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Dólar comercial fecha em queda após Fed sinalizar alta dos juros a partir de junho

Cotação da moeda caiu 0,55%, a R$ R$ 3,213; Bolsa sobe 2,47%

SÃO PAULO - O dólar comercial passou a operar em queda após a divulgação do comunicado da reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e a tendência se manteve até o final dos negócios. A moeda americana fechou com recuo de 0,55% ante o real, R$ 3,211 na compra e a R$ 3,213 na venda. A divisa variou no pregão entre a mínima de R$ 3,200 e a máxima de R$ 3,280, maior patamar em 12 anos. O Ibovespa, índice de referência do mercado acionário local, avançou 2,47%, aos 51.526 pontos.

Antes da divulgação do comunicado do Fed, às 15h, a Bolsa subia 1,59% e o dólar avançava 1,26%.

O comunicado ficou dentro do esperado por analistas. Por enquanto, o mais esperado é que o Fed comece a elevar os juros em junho. A elevação das taxas americanas é prejudicial aos mercados emergentes, que tendem a perder parte dos recursos de investidores estrangeiros. No entanto, no entendimento de especialistas, o tom do comunicado foi mais ameno.

Na avaliação de Ítalo Abucater, gerente de câmbio da corretora Icap do Brasil, os investidores aproveitaram o comunicado para realizar lucro, ou seja, estão vendendo moeda para embolsar o ganho recente. O especialista lembra ainda que a situação econômica do Brasil é delicada, o que faz com que a volatilidade siga forte no mercado de câmbio.

— Esse mercado de moedas está muito exagerado para os dois lados. Os movimentos estão exagerados e no Brasil a volatilidade está muito elevada — avaliou, lembrando que a sinalização de alta de juros nos Estados Unidos não acaba com essa volatilidade.

Para Marco Aurélio Barbosa, analista da CM Capital Markets, a expectativa em relação aos próximos passos do Fed é o que domina a atenção dos mercados financeiros em todo o mundo.

— O aumento dos juros nos Estados Unidos pode reduzir a volatilidade sobre o câmbio, mas não eliminá-la. No Brasil, parte da volatilidade está atrelada ao risco de perda do grau de investimento — afirmou.

Já o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que nas próximas semanas terá uma definição sobre o programa de swap cambial, que está previsto para acabar no dia 31 de março.

Os investidores também repercutem a última pesquisa Datafolha, divulgada pela manhã, que mostrou que o índice de reprovação do governo Dilma Rousseff chegou a 62%. Além disso, a economia dá cada vez mais sinais de desaceleração. "O grau de confiança no governo continua baixíssimo e determina cautela generalizada do setor produtivo do país ante a ausência de sinais de resoluções para os impasses presentes nos campos político e econômico", afirmou, em relatório a clientes, o diretor-executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme.

AÇÕES DA ECORODOVIAS EM QUEDA APÓS LEILÃO

O setor de concessionárias de rodovias esteve entre os destaques do pregão dessa quarta-feira. Ocorreu pela manhã o leilão de concessão da ponte Rio-Niterói. A Ecorodovias venceu o certame , oferecendo uma proposta melhor do que a CCR, atual administradora da concessão. As ações da vencedora caíram 3,68% e as da atual administradora tiveram alta de 4,85%.

Outro fator que esteve no radar é a implementação das medidas do ajuste fiscal e a relação do Executivo com a base governista, que pode frustrar parte das mudanças necessárias. Embora a aprovação do Orçamento para 2015, na terça-feira à noite, seja positiva, há dúvidas sobre a implementação das medidas de aumento de impostos e cortes de despesas.

— Os dados econômicos e o noticiário político estão ruins. Nesse cenário, a ausência de notícias já é suficiente para ajudar a Bolsa — disse Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.

Os papéis preferenciais (PNs, sem direito a voto) da Petrobras registraram alta de 4,27%, cotados a R$ 9,27, e os ordinários (ONs, com direito a voto) subiram 4,36%, a R$ 9,09. Essa alta ocorreu com a melhora dos mercados no exterior e o preço do petróleo está em alta. O contrato do tipo Brent, com entrega em maio, é negociado a US$ 56,66, alta de 5,89%.

No setor bancário, que possui o maior peso no Ibovespa, a maior alta foi a do Banco do Brasil, que subiu 7,08%. As ações do Itaú Unibanco avançaram 3,01% e as do Bradesco tiveram valorização de 3,94%. Também operaram em alta os papéis da Eletrobras. Os preferenciais tiveram alta de 3,43% e os ordinários subiram 4,31%.

No caso da Vale, o movimento foi o inverto e a queda foi de 2,39% nas ações preferenciais e de 1,46% nas ordinárias. Barbosa, da CM Capital Markets, lembra que a queda do preço do minério de ferro no exterior, que já está abaixo de US$ 56 a tonelada, tem pressionado as ações da mineradora.

— É uma queda muito forte que afeta o papel. O dólar em alta até ajuda, mas a velocidade de depreciação do preço do minério de ferro impressiona — disse.

No exterior, os principais índices acionários europeus operaram sem direção definida. O DAX 30, de Frankfurt, registrou queda de 0,48%, e o CAC 40, da Bolsa de Paris, fechou praticamente estável, com leve alta de 0,09%. Já o FTSE 100, de Londres, registrou avanço de 1,57%. Nos Estados Unidos, o Dow Jones teve alta de 1,27% e o S&P 500 subiu 1,22%.