RIO — Pode-se dizer que Havana nunca viu nada igual. Na véspera de Natal, uma nova produção de "Rent" — o enorme sucesso da Broadway vencedor do Pulitzer e do Tony sobre drag queens, desabrigados, homossexualidade e Aids — vai estrear no teatro Bertolt Brecht Theatre na capital cubana para uma temporada de três meses.
O povo cubano conseguiu sobreviver por meio século sem Coca-Cola, Simpsons, Oprah Winfrey e Big Mac, graças ao embargo americano contra o país. Mas agora receberá um dos principais produtos de exportação dos EUA: o musical da Broadway.
"Tem um sido um grande aprendizado", admite Robert Nederlander, fundador da Nederlander Worldwide Entertainment, que está levando o espetáculo a Havana.
O projeto único foi lançado há três anos quando o Ministério da Cultura de Cuba convidou a NWE (uma produtora veterana da Broadway) para "explorar o qu estava acontecendo em termos de criatividade em Havana".
Nederlander respondeu levando embaixadores da Broadway ao 14º Festival anual de Teatro de Havana. A reação foi tão positiva que ele foi encorajado a voltar com algo mais ambicioso.
"Queríamos fazer um espetáculo da Broadway que ficasse autêntico e permitisse aos atores cubanos atuarem em seu próprio idioma", explica. "Queríamos contar uma história contemporânea, que atingisse o público mais jovem."
"Rent" é livremente baseado na ópera "La Bohème", de Puccini. O espetáculo não só tem um viés anticapitalista (o nome da peça faz referência a dois personagens que se recusam a pagar o aluguel de seu apartamento mínimo), como traz um elenco repleto de drag queens, dançarinos bissexuais e desabrigados, todos lutando por espaço e Nova York.
Por um lado é fácil imaginar como o público de Havana — apaixonado por arte e ao mesmo tempo empobrecido — pode se relacionar com essa história. Por outro, se a homossexualidade é legal em Cuba desde 1979 e o país recentemente avançou em pontos como casamento gay, a homofobia ainda é um problema grave por lá. Esse seria mais um motivo para a escolha de "Rent"?
"O Conselho Nacional de Cuba nunca questionou o tema gay da peça", garante Nederlander. "Nós mostramos um DVD da produção na Broadway e eles não fizeram nenhuma objeção."
Nederlander, cuja família é dona do teatro que recebeu a primeira montagem de "Rent" em 1996, é só elogios para a agência governamental que promove o espetáculo, mas é difícil não ler nas entrelinhas quando ele diz que "não é mais burocrático do que outras partes do mundo onde já trabalhei, como a China, por exemplo".
Um problema mais difícil tem sido trabalhar com atores cubanos sem familiaridade com a cultura dos musicais da Broadway.
"São atores extremamente criativos que nunca fizeram isso antes, mas a paixão e o talento são incríveis. Todos os ingredientes estão lá". diz Nederlander.
Ele recebeu muita ajuda do diretor do espetáculo, Andy Senor, que é cubano e interpretou um dos drag queens na versão da Broadway de "Rent".
Agora é aguardar a reação do público à novidade. Os ingressos ainda não começaram a ser vendidos, mas Nederlander deixa claro que ele terão preços populares.
"O objetivo desse projeto não é dar lucro. É realmente uma contribuição cultural."