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Nota do Flu cria constrangimento no arbitral, e Eurico critica consórcio

Segundo mandatário vascaíno, posicionamento tricolor acaba com chance de diálogo, mas presidente do Flamengo ainda acredita em mudança na reunião de sexta na Ferj

Por Rio de Janeiro

Antonio Carlos Mantuano e Carlos Eduardo Pereira (Foto: Vicente Seda)Carlos Eduardo Pereira e Mantuano representam o Botafogo na reunião (Foto: Vicente Seda)

A nota oficial publicada pelo Fluminense em seu site não apenas deixou "vendido" o seu vice-presidente jurídico, Carlos Eduardo Cardoso, que não sabia da publicação, como encerrou a possibilidade de consenso no arbitral que debatia a promoção de ingressos para o Campeonato Carioca, nesta terça-feira, na sede da Federação de Futebol do Rio (Ferj). A decisão de colocar os preços entre R$ 5 e R$ 50 desagradou a Flamengo e Fluminense, que buscavam mudar a questão, o que só poderia ser feito com unanimidade no arbitral. Com a nota, esta unanimidade ficou inviável, especialmente pela participação da concessionária do Maracanã nas contestações, sob a alegação de que a empresa não tem ingerência sobre essas decisões. Sendo assim, os preços promocionais foram mantidos e a estreia tricolor permanece marcada para o Raulino de Oliveira, em Volta Redonda, alteração feita pela Ferj diante do posicionamento da concessionária do Maracanã, que receberia a partida contra o Friburguense. 

De acordo com pessoas presentes ao arbitral, as conversas não eram de total consenso, mas havia possibilidade de um entendimento até que o presidente da Ferj, Rubens Lopes, recebeu a nota oficial publicada pelo Fluminense. Inicialmente, o documento estava assinado também pelo Flamengo e pela concessionária do Maracanã. Lopes ordenou que fosse impressa uma cópia da nota para cada um dos presentes e a leu em voz alta, repudiando as colocações irônicas do texto tricolor e a assinatura da empresa que administra a arena. A possibilidade de consenso, então, se esgotou. O presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, pediu ao diretor executivo do clube, Fred Luz, que estava do lado de fora do arbitral, para solicitar a retirada do nome do clube da assinatura. Depois, ele explicaria que o Flamengo não participou da nota, mas mantinha os pontos defendidos nas notas oficiais emitidas em conjunto anteriormente.

Na sexta-feira, haverá uma reunião com os quatro presidentes dos grandes clubes. O tema, inicialmente, é o campeonato de 2016, mas é provável que continue a argumentação, principalmente por parte do Flamengo, que estima R$ 3 milhões de prejuízo no Estadual com os atuais termos, para que seja adotados critérios menos prejudiciais ao planejamento do clube para arcar com os custos da principal arena carioca depois da sua reforma para a Copa do Mundo.

- Essa nota não repercutiu bem, surpreendeu até o próprio representante do Fluminense. A nota não foi feliz. Tentaram inclusive ridicularizar alguns campeonatos, inclusive um que foi ganho pelo Botafogo em 90, e nos manifestamos contra - disse Carlos Eduardo Pereira, presidente do Botafogo.

O presidente do Vasco, Eurico Miranda, incentivador da proposta de preços promocionais para o ingresso, afirmou que não tinha problemas em negociar com o Flamengo e Fluminense, mas não aceitava a intromissão do Consórcio Maracanã na discussão.

- A nota não repercutiu bem, mas a reunião não caminhava como vocês estão pensando. O conselho arbitral é soberano para decidir preços de ingresso. Evidente que poderia haver alteração por unanimidade. Talvez a coisa caminhasse nesse sentido, mas a intervenção indevida, absurda do Consórcio Maracanã, que tem como único objetivo o lucro, tornou inviável. Não me recuso a debater e conversar com Flamengo e Fluminense, mas me recuso a debater com o consórcio. Então, minha posição de não dar a unanimidade. Nada muda enquanto o consórcio não vier a publico esclarecer que entraram de forma indevida nessa discussão. Ficou a ressalva de que se houver a retratação, poderíamos evoluir. O Vasco não é parceiro deles - disse Eurico.

Essa era a posição do mandatário vascaíno até a leitura da nota oficial divulgada pelo Fluminense, lida pelo presidente da Ferj, Rubens Lopes, durante o arbitral. Eurico disse que no momento o Vasco não atua no Maracanã e revelou que a decisão tomada no primeiro arbitral não seria alterada.

- Foi quando apareceu uma nota assinada em conjunto com Flamengo e Fluminense, me parece até que foi desautorizada pelo Flamengo, e é um fator complicador. Nessa situação, não há hipótese do Vasco jogar no Maracanã. O Vasco não se submete a jogar com o consórcio determinando como a coisa vai acontecer. Ficou ratificada a decisão anterior do arbitral. Aí coloca no Ministério Público ou qualquer outro tipo de problema, mas não sei qual a instituição ou a pessoa que pode se insurgir contra o ingresso mais barato. O clube que é do povo quer jogar com o preço do ingresso lá em cima? Querem polo gastronômico no estádio sendo que o torcedor não tem dinheiro para pagar o ingresso. O preço é abusivo. Não pode jogar três jogos no mês, a R$ 80 cada jogo - afirmou.

Eduardo Bandeira de Mello, presidente do Flamengo, reafirmou que o clube não teve qualquer participação na nota do Fluminense, apesar de concordar com a posição do Tricolor.

- O Flamengo não participou dessa nota e por isso pedimos para retirar o nome do clube. O Fla concorda com as posições nos termos das notas anteriores que foram feitas em conjunto com o clube - disse Bandeira de Mello.

O presidente rubro-negro ainda se disse esperançoso em relação à mudança da decisão sobre os preços do campeonato. Uma nova reunião está marcada na Ferj na próxima sexta-feira. Segundo Eurico Miranda e Carlos Eduardo Pereira, o tema será o campeonato do próximo ano.

- O Flamengo mantém esperança de que haja entendimento e as medidas sejam revertidas. Senti uma ressonância muito boa nos clube chamados pequenos. Nas condições que estão agora, o Flamengo calcula que terá em torno de R$ 3 milhões de prejuízo. Nas condições do ano passado teríamos um ganho, não muito expressivo, mas um ganho. Este prejuízo nesse momento que a gente tenta recuperar o clube e pagar as contas em dia, é extremamente desalentador. Acredito que o tema possa voltar a mesa e acredito num entendimento - explicou.

Nesta quarta-feira, um reunião no Ministério Público servirá para que se explique ao órgão como será feita a promoção de ingressos do Carioca.

- Não tem consulta, vamos explicar como funciona o ingresso promocional. Se o Ministério Público entender que tem q voltar o preço antigo, determina o ingresso mais caro e vem a público dizer isso. Pode ficar perante à opinião pública como uma instituição que quer aumentar o ingresso. Não vejo razão para alguém se insurgir. Até porque camarotes e Maracanã Mais, eles podem cobrar o preço que quiserem. Estou defendendo o direito do torcedor de menor poder aquisitivo - disse Eurico Miranda.

Apenas o presidente do Fluminense, Peter Siemsen, não esteve presente na reunião, e o Tricolor foi representado pelo vice jurídico Carlos Eduardo Cardoso. Os presidentes Eurico Miranda, Eduardo Bandeira de Mello (que esteve acompanhado do diretor jurídico de futebol Michel Asseff Filho e do diretor executivo Fred Luz) e Carlos Eduardo Pereira (em conjunto com o futebol Antonio Carlos Mantuano) representam Vasco, Flamengo e Botafogo, respectivamente.

Ao deixar o arbitral, Carlos Eduardo Cardoso, representante do Fluminense, fez um breve pronunciamento e não respondeu à perguntas.

- O Fluminense vai acatar as determinações do conselho arbitral. Sobre as questões de preço e consórcio, a nota já diz a posição do clube - encerrou.

Entenda o caso

Em meio à reunião, o Fluminense divulgou uma nota em seu site oficial ironizando a decisão da Ferj de tirar o jogo de estreia do clube do Maracanã, marcado para domingo, contra o Friburguense. A princípio, a nota estava assinada pelo Tricolor, pelo Flamengo e o Maracanã. Horas mais tardes, o nome do estádio e do Rubro-Negro foram retirados da assinatura. Além de repudiar as acusações recebidas, o clube foi firme nas críticas, citando até o ilustre torcedor Chico Buarque.

- Embora a Federação pretenda instaurar o Ato Institucional número 5 no futebol carioca, não será o Fluminense Football Club o “subversivo” desta competição. Não é e nunca será este o nosso papel. Ao Fluminense sempre coube a vanguarda, no melhor sentido da palavra. Lembremos Chico Buarque: “Hoje você é quem manda, falou tá falado, não tem discussão” - dizia parte da nota divulgada pelo clube.

Eduardo Bandeira de Mello e Carlos Eduardo Cardoso (Foto: Vicente Seda)Eduardo Bandeira de Mello conversa com o vice jurídico do Flu, Carlos Eduardo Cardoso (Foto: Vicente Seda)

A decisão da federação de baratear o preço dos ingressos para o Carioca causou um racha entre os times. De um lado, Vasco, Botafogo e mais 12 clubes pequenos. Do outro, Flamengo, Fluminense - mais o Consórcio Maracanã.   

Após o primeiro arbitral de clubes definir que os ingressos iriam variar entre R$ 5 - para jogos entre clubes pequenos - e R$ 50 - em clássicos, na entrada mais cara -, a dupla Fla-Flu reagiu e entrou com recurso na Ferj. A proposta havia sido feita por Eurico Miranda, presidente do Vasco, e desagradou os rivais por, segundo discurso de flamenguistas e tricolores, trazer prejuízos econômicos para suas partidas, principalmente em função dos programas de sócio-torcedor.

Fluminense x Vasco no Engenhão

Com a polêmica entre Fluminense e Vasco sobre o lado de suas torcidas no Maracanã, foi perguntado ao presidente do Botafogo se o Engenhão poderia receber o clássico. Carlos Eduardo Pereira afirmou que poderia analisar a proposta, mas fez uma ressalva em relação à capacidade do estádio.

- O Engenhão está aberto a partir do dia 7 e estaremos abertos para analisar. Mas um estádio com 20 mil pessoas de capacidade fica pequeno para um clássico - disse o dirigente.

Para Eurico Miranda, essa polêmica não existe enquanto o Vasco tiver a posição de não atuar no Maracanã.

- Isso está superado a partir do momento que não jogo no Maracanã. Se jogar, contra o Fluminense, jogo daquele lado. Pode ser até o mando da tia - cravou Eurico perguntado se manteria sua posição mesmo em jogos com mando do Tricolor.

Uma polêmica entre Vasco e Fluminense se formou após Eurico Miranda anunciar que a torcida vascaína voltaria a ficar nas arquibancadas do Setor Sul, inclusive nos clássicos contra o Tricolor. O dirigente cruz-maltino alega que seu clube conquistou esse direito na inauguração do estádio, enquanto o Flu argumenta com o contrato que tem com a concessionária que administra o estádio, que prevê o local para sua torcida. Com o impasse, Rubens Lopes, presidente da Ferj, afirmou que o clássico não seria disputado no principal palco do futebol carioca.