Ser modelo é o sonho de muitas meninas no Brasil e no mundo: conseguir
uma carreira internacional, posar para lentes de fotógrafos conceituados, desfilar
pelas passarelas do país e do exterior. A oportunidade bateu à porta para
Fernanda Berti, que preferiu abrir mão para seguir em sua missão de ser uma
atleta profissional. Ela conseguiu. Atualmente, aos 29 anos, joga vôlei de
praia ao lado da parceira Taiana, com quem foi bronze no último fim de semana na etapa de Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco, do Circuito Brasileiro de vôlei de praia.
Tudo aconteceu quando Fê Berti tinha apenas 14 anos e ainda atuava no
vôlei de quadra. O namorado de sua irmã na época era modelo e insistia para que
ela fizesse um book. Apesar de relutar, a jovem aceitou e foi para uma agência
de São Paulo. Bem magra e com perfil de modelo, a carioca agradou. E insistiram
bastante para que Fernanda fechasse contrato. Quando soube que teria de largar
o esporte, abandonou a ideia.
- Eles queriam que eu ficasse lá, morasse lá e virasse modelo. Eu disse:
"Vou parar de jogar?". O cara: "Vai ter que parar". Respondi:
"Então não quero não". Fui embora, nem pensei. O cara saiu de dentro
de lá, correndo atrás de mim na rua, me puxando pelo braço: "Você vai se
arrepender". Eu era uma menina, só pensava no vôlei, queria jogar. Se eu
não estivesse no vôlei, talvez tivesse seguido. Mas como eu jogo desde
novinha e sempre fui apaixonada, não deu.
Fê Berti começou jogando no Fluminense e, rapidamente, passou a integrar
as categorias de base da seleção brasileira. Foi vice-campeã mundial
infanto-juvenil em 2001 e, dois anos depois, venceu o Campeonato Mundial
Juvenil. Ela chegou à seleção adulta em 2005 e já defendeu clubes brasileiros e
estrangeiros, como Campos, São Caetano, Pinheiros, Daejeon, da Coreia do Sul, Vôlei Futuro e
Praia Clube. Em 2012, recebeu um convite da Confederação Brasileira de Vôlei
(CBV) para integrar um projeto de jogadoras em transição para o vôlei de praia.
- Quando fiz a transição, foi como se estivesse mudando de esporte. Tive
que aprender tudo de novo. Há funções que eu não fazia na quadra e faço agora.
Eu não fazia levantamento, por exemplo. É muito mais completo e mais
individual. Parece mais um jogo de tênis e, psicologicamente, é diferente. Mas estou
amando. Grandes jogadores, como o Nalbert, já falaram dessa dificuldade. Há
atletas habilidosos que não conseguem. Eu me adaptei bem rápido – relatou a
jogadora, que foi campeã da etapa de Haia do Circuito Mundial em 2014 com
Taiana, mas já teve Drussyla, Júlia Schmidt e Elize Maia como parceiras na
praia.
Fernanda Berti lembra que, no início, ficou bastante deslumbrada (e até
em choque) com o fato de estar jogando do lado de atletas como Emanuel e
Ricardo, medalhistas olímpicos de Atenas 2004. Apesar de já ter estado em
quadra com jogadoras vitoriosas como Fernanda Venturini, Fofão e Sheilla, ela diz
que, na praia, foi ainda mais emocionante e ficou “na posição de fã”. Mas
sua inspiração, conta Fê, é uma estrangeira, a americana Kerri Walsh,
tricampeã dos Jogos Olímpicos.
- Eu me inspiro na Walsh, acho ela incrível. Admiro muito. Ela tem três
medalhas olímpicas, mas admiro ainda mais como pessoa. Acaba o jogo e ela vai
lá falar com todo mundo. Essa humildade dela é sensacional – finalizou.