Rio

PM hasteia bandeiras do Brasil e do estado em favela do Cosme Velho

Comunidades de Cerro-Corá, Guararapes e Vila Cândido foram ocupadas na manhã desta segunda-feira
Moradores ajudam PMs a hastear bandeiras no alto da Ladeira dos Guararapes Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo
Moradores ajudam PMs a hastear bandeiras no alto da Ladeira dos Guararapes Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo

RIO - Aos pés do Cristo Redentor, o mais importante cartão-postal da cidade, as favelas de Cerro-Corá, Guararapes e Vila Cândido, no Cosme Velho, foram ocupadas nesta segunda-feira pela Polícia Militar, fechando assim o cinturão de pacificação na Zona Sul e garantindo mais segurança para a visita do Papa Francisco, que acontecerá em julho, durante a Jornada Mundial da Juventude. Em apenas 30 minutos, sem disparar um só tiro, cerca de 420 homens ocuparam as últimas comunidades da Zona Sul que ainda estavam sob o domínio do tráfico. Ali, em até um mês, será instalada a 33ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da cidade, com cerca de 190 PMs.

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, negou que a operação esteja relacionada à visita do Papa. Segundo ele, o plano de ocupação das favelas está pronto desde 2008. Ainda de acordo com Beltrame, a implantação da UPP no Cosme Velho estava marcada para 2010, mas não ocorreu devido às chuvas de abril daquele ano, que castigaram as favelas. A mesma informação foi dada pelo governador Sérgio Cabral.

— A ocupação dessas comunidades estava prevista dentro do plano de pacificação do Complexo de São Carlos. Na época, não foi feita porque havia um estudo dizendo que essas comunidades poderiam ser removidas. Como isso não aconteceu, não poderíamos avançar deixando esse espaço para trás — disse Beltrame.

O secretário considerou fechado o cinturão de favelas pacificadas não só no Maciço da Tijuca, como na Zona Sul. Mesmo as comunidades sem UPP contam com algum tipo de ocupação. É o caso de duas favelas no Catete: a Santo Amaro (ocupada pela Força Nacional de Segurança) e a Tavares Bastos (onde fica o quartel do Bope).

Segundo Beltrame, o Bope deve sair da Tavares Bastos em até dois anos — para ir para uma nova sede, perto do Complexo da Maré —, mas a favela será ocupada por outra unidade da PM.

— As polícias Militar e Civil deram mais um passo no processo de pacificação desse grande maciço que vem desde a Tijuca até o fim da Zona Sul. Esses lugares não têm histórico de conflitos, mas não são menos importantes para os índices de criminalidade na cidade — disse o secretário, informando que não foram encontradas armas de grande porte (como fuzis) nas favelas do Cosme Velho.

Ainda de acordo com Beltrame, a facção criminosa que atua nas favelas ocupadas é responsável por furtos, roubos de veículos, eventuais assaltos a turistas e tráfico (tendo montado uma “estica”, ou seja, um ponto de venda no asfalto). O secretário não quis dizer qual é a próxima favela a ser ocupada. Até 2014, a Secretaria de Segurança espera instalar 40 UPPs.

O governador Sérgio Cabral lembrou que as comunidades serviam de refúgio para criminosos:

— A UPP, ao mesmo tempo que oferece segurança e paz aos moradores, é também uma forma de evitar que a comunidade se torne refúgio do (autor do) ilícito cometido em qualquer lugar da cidade.

Cães são usados na operação

A operação, que começou às 5h, contou com a participação de homens do Bope, do Batalhão de Choque, do Batalhão de Ação com Cães, do Grupamento Aéreo e Marítimo e do 1º Comando de Policiamento de Área, tendo o apoio de helicópteros. Logo depois da ocupação, PMs do Batalhão de Choque fizeram um cerco em torno das comunidades, enquanto integrantes do Bope e do Batalhão de Ação com Cães vasculhavam o lugar.

Num terreno baldio na comunidade de Guararapes, os policiais apreenderam drogas e munição (três quilos de maconha e 132 projéteis de diversos calibres), além de três radiotransmissores. Moradores que deixavam as favelas eram revistados. O clima era de incerteza. Muitas pessoas evitavam comentar a operação.

— Está muito bom. Acho que vamos ter mais segurança — disse a dona de casa Nilza Souza de Almeida, de 54 anos, sendo repreendida pelo filho, um comerciante local, que o tempo todo mandava a mãe parar de falar.

— Só podemos declarar que, para nós, não faz diferença — disse o comerciante, sem se identificar.

Uma moradora da Favela dos Guararapes, que também não quis se identificar, foi sucinta:

— Para os moradores, deverá melhorar bastante.

Manoel Gomes, de 55 anos, disse que a favela já estava tranquila, sem a ocorrência de tiroteios há pelo menos 15 anos:

— Para o morador, a presença da UPP é indiferente. Não seremos afetados em nada. Deverá reduzir o número de assaltos nas redondezas. Mas o tráfico sempre vai existir. O que poderá acabar é a presença das armas.

Segundo o Instituto Pereira Passos, com base nos dados do Censo de 2010, cerca de 2.800 pessoas vivem nas três comunidades. Com todas as UPPs já inauguradas, de acordo com o governo do estado, já chega a 1,5 milhão o número de pessoas beneficiadas nas áreas pacificadas e no seu entorno.

Bandeiras hasteadas na casa de moradora

O relações-públicas da PM, coronel Francisco Caldas, informou que há cerca de dois dias policias vinham fazendo o monitoramento da região, para obter dados sobre traficantes e ladrões de carros que haviam fugido de outras favelas já pacificadas, na Zona Sul, buscando abrigo no Cosme Velho. Caldas disse ainda que a ocupação vai proporcionar maior segurança para os turistas que visitarão o Cristo durante a Jornada Mundial da Juventude e a visita do Papa.

Pela manhã, as bandeiras do Brasil e do Estado do Rio foram hasteadas por PMs, com a ajuda de uma moradora, no quintal de uma casa no alto da Favela dos Guararapes. Uma unidade móvel do Instituto Félix Pacheco foi instalada próximo à comunidade, para fazer a identificação biométrica e facilitar a descoberta de criminosos. A Polícia Civil pôs à disposição dos moradores ainda um ônibus da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher. Apreensões e suspeitos detidos serão encaminhados à 9ª DP (Catete).