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Após superar traição de Adnet, Calabresa desabafa: ‘Se tem amor, vale a pena passar por cima de uma besteira’

Humorista fala da transferência para a Globo, onde integrará o novo ‘Zorra’, e diz o que a incomodava no formato anterior do programa: ‘Não ria de quadro de mulher pelada’
Dani costuma postar foto fazendo biquinho em seu Instagram Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Dani costuma postar foto fazendo biquinho em seu Instagram Foto: Leo Martins / Agência O Globo

RIO — Dani Calabresa chegou ao local combinado para a entrevista, um hotel na orla da Barra da Tijuca, com rolinhos no cabelo (“Meu vizinho que fez meu cabelo e maquiagem. Em vez de açúcar, eu peço cola de cílio”), atrasada e esbaforida. A comediante passara maus bocados com um taxista perdido que a trouxera do aeroporto, vinda de São Paulo, onde mora:

— Quando entramos na Barra, eu perguntei ao taxista: “Estamos chegando, né?” E ele: “Estamos sim”. Quando já estávamos no Recreio, falei: “O senhor sabe que é no Windsor, né? Não é antes do Recreio?” E olha que eu sou paulista e com labirintite. Ele só conseguiu chegar aqui uma hora depois, estou tremendo.

Após fazer check-in no hotel e almoçar um misto com batata frita (“Não faço dieta, minha alimentação é uma vergonha, igual à de uma criança”), a senhora Marcelo Adnet (eles são casados desde 2010) aparece para as fotos toda produzida.

— Eu me vesti assim para vocês. Eu não uso salto, só sapato baixo. Eu sento com perna de índio, sou um menino, gente — exagera ela, moleca aos 33 anos.

Dani está vivendo na ponte aérea desde fevereiro, quando começaram as gravações do novo “Zorra total”, que reestreia em 9 maio na Globo, repaginado. A comediante, revelada pela extinta MTV Brasil, deixou o “CQC”, da Band, onde tinha um lugar na bancada, para integrar o elenco da atração.

— Quando o Marcius Melhem me mandou uma mensagem dizendo que ia assumir a direção da redação do novo “Zorra”, que o programa ia ser mais ousado, sem quadro fixo, sem bordão, com uma pegada meio “TV pirata”, meio “Comédia MTV”, com “Porta dos fundos” e “Tá no ar”, falei: “Putz, vambora” — conta Dani.

Ela admite que “não ria de todas as esquetes”, mas diz que o “Zorra total” antigo “tinha algumas coisas engraçadas e um apelo popular bacana”.

— Sou fã da Katiuscia Canoro (Lady Kate), do Rodrigo Sant’anna (Valéria Bandida), da Thalita Carauta (Janete), da Fabiana Karla (Lucicreide), do Nelson Freitas (Carretel)... Eu não ria de quadro de mulher pelada, dava um constrangimentozinho. Por isso que eu acho que as pessoas tinham tando preconceito com o “Zorra”. Graças a Jesus, não vai ter mais mulher pelada, vou trabalhar de roupa — brinca.

O novo “Zorra” terá esquetes curtos, que priorizam locações externas e retratam situações do dia a dia. A humorista conta que já gravou como “várias velhinhas”.

— Fiz velhinha que se vinga de atendente de TV a cabo, que briga com nora, que tenta seduzir funcionário de banco. Estou usando muitas perucas.

Após deixar a MTV, Dani foi para o "CQC", da Band Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Após deixar a MTV, Dani foi para o "CQC", da Band Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Dani, que começou a carreira no teatro (“Com dez pessoas na plateia, sete, da família”) e estreou na televisão no extinto “Sem controle”, do SBT, assinou contrato com a Globo após vários convites da emissora. Ela, inclusive, teve chance de integrar o “Zorra total” antes mesmo de entrar na MTV, onde participou de programas como “Quinta categoria” e “Furo MTV”.

— Em 2007, o Marcius e o (Fábio) Porchat me levaram para apresentar o meu espetáculo de stand up para o Maurício Sherman (ex-diretor geral do programa). Ele me pediu para criar uma personagem paulista e mostrar para ele. Também tinha sido chamada pelo “Pânico na TV”, mas consegui uma oportunidade na MTV, e meu sonho era ser VJ — lembra a humorista: — A Globo me chamou em 2011 para o lugar da Maria Paula no “Casseta & planeta”, mas eu estava muito feliz na MTV.

Dani recebeu outra proposta da emissora carioca em 2013, quando a MTV Brasil estava prestes a encerrar suas atividades, mas preferiu fechar com a Band e fazer o “CQC”:

— A oferta da Globo para mim era: “Vem para a Globo”, mas não sabia para quê. Achei que a proposta do “CQC” tinha mais a ver comigo. O humor é parecido com o do stand up, tem improviso, crítica. E, na Band, havia uma possibilidade de eu fazer um programa parecido com o “Furo”. Não quis porque eu não bati 100% com a equipe criativa do “CQC”.

Agora, ela diz estar empolgada e se sentir acolhida na nova casa. Apesar de admitir um certo frio na barriga:

— Marcius me recebeu com carinho, assim como os atores do “Zorra” velho que ficaram. Mas rola uma insegurança, né? No “CQC”, eu já estava soltando pum na frente das pessoas, falava: “Gente, acabou o papel higiênico”, e o Marco Luque trazia. Agora, vou começar do zero, numa turmona, em outro estado... Mas eu vim com um medo bom.

A mudança de cidade, aliás, é parcial. Dani vai manter sua casa em São Paulo e vai alugar um apartamento na Barra, que dividirá com Adnet.


Dani Calabresa integra o elenco do novo “Zorra total”
Foto: Leo Martins / Leo Martins
Dani Calabresa integra o elenco do novo “Zorra total” Foto: Leo Martins / Leo Martins

— Tenho minha família e amigos em São Paulo. E gravo três, quatro dias, no máximo. Dá para ir e voltar. Mas precisamos ter uma base no Rio — observa ela, que já passou aperto por não ter um lar carioca: — Eu e Adnet nos hospedamos de 2008 a 2015 na casa da minha sogra, uma santa. Quando vínhamos, ficávamos num quarto de solteiro, minha filha. Correndo para o banheiro para se lavar na pia e voltar, trombando com ela quase pelados no corredor. Porque trabalhávamos em São Paulo, e o aluguel é muito caro no Rio.

O casamento de Dani e Adnet sofreu um revés em novembro, quando o humorista foi fotografado por um paparazzo beijando outra mulher em um bar no Leblon, no Rio, e as fotos caíram na internet. Na época, Dani preferiu priorizar a união e relevar o ocorrido.

— A gente vê foto e acha que aquilo representa uma noite. Aquilo representa minutos que não significam nada na vida de um casal que se ama e é unido há tantos anos. Ele errou, sentiu que errou, quis me contar e me mandou um áudio ainda de madrugada. Todo mundo erra. Como você lida com o erro é o que faz a essência de cada um — pondera: — Quando tem amor, vale a pena passar por cima de uma besteira. A gente se ama para caralho, quer ficar junto. Foi um sofrimento horrível? Foi! Mas vambora.

Dani conta que Adnet enviou o pedido de desculpas e nem chegou a ver o fotógrafo que o flagrou, ao contrário do que saiu em sites de fofoca.

— Para conseguir clique, as pessoas mentem em cima da dor de outras de uma forma horrorosa. Isso é o maior ônus dessa profissão. É uma coisa que a gente tem que resolver no teto da nossa casa — observa: — Disseram: “Ah, então não vai para a rua”. Por quê? Tem a rua dos artistas, é isso? Eu estou isolada no condomínio dos artistas? Não, eu moro no mesmo planeta que todo mundo. Eu pego fila, vou para o hospital. Não tem o hospital dos artistas para eu desmaiar. Não tem o lugar que eu tomo porre onde só artistas vão para eu me preservar. Sou um ser humano, minha vida não é “Big brother".

A humorista foi revelada pela MTV, onde participou de programas como "Quinta categoria" e "Furo MTV" Foto: Leo Martins / Agência O Globo
A humorista foi revelada pela MTV, onde participou de programas como "Quinta categoria" e "Furo MTV" Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Ter virado assunto em rodinhas de desconhecidos foi algo em que a humorista não viu graça nenhuma.

“Não tem o lugar que eu tomo porre onde só artistas vão para me preservar. Sou um ser humano, minha vida não é “Big brother"”

Dani Calabresa
Sobre repercussão da traição de Marcelo Adnet

— Ninguém tinha que ver, meu chefe não tinha que ver, ninguém tinha que julgar e achar que ele era vilão ou eu mocinha. Defeito, todo mundo tem. Eu já magoei meu pai, minha mãe, minha irmã, as pessoas mais importantes para mim. Já briguei, já bati, já falei: “Nunca mais vou olhar na sua cara”. Se não existisse perdão, riscaríamos todas as pessoas que amamos das nossas vidas.

O casal, Dani conta, se conheceu em 2007, quando ela veio ao Rio para apresentar seu stand up e acabou participando do espetáculo que ele fazia, “Z.É. — Zenas emprovisadas”.

— Quando ele me olhou, pensei: “Gente, que homem bonito”. Ele fez uma música no palco com tudo que eu tinha contado para ele e eu falei: “Ah, quer me pegar”. Parece cafona, mas foi um encontro de verdade. Quando ele entrou na MTV, em 2008, já estávamos ficando e viramos namorados. A MTV foi nossa madrinha, levou ele para São Paulo.

Quando Adnet foi contratado pela TV Globo, em 2013, voltou a morar no Rio de Janeiro, o que obrigou o casal a manter o casamento à distância.

— Como a gente tem muito amor e a mesma profissão, a gente se apoia muito! E, graças a Deus, tem o WhatsApp, né? Rolava foto, vídeo e áudio.

As brigas, quando ocorrem, ela garante, são sempre por motivos bobos:

— Temos irritaçõezinhas, principalmente quando estamos longe um do outro. Mas, quando nos encontramos, estamos sempre com tanta saudade que não brigamos nada. Chorem, invejosas! — diverte-se: — Que sorte a dele. Eu nem identifico mais gritaria, porque eu grito tanto...

A esperada evolução natural de um casamento bem-sucedido — um filho — ainda não está nos planos de Dani.

— Amo criança! Tenho muita vontade de ter ou adotar filhos. Como ainda estamos muito na ponte aérea, não é um bom momento. Mas, mais para frente, virão umas crianças sobrancelhudas que vão improvisar com certeza — brinca ela.

O jeito brincalhão de Dani veio com o tempo. Quando menina, ela conta, era “uma criança asmática tímida”:

— Fui uma menina muito doente. Tenho bronquite desde os 3 anos, fortíssima, fiz natação e não adiantava, nadava e deixava a bombinha na borda. Minha mãe me benzia. Tenho sinusite, tive hepatite, um cisto, pedra no rim, sou muito frágil. Aí meu pai e minha mãe rezam muito. Eles sempre agradecem. Disseram que vão acender uma vela no dia da minha estreia na Globo.

A família de Dani, aliás, é barulhenta como ela. O apelido “calabresa” ela, que tem o sobrenome Giusti, ganhou quando era recreadora do Club Med, em Itaparica, na Bahia, com a irmã, na pós-adolescência:

— A gente é de família italiana, gritava. Aí passaram a chamar a gente de irmãs calabresa. E apelido é igual a sarna.

Dani esteve recentemente em cartaz com o filme “Superpai” e está no elenco de mais duas produções com previsão de estreia para este ano: “A esperança é a última que morre” e “Desculpe o transtorno”. Se quer seguir os passos da antiga colega de “MTV”, Tatá Werneck”, e brilhar numa novela?

— Acho que faria, mas nunca sonhei com isso.