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Um manual ‘multiajuda’ para prevenção do suicídio

Livro do jornalista André Trigueiro enfrenta o tabu acerca do delicado tema

O jornalista André Trigueiro aborda o difícil tema do suicídio em novo livro
Foto: Divulgação
O jornalista André Trigueiro aborda o difícil tema do suicídio em novo livro Foto: Divulgação

RIO - Vai longe o tempo em que era possível esconder, das páginas dos jornais e das visitas em casa, a tragédia do ser humano que dá fim à própria vida. Tabu histórico nos meios de comunicação, nas políticas públicas e na vida familiar, o suicídio tornou-se visível nesta era digital, em que a informação invade telas de computador e smartphones, sem pedir licença. Às claras, os casos inundam de perplexidade uma sociedade jamais preparada para entender nem lidar com a dor aguda que leva um indivíduo a desistir de viver. É essa a missão que o jornalista André Trigueiro assume nas 192 páginas de “Viver é a melhor opção — A prevenção do suicídio no Brasil e no mundo”.

O livro é uma espécie de manual, não de auto, mas de “multiajuda” para orientar parentes, amigos, colegas de trabalho e profissionais de imprensa a identificar e ajudar potenciais suicidas. É publicação essencial aos novos tempos. Trigueiro destrinchou estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde brasileiro e apresenta, com clareza e objetividade, os dados sobre a principal causa de mortes violentas (56%) em todo o mundo.

A OMS, informa Trigueiro, contabiliza 804 mil suicídios por ano no planeta — o número se refere a 2012, último com dados internacionais consolidados. São 2.200 casos consumados por dia, um a cada 40 segundos. O suicídio mata mais que os homicídios (437 mil ocorrências no mundo). É a sexta causa de incapacitação entre indivíduos de 15 a 44 anos. Atinge mais homens (15 por cem mil habitantes) que mulheres (8 por cem mil).

Tantas evidências já seriam suficientes para que o assunto emergisse do fundo das gavetas da burocracia para tomar lugar em frente aos holofotes da saúde pública. Mas há outra particularmente preocupante. Para cada morte por suicídio há duas dezenas de tentativas sem sucesso. São, calcula Trigueiro, 16 milhões de tentativas por ano. É nesse ponto que entra a importância da prevenção, palavra-chave do livro.

Com informação e procedimentos adequados será possível reduzir a epidemia, concentrada entre os idosos no passado, mas que hoje se espalha entre adolescentes, povos indígenas, agricultores, policiais e militares. O universo sugere que qualquer pessoa na face da Terra pode estar convivendo com alguém com transtornos capazes de levá-lo a se matar.

O autor discorre sobre o papel da mídia na cobertura das mortes por suicídios. Enumera as orientações de autoridades de saúde, entre elas não glamurizar os mortos (especialmente em casos de personalidades públicas), cenários e métodos. Nas coberturas jornalísticas, também é recomendável apresentar possíveis causas (depressão, transtornos mentais, consumo de álcool e drogas estão por trás de 90% dos casos), opções de tratamento e serviços de apoio, como o Centro de Valorização da Vida (CVV).

No capítulo dedicado aos fatores de riscos, Trigueiro apresenta ainda a solidão e as doenças nos idosos, faixa etária crescente na população mundial. O bullying, a pornografia de vingança, o preconceito contra LGBTs e até comunidades virtuais de indução ao suicídio afetam profundamente o comportamento dos adolescentes. Os indígenas sofrem com o aculturamento forçado e a tensão pela disputa de terras. O acesso fácil dos militares e policiais às armas de fogo também preocupa.

O livro cobre todas as abordagens sobre o tema. No capítulo final, Trigueiro trata da visão espírita, prova de que não há segmento social dispensado de contribuir com o assunto que o mundo finge não ver. O livro será lançado hoje, em Santa Maria, cidade gaúcha que viu o número de suicídios crescer após o incêndio que matou 242 pessoas na Boate Kiss, em 2013. No Rio, Trigueiro autografa nesta segunda-feira, às 19h, na Travessa do Shopping Leblon.