France Presse

01/03/2015 11h15 - Atualizado em 01/03/2015 12h55

Antes de posse de sucessor, Mujica é visto dirigindo trator em fazenda

Mais tarde, Mujica chegou para posse de Vázquez em seu famoso Fusca.
Tabaré Vázquez assumiu neste domingo segundo mandato à frente do país.

Da France Presse

Antes de passar o cargo para o seu sucessor, Tabaré Vázquez, o então presidente uruguaio, José Mujica, foi visto neste domingo (1º) dirigindo um trator em sua fazenda. Mais tarde, Mujica chegou para posse de Vázquez em seu famoso Fusca ano 1987.

Antes de posse de sucessor, Mujica foi visto dirigindo trator em fazenda (Foto: Pablo Bielli/AFP)Antes de posse de sucessor, Mujica foi visto dirigindo trator em fazenda (Foto: Pablo Bielli/AFP)

Mujica ganhou fama mundial após decisões importantes que tomou na presidência do Uruguai. Sob seu governo, Mujica estimulou uma agenda progressista, que legalizou o aborto, o casamento homossexual e a maconha.

Vázquez assumiu o poder após prestar juramento ante o Parlamento neste domingo. O oncologista de 75 anos irá governar o país até 2020. Esse será o segundo mandato - ele governou o Uruguai de 2005 a 2010.

Com um impecável terno preto e falando pausadamente, e depois de lamentar como "a violência, o medo, o terror, a intolerância vencem em diferentes regiões do planeta", Vázquez dedicou a maior parte de seu discurso de 24 minutos a lembrar o pensamento do herói nacional José Artigas, prometendo que valores como a igualdade, a liberdade e a tolerância serão referências de seu governo.

Vázquez chega à presidência "como há dez anos, decidido a realizar", segundo o cientista político Adolfo Garcé em declarações à rádio Uruguay.

A capacidade de ação deste oncologista, empresário e maçom ficou demonstrada poucos dias após sua vitória no segundo turno sobre o centro-direitista Luis Lacalle Pou - com 53,6% dos votos - ao anunciar seu gabinete sem consultar Mujica ou respeitar quotas políticas.

O presidente planeja anunciar durante a noite as primeiras disposições de seu governo, que incluirão melhorar a gestão de governo, criar um sistema nacional de cuidados e um imposto às grandes extensões de terra.

Mujica, uma referência
Fiel ao seu estilo até o último dia, Mujica chegou no meio da manhã à sede da presidência em seu já famoso Fusca azul.

Mais tarde, Mujica chegou para posse de Vázquez em seu famoso Fusca (Foto: Pablo Bielli/AFP)Mais tarde, Mujica chegou para posse de Vázquez em seu famoso Fusca (Foto: Pablo Bielli/AFP)

"Estou feliz por que há 30 anos a democracia voltou e há dez o povo chegou ao governo", declarou à AFP María del Carmen Sosa, de 51 anos, que com uma enorme bandeira sobre os ombros se dirigia à praça para ver Mujica e Vázquez protagonizem o momento mais esperado do dia, com a transferência da faixa presidencial.

Tabaré Vázquez assumiu neste domingo a presidência do Uruguai (Foto: Andres Stapff/Reuters)Tabaré Vázquez assumiu neste domingo a
presidência do Uruguai (Foto: A. Stapff/Reuters)

'"abaré é mais estruturado e 'Pepe' o mais simples, mas os dois fizeram governos bons que sempre estiveram voltados para o povo, para os mais pobres, para os necessitados", disse a mulher.

Mujica, que deixa o cargo com uma popularidade superior a 60%, foi o senador mais votado, e continuará atuando na política interna nos próximos cinco anos.

Vázquez admitiu neste domingo que Mujica "é uma figura importantíssima no contexto nacional e internacional".

"Tem que ser um ponto de referência de primeira ordem", sustentou.

Para o doutor em Ciência Política Jorge Lanzaro, "a fama de Mujica pesa sobre Vázquez".

"É um contraste permanente, uma rivalidade bastante surda e às vezes não tão surda", comentou à AFP.

A cerimônia de posse foi acompanhada por vários presidentes, entre eles Dilma Rousseff, a chilena Michelle Bachelet, Raúl Castro de Cuba, Rafael Correa do Equador, Horacio Cartes do Paraguai e Ollanta Humala do Peru, além de dezenas de delegações oficiais de todo o mundo.

Presidente brasileira, Dilma Rousseff, e outros chefes de Estado acompanharam a posse (Foto: Andres Stapff/Reuters)Presidente brasileira, Dilma Rousseff, e outros chefes de Estado acompanharam a posse (Foto: Andres Stapff/Reuters)

A grande ausente é a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, cujo governo teve atritos com o uruguaio.

Também cancelaram sua participação, no último minuto, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o líder venezuelano, Nicolás Maduro, o primeiro devido a uma gripe e o segundo pela situação política em seu país.

Sem 'vento de cauda'
Diferentemente de Mujica, Vázquez receberá o governo sem o celebrado 'vento de cauda' dado nos últimos anos à economia local pelos altos preços de commodities como a soja e a carne e pela expansão da região.

Após doze anos de crescimento econômico ininterrupto e desemprego em níveis historicamente baixos, a economia uruguaia deverá superar um contexto regional no qual seus dois grandes vizinhos, Argentina e Brasil, mostram sinais de desaceleração.

Conter a inflação, que supera em mais de um ponto a meta do governo (3% a 7%) e manter na linha um crescente déficit fiscal serão os desafios de Vázquez e de sua equipe econômica que, como na última década, será liderada pelo vice-presidente de Mujica, Danilo Astori.

Após a concretização, no período de Mujica, de velhas aspirações da esquerda, como a descriminalização do aborto, à qual Vázquez se opôs durante sua gestão, e a legalização do casamento homossexual, o presidente deverá se voltar para a educação e para uma infraestrutura deteriorada, mas também implementar a venda de maconha sob controle estatal, algo que Mujica deixou pendente.

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