Leal
sabia que estava devendo. A atuação no primeiro set havia sido discreta
demais para alguém conhecido por não respeitar os bloqueios
adversários. Tinha apenas três pontos na conta e não parecia ser uma
ameaça para o Sesi-SP. Até que um desentendimento na rede o fez
despertar. Os rivais alegavam que o cubano havia pisado na linha. Ele
negava e fazia daquele episódio o gatilho que precisava para reagir. Dali em
diante, o sangue esquentou e o Cruzeiro embalou. O cubano pedia a bola e
soltava o braço sem piedade. Terminou a partida deste domingo, no
Mineirinho, com 21 pontos e foi eleito o melhor jogador da decisão da
Superliga.
Abraçado pelos companheiros, Leal
ficou surpreso ao ouvir seu nome anunciado no ginásio para receber o
prêmio individual. Aquele troféu passou a ter uma importância até maior
do que a taça dourada erguida pela terceira vez por sua equipe.
-
Este troféu tem muito valor para mim. Eu não comecei o jogo bem e sabia
disso. Eles estavam jogando muito bem e sabíamos que aquele não era o
nosso jogo. Eu sabia que tinha que dar o melhor de mim para tentar sair
daquela situação. Teve aquela discussão na rede no segundo set e acho
que acabei despertando (risos). Não sei... O time todo cresceu. Eles
tiveram uma sequência muito boa de saque do Lucão no terceiro set, mas
nunca abaixamos a cabeça e mantivemos a vontade de ganhar (perdiam por
24/21). Isso foi definitivo para a virada e sair com a
vitória. Estou muito feliz por ter terminado como o melhor deste
jogo depois do grande esforço no dia a dia, em cada treino. Mereço isso.
Estou muito feliz por jogar aqui e ter colegas sensacionais - disse.
Tímido
e ainda tropeçando no português, Leal tentava driblar sem muito sucesso
os torcedores que o seguiam dentro da quadra atrás de uma foto ao seu
lado. Não negou um pedido nem poupou sorrisos. Tinha pressa para se
juntar aos demais jogadores e iniciar a festa pela conquista. A
continuação dela será em Havana. A última vez que esteve em Cuba foi no
Natal para rever os parentes.
- Na quarta viajo para lá para comemorar com minha mulher, filho e toda a família. O que consegui aqui é muito importante para a minha galera, que
não está perto de mim durante a temporada. Sempre
soube que tinha possibilidade de ser um grande jogador. Melhorei muita
coisa no Brasil, Marcelo (Mendez, argentino técnico do Cruzeiro) me
ensinou muito. É só vitória, alegria, não tenho palavras para
falar o que sinto aqui.
Morando
em Belo Horizonte há três anos (nos últimos dois na companhia da mulher
e do filho), o ponteiro de 26 anos e 2,00m já se sente um pouco
brasileiro. Diz que se tivesse a possibilidade e fosse interesse da
Confederação Brasileira de Vôlei, buscaria a naturalização para defender
o país. A última vez que atuou pela seleção cubana foi no Mundial da
Itália 2010, quando foi eleito o segundo melhor atacante da competição.
Desde então, nunca mais foi chamado por ter optado seguir carreira fora
da ilha.
- Na
realidade não sei. Não tenho muita informação sobre isso, mas se tenho a
possibilidade de me naturalizar e jogar pela seleção, gostaria muito.
Mas não vou falar se vou me naturalizar, não. Isso é problema da
Confederação do Brasil. Tenho mais um ano aqui, se falarem comigo, seja o
que Deus quiser. Eu gostaria de jogar pela minha seleção, sou cubano e
gostaria de jogar por minha seleção. Mas tenho um futuro na minha cabeça
e gostaria de disputar uma Olimpíada, e se fosse pelo Brasil, agora em
2016, eu estaria muito grato - afirmou em entrevista ao SporTV.