Saúde Ciência

O dinheiro pode mesmo trazer a felicidade?

Cada vez mais pesquisas procuram encontrar resposta para antiga questão da relação entre riqueza e bem-estar

Pé-de-meia: embora pobreza seja um fator de estresse, pesquisas mostram que riqueza não é o único caminho para a felicidade
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Pé-de-meia: embora pobreza seja um fator de estresse, pesquisas mostram que riqueza não é o único caminho para a felicidade Foto: / Divulgação

RIO - A antiga questão sobre se o dinheiro traz felicidade é objeto de cada vez mais estudos na crescente área da psicologia social, que investigam temas como a relação entre riqueza e bem-estar, consumo e satisfação, os impactos da abundância e da privação nas nossas vidas e a forma como gastamos dinheiro. Geralmente, a resposta destas pesquisas à pergunta original é de que sim, as pessoas mais ricas realmente tendem a ser mais felizes, mas também trazem revelações surpreendentes, como a de que as pessoas com renda mais baixa podem estar tão ou mais satisfeitas com a vida quanto as ricas, que sacrifícios moderados na verdade podem elevar o grau de apreciação de uma experiência e que existem limites para quanto de felicidade o dinheiro pode “comprar”. O interesse nesta área é tamanho que foi tema de um simpósio especial realizado nesta sexta-feira, como parte da 16ª Convenção Anual da Sociedade de Psicologia Social e da Personalidade dos EUA, que acontece neste fim de semana, na Califórnia.

O primeiro desafio dos estudos sobre a felicidade foi encontrar maneiras de medir um sentimento por natureza tão subjetivo. Com o tempo, porém, surgiram diversas metodologias para avaliar de forma confiável o grau de satisfação de um indivíduo com sua vida, tendo como um de seus exemplos mais destacados a chamada “Escala de Cantril”. Com ferramentas como esta em mãos, os psicólogos puderam então procurar os fatores que poderiam influenciar nesta sensação, inclusive a disponibilidade, ou falta, de dinheiro.

RICOS QUEREM SER MAIS RICOS

Uma das pesquisas apresentadas no simpósio, por exemplo, investiga o quanto de riqueza pessoas já ricas acham que precisam acumular para se declararem de fato inteiramente felizes. Em estudo publicado em 2010, Angus Deaton e Daniel Kahneman, psicólogo vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2002, mostraram que, pelo menos nos EUA, a alta no nível de satisfação com a vida atrelada ao aumento da renda se torna muito pequena a partir de uma renda anual de aproximadamente US$ 75 mil (cerca de R$ 216 mil). Já a nova pesquisa, ainda em curso, indica que os ricos só se sentiriam completamente felizes se tivessem algo entre três a quatro vezes seu patrimônio atual, independentemente de quão grande este já é.

— Indivíduos ricos, quer tenham US$ 1 milhão ou US$ 10 milhões, não ficam mais felizes quando sua riqueza aumenta; sempre vão querer ter mais — diz Michael Norton, professor da Escola de Negócios de Harvard e líder do estudo, que pretende publicar ao longo do próximo ano. — A pesquisa está mostrando que a felicidade corrente não está relacionada com a riqueza e talvez tenha até uma relação negativa com a renda.

Já outro estudo recente também apresentado durante o simpósio abordou a distinção entre “ser” e “ter” ao analisar a diferença da satisfação obtida com gastos “experienciais”, isto é, para fazer algo como viajar ou saltar de paraquedas, da alcançada com compras materiais, ou seja, de bens. Segundo um de seus autores, Amit Kumar, da Universidade de Cornell, as experiências produzem uma sensação de felicidade mais prolongada do que as posses. Além disso, os sentimentos de expectativa no período que antecede o gasto são mais fortes e agradáveis no primeiro caso do que no segundo.

— O período de antecipação das compras experienciais tende a ser mais agradável e menos marcado pela impaciência do que futuras compras materiais — conta Kumar, cujo estudo analisou, por exemplo, o humor de pessoas esperando em longas filas para usufruir de uma experiência, como um passeio de montanha-russa, ou para comprar um produto, como o mais novo iPhone. — Aqueles que esperavam por uma experiência tenderam a estar com um humor melhor e a se comportarem melhor do que os que esperavam para comprar um bem material.