Rio Bairros Niterói

Referência internacional em HQs, niteroiense Marcello Quintanilha prepara novo livro

Quadrinista, que passou infância e juventude no Barreto, é autor de 'Tusgstênio' e vai lançar 'Talco de vidro'

Quintaliha mostra a mão carimbada com referência a uma de suas histórias
Foto: Luciana de Oliveira / Divulgação
Quintaliha mostra a mão carimbada com referência a uma de suas histórias Foto: Luciana de Oliveira / Divulgação

NITERÓI - Criador de uma das HQs mais comentadas do universo dos quadrinhos no ano passado, o niteroiense Marcello Quintanilha tornou-se um dos mais famosos quadrinistas brasileiros da atualidade. O traço realista, os diálogos precisos e o clima de suspense puseram sua mais recente graphic novel, “Tusgstênio”, no topo de listas de melhores do ano no Brasil e no exterior. Morando na Espanha desde o início dos anos 90, ele prepara o lançamento de seu novo livro, “Talco de vidro”, previsto para este mês, e ressalta sua ligação com o Brasil.

— Para falar a verdade, não me sinto nem dez centímetros longe do Brasil. Pode parecer estranho, mas é como se o país me acompanhasse, e cada vez que volto é como se nunca tivesse saído — diz ele, em entrevista por e-mail.

Nascido em Niterói, em 1971, Quintanilha teve sua primeira HQ publicada em 1988, em uma das revistas de artes marciais da antiga editora Bloch do Rio de Janeiro. Seu primeiro trabalho autoral é de 1991, chamado “Acomodados! Acomodados!”, que venceu a 1ª Bienal de Quadrinhos do Rio. Depois disso, trabalhou mais de dez anos na produção de desenhos animados e de filmes institucionais, enquanto paralelamente desenvolvia seus quadrinhos. Foi ilustrador da seção de quadrinhos e crônicas do jornal “O Estado de S. Paulo”, e fez a adaptação do clássico “O ateneu”, de Raul Pompeia.

Logo passou a publicar uma série para o mercado franco-belga, roteirizada por Jorge Zentner e Montecarlo, que motivou sua ida para Barcelona, onde também passou a colaborar com publicações como “El País” e a revista “La Vanguardia”. Desde 2009, Quintanilha lança quadrinhos escritos e desenhados inteiramente por ele, como “Sábado dos meus amores”, “Almas públicas”, e “Salvador” (da série “Cidades ilustradas”). Segundo ele, sua inspiração está em tipos comuns e no dia a dia:

— A vida cotidiana, as relações humanas, o universo do futebol e da música popular têm sido a matéria-prima mais constante.

A personalidade do traço e do universo criado por Quintanilha em suas histórias, tão exaltadas por críticos mundo afora, talvez não fossem possíveis se o quadrinista tivesse tido origem diferente. Criado na Zona Norte, ele guarda lembranças das aulas no Monsenhor Raeder, no Colégio Brasil e no Gay Lussac, mas são outras características da região que o acompanham até hoje:

— Passei toda minha infância, adolescência e começo da vida adulta no Barreto. Meus anos ali significaram presenciar a permanente deterioração de um passado mais vivo, mais promissor e possivelmente mais feliz. Campos de futebol que já não abrigavam os jogos do campeonato local sendo loteados, antigas vilas operárias sendo descaracterizadas, lojas e fábricas fechando as portas. Todos esses eram os aspectos que mais me interessavam na época, e eles pareciam dizer adeus cotidianamente. Acho que, devido a isso, meu trabalho adquiriu um traço fortemente nostálgico.