muito próxima com os filhos e conta como rompeu com ele.

Ele se apresenta como Vicente Ghilardi, prefere não usar o outro sobrenome, do pai: Abdelmassih.

Vicente, de 45 anos, é filho de Sônia, segunda mulher de Roger Abdelmassih, o ex-médico condenado a 278 anos de prisão por 56 estupros cometidos contra as próprias pacientes.

Vicente Ghilardi: Fica difícil a gente não acreditar em nada porque foram muitas vítimas. Eu queria não acreditar, para mim seria melhor, para toda a minha família.
Fantástico: Você estava lá dentro, Doutor Vicente. O senhor chegou a ver? Como é que era lá dentro?
Vicente Ghilardi: Eu nunca vi nada. E seu eu tivesse visto eu não estaria mais ali.

Vicente ainda era um bebê quando a mãe se casou com Roger, a quem ele chama de pai e de quem herdou o sobrenome. É médico especialista em reprodução assistida, como o pai, e trabalhou na clínica de Roger de 1996 até 2009.

Fantástico: Como era a relação de vocês?
Vicente Ghilardi: Ele era uma pessoa muito autoritária. Por conta disso que a minha relação com ele. Nada de briga, mas não era tão próxima.

Vicente não fala mais com o pai e está movendo um processo contra ele por danos morais e materiais. Alega que teve a carreira prejudicada e que herdou dívidas trabalhistas feitas por Roger.

Fantástico: Você gosta dele?
Vicente Ghilardi: Gostava muito dele, gosto muito dele. Ele é meu pai. A gente não pode agora querer também separar tudo. Fim, acabou, etc.

Roger foi preso, em agosto de 2014, no Paraguai. Nos três anos que passou foragido reclamava de ter sido abandonado pelos filhos. “Eu criei cinco, desgraçadamente, criei cinco. Nenhum saiu com a bandeira efetiva e todos viveram as minhas custas, debaixo de mim”, reclamou Roger Abdelmassih.

Vicente Ghilardi: Na época que ele resolveu fugir e que eu fui contra.
Fantástico: Você sabia que ele ia fugir?
Vicente Ghilardi: No dia. Que eu fui contra, eu falei: não faz isso que eu não vou mais falar com você. E esse foi o último dia que eu falei com ele.
Fantástico: Você sente saudade?
Vicente Ghilardi: Da parte familiar, de alguns momentos em família sim. Mas eu acho que eu estou tão chateado, tão triste com tudo que isso não está vindo muito para mim ainda. Essa saudade não está muito aflorada.

Ele decidiu dar esta entrevista depois da reportagem que mostrada no domingo (14) sobre o sumiço de embriões produzidos na clínica Abdelmassih.

No tratamento para engravidar, os óvulos são retirados da mulher, e os espermatozoides são coletados do marido. Em laboratório, o médico junta óvulos e espermatozoides e produz o embrião. É a fertilização in vitro. Parte dos embriões saudáveis é implantada na mulher.

Na reportagem do último domingo (14), quatro mulheres que fizeram o tratamento entre 1993 e 1999 disseram que estão procurando os embriões deixados na clínica de Roger.

Fantástico: Os embriões da clínica do Doutor Roger Abdelmassih estão com o senhor?
Vicente Ghilardi: Todos os embriões de pacientes que congelaram embriões até a data de dezembro de 2009 se encontram comigo. O mais antigo caso é de 1999.

Vicente explica que só o pai dele pode saber exatamente o que foi feito com os embriões de cada paciente antes de 1999, já que os prontuários médicos desapareceram quando a clínica foi fechada.

A artista plástica Silvia Franco fez o tratamento em 1997. Ela diz ter ouvido de Roger Abdelmassih que embriões viáveis também eram descartados.

Silvia Franco: Ele falou assim: descarto. Eu jogo fora. Como assim você joga fora? Eu pego, abro o tubinho de ensaio onde eles estão inseridos e despejo o liquido na pia do laboratório e eles vão pelo ralo.
Fantástico: Mesmo sendo embriões perfeitos?
Silvia Franco: Mesmo sendo embriões perfeitos. 

Fantástico: Algumas pacientes dizem que os embriões eram, ditos por Doutor Roger, de excelente qualidade. Se foram descartados foi um erro?

Vicente Ghilardi: Se eram de excelente qualidade e foram descartados não podia
Fantástico: Você acha que então existia um descontrole, uma falta de controle do material genético na clínica do Roger?
Vicente Ghilardi: Vendo como a gente trabalha hoje em dia, eu acho que as coisas poderiam ser diferentes. A gente poderia dar uma tranquilidade muito maior para essas pacientes.

Mas, esta semana, Luciana, que foi paciente de Roger Abdelmassih em 2002, procurou o Doutor Vicente e também não encontrou seus embriões.

“Expliquei que não eram todos os embriões que se congelava, você pode ter tido dez óvulos. Fertilizou sete, usou quatro, não significa que os outros três estão viáveis, tudo isso”, explica Vicente Ghilardi.

Três dias depois da reportagem de domingo (14), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária e as Vigilâncias Estadual e Municipal de São Paulo procuraram o Doutor Vicente. Ele entregou uma lista com os nomes dos donos dos 2 mil embriões que estavam na clínica de Abdelmassih.

Vicente Ghilardi: Todas as pacientes daquela clínica eram pacientes de um médico só.
Fantástico: Ele controlava tudo?
Vicente Ghilardi: Exatamente.

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