A inspiração da boêmia geração criadora da bossa nova residiu, em boa parte, das noitadas da década de 50 em uma pequena travessa em Copacabana, que voltou a abrir as portas para as novas tendências do cenário musical carioca. O Beco das Garrafas — uma travessa na Rua Duvivier — abrigou nomes como Elis Regina, Wilson Simonal, Jorge Ben Jor e, na noite desta quarta-feira (17), teve suas boates Le Bottles e Little Club reinauguradas por uma marca de cerveja, após um longo período de ostracismo e decadência.
A festa de inauguração foi comandada pela banda Tono e, a partir de quinta-feira (18), receberá convidados que vão pagar entre R$ 100 e R$ 300, de acordo com as atrações, que vão de músicos como Letuce, Alice Caymmi e a francesa Nouvelle Vague.
A apresentação desta quarta, precedida por um pocket show do musical de Elis Regina, teve na primeira fila o produtor Luís Carlos Miele, que aplaudiu a homenagem e abriu espaço para a nova geração da música brasileira.
"É difícil tentar comparar [a nova geração com a bossa nova], mas há uma porção de novas cantoras. Mas se repetirem aqui o que foi naquela época será sensacional ", disse o produtor.
Frequentado pela criativa geração da bossa nova, o local ficou conhecido com o sugestivo nome de Beco das Garrafas. A lenda que corre no bairro, no entanto, atribui o nome à revolta dos vizinhos, que arremessavam os recipientes de vidro da janela de seus apartamentos — e não às garrafas deixadas para trás pelos animados cantores.
Vizinhas das novas boates, as idosas Odileia Vanzan e Zulma Werneck reforçam a história que sustenta a origem do nome do beco. Com a entrada do prédio espremida por um 'night club' de público masculino e por um depósito de bebidas, elas exigem somente que o novo espaço tenha uma acústica capaz de minimizar o barulho - para que novas garrafas não voltem a ser quebradas.
"Tem muita casa que abre e feche na rua. É ótimo que seja uma boate com bom público para repetir o que acontecia antigamente e que novos talentos sejam revelados. Esta casa ao lado fazia muito barulho até que mudaram a acústica", disse Zulma.
Da janela de seu apartamento, quase colado à boate, Marcelo Viola observa a movimentação e faz coro às observações das vizinhas. "Inicialmente vemos com bons olhos porque é um estabelecimento que prima pela cultura. Mas o barulho preocupa sim. O problema é a saída das pessoas, que já saem mais alteradas ", reclamou.