Edição do dia 17/04/2015

17/04/2015 23h50 - Atualizado em 18/04/2015 00h46

Mercado financeiro e setor da saúde lideram ranking de áreas cansativas

Pesquisa sobre cansaço foi realizada em dois estados traçou perfil das vítimas da fadiga. Maioria diz que cansaço interfere diretamente na qualidade de vida.

No Sul do país, às margens do Rio Guaíba, cenários que os gaúchos não se cansam de admirar. O cansaço tira um pouco do colorido da vida. Faz qualquer belo cenário perder a graça. Ficamos em desarmonia com o mundo.

Em Porto Alegre, um instituto internacional de pesquisa fez um trabalho específico sobre a fadiga e concluiu que para 58% das mulheres e 47% dos homens o cansaço interfere diretamente na qualidade de vida. Deixa a saúde em desequilíbrio. A pesquisa, realizada com mil profissionais de São Paulo e Porto Alegre, traçou um perfil das vítimas da fadiga.

“Ela fala de forma mais baixa, como se falar requeresse muita energia, os gestos dela são gestos mais pausados, ela é mais lenta, a letargia é parte dessa comunicação não verbal. Em geral ela não faz olho a olho, tende a olhar para baixo”, conta a PhD em psicologia Ana Maria Rossi.

Um terço dos cansados tinham o que os especialistas chamam de "presenteísmo", quando a pessoa está fisicamente presente, mas emocionalmente e mentalmente muito distante. No ranking das áreas campeãs em fadiga estão o mercado financeiro para os homens e o setor da saúde para as mulheres - onde a Letícia Souza dos Santos está há 17 anos. Enfermeira-chefe no setor de radiologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, ela tem uma rotina puxada e tensa.

“É que é um procedimento anestésico, então é um momento que você está anestesiando o paciente e tu tem riscos. Via aérea estável, paciente especial. Envolve risco de vida, parada cardiorrespiratória. Não tem como errar, não pode errar. Tem momentos que são mais difíceis para a mim. Tem outros momentos que é mais tranquilo”, explica Letícia.
 
Mesmo as tarefas burocráticas exigem atenção. Um remédio errado pode custar uma vida.
 
“Hoje foi pesado, hoje foi bem pesado. Agora que estou no final do dia, final do turno, estou indo para casa, que baixa a adrenalina e que tu percebe assim quanto foi desgastante na verdade”, diz Letícia.

Após nove horas no hospital, termina o expediente da enfermeira e começa o de mãe. Na rotina de múltiplas tarefas, as domésticas.

“Nós mesmos, mulheres, nos cobramos muito, porque tudo tem que ser perfeito. Porque tu tem que trabalhar, tu tem que ser uma profissional exemplo, tu tem que ter tua casa organizada, tu tem que estar bonita, feliz, tem que fazer as unhas, arrumar o cabelo, tem que ir na academia e chega no final das contas está cansada”, afirma Letícia.

“A mulher, ela quer fazer todas as atividades e fazer muito bem. E isso não é possível. Nós temos que estabelecer prioridades, então o que acontece é que o desgaste da mulher acaba sendo muito grande, e eventualmente afeta muito a qualidade de vida e a saúde da mulher”, explica a pesquisadora.

Como a memória às vezes falha as obrigações do dia seguinte ficam no papel. Só compromissos sociais é que ela nem anota.

Para superar o cansaço excessivo, os especialistas dizem que é fundamental tirar alguns minutos do dia para se desligar da rotina e se concentrar em uma respiração profunda. Outra atividade recomendada para aliviar o stress e o cansaço é a massagem. Ricardo, empresário na área financeira, se entrega as mãos da profissional duas vezes por semana.

“Já inicia o dia com o tanque cheio, cheio de energia”, diz Ricardo.

Eleger prioridades na vida, ter um hobbie, reservar um tempo para si mesmo e a família são outras dicas para deixar a mochila do dia-a-dia menos pesada.

“Eu acho que o grande cansaço é o cansaço das exigências. Nós vivemos em uma sociedade cada vez mais competitiva e mais exigente, então a gente pode ter um pouco menos de dinheiro, a gente pode ter um pouco menos de sobrecarga, aprender a colocar limites nas coisas e nas pessoas, talvez a gente consiga ter uma vida mais feliz, mais produtiva, mais adequada pra gente com mais qualidade de vida, e com menos cansaço. E com certeza com menos cansaço”, diz o doutor em psiquiatria Kalil Duailibi.