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Musical da Broadway será encenado em Cuba pela primeira vez em 50 anos

Teatro de Havana vai receber versão de 'Rent' com atores locais
Cena do musical 'Rent' em montagem na Broadway, em 2011 Foto: SARA KRULWICH / NYT
Cena do musical 'Rent' em montagem na Broadway, em 2011 Foto: SARA KRULWICH / NYT

RIO — Pode-se dizer que Havana nunca viu nada igual. Na véspera de Natal, uma nova produção de "Rent" — o enorme sucesso da Broadway vencedor do Pulitzer e do Tony sobre drag queens, desabrigados, homossexualidade e Aids — vai estrear no teatro Bertolt Brecht Theatre na capital cubana para uma temporada de três meses.

O povo cubano conseguiu sobreviver por meio século sem Coca-Cola, Simpsons, Oprah Winfrey e Big Mac, graças ao embargo americano contra o país. Mas agora receberá um dos principais produtos de exportação dos EUA: o musical da Broadway.

"Tem um sido um grande aprendizado", admite Robert Nederlander, fundador da Nederlander Worldwide Entertainment, que está levando o espetáculo a Havana.

O projeto único foi lançado há três anos quando o Ministério da Cultura de Cuba convidou a NWE (uma produtora veterana da Broadway) para "explorar o qu estava acontecendo em termos de criatividade em Havana".

Nederlander respondeu levando embaixadores da Broadway ao 14º Festival anual de Teatro de Havana. A reação foi tão positiva que ele foi encorajado a voltar com algo mais ambicioso.

"Queríamos fazer um espetáculo da Broadway que ficasse autêntico e permitisse aos atores cubanos atuarem em seu próprio idioma", explica. "Queríamos contar uma história contemporânea, que atingisse o público mais jovem."

"Rent" é livremente baseado na ópera "La Bohème", de Puccini. O espetáculo não só tem um viés anticapitalista (o nome da peça faz referência a dois personagens que se recusam a pagar o aluguel de seu apartamento mínimo), como traz um elenco repleto de drag queens, dançarinos bissexuais e desabrigados, todos lutando por espaço e Nova York.

Cena do musical 'Rent', em montagem na Broadway em 2008 Foto: Sara Krulwich / NYT
Cena do musical 'Rent', em montagem na Broadway em 2008 Foto: Sara Krulwich / NYT

Por um lado é fácil imaginar como o público de Havana — apaixonado por arte e ao mesmo tempo empobrecido — pode se relacionar com essa história. Por outro, se a homossexualidade é legal em Cuba desde 1979 e o país recentemente avançou em pontos como casamento gay, a homofobia ainda é um problema grave por lá. Esse seria mais um motivo para a escolha de "Rent"?

"O Conselho Nacional de Cuba nunca questionou o tema gay da peça", garante Nederlander. "Nós mostramos um DVD da produção na Broadway e eles não fizeram nenhuma objeção."

Nederlander, cuja família é dona do teatro que recebeu a primeira montagem de "Rent" em 1996, é só elogios para a agência governamental que promove o espetáculo, mas é difícil não ler nas entrelinhas quando ele diz que "não é mais burocrático do que outras partes do mundo onde já trabalhei, como a China, por exemplo".

Um problema mais difícil tem sido trabalhar com atores cubanos sem familiaridade com a cultura dos musicais da Broadway.

"São atores extremamente criativos que nunca fizeram isso antes, mas a paixão e o talento são incríveis. Todos os ingredientes estão lá". diz Nederlander.

Ele recebeu muita ajuda do diretor do espetáculo, Andy Senor, que é cubano e interpretou um dos drag queens na versão da Broadway de "Rent".

Agora é aguardar a reação do público à novidade. Os ingressos ainda não começaram a ser vendidos, mas Nederlander deixa claro que ele terão preços populares.

"O objetivo desse projeto não é dar lucro. É realmente uma contribuição cultural."