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Com F-1 "no passado", Razia busca se encontrar nos EUA: "Preciso engrenar"

Depois de "decepção" em 2013, baiano tenta vaga na Indy no próximo ano após boa temporada na Indy Lights: "Sempre foquei na F-1, mas preciso encontrar meu espaço"

Por Curitiba

Luiz Razia na estreia na Indy Lights na temporada 2014 (Foto: Divulgação)Luiz Razia na estreia na Indy Lights na temporada 2014 (Foto: Divulgação)


No dia 1º de março de 2013, Luiz Razia sofreu o maior baque de sua vida: pouco antes de realizar o sonho de estrear na Fórmula 1, foi substituído pela Marussia em razão do não cumprimento da obrigação de alguns patrocinadores com a equipe. Um golpe e tanto em sua carreira. No mesmo ano, disputou um campeonato de carro de turismos. E em 2014, ingressou na Indy Lights, divisão de acesso da Fórmula Indy, principal categoria de monopostos dos Estados Unidos. Além disso, ele divide seu tempo com a vida de repórter do programa Auto Esporte, da TV Globo, onde testa carros super esportivos e faz matérias especiais ligadas ao esporte a motor. Em conversa com o GloboEsporte.com, o baiano de 25 anos garante que, um ano e oito meses depois da decepção, a F-1 ficou “no passado” e que está empenhado em conseguir uma vaga na elite do automobilismo americano.

- Eu fiquei muito frustrado na época, porque chegar na Fórmula 1 é um sonho de qualquer moleque que começa no kart. Fiz todos os passos: kart, Fórmula 3, F-3000, GP2. Fui campeão, vice ou 3º lugar em todas as categorias que passei. Quando consegui emplacar a F-1 fiquei maravilhado: “Estou conseguindo realmente ser piloto de F-1”. E depois de 20 e poucos dias tudo caiu abaixo. Naquele momento eu senti uma decepção muito grande. Depois, tentei de várias formas voltar ao que tinha acontecido, não consegui. E depois eu falei: “Que se lasque! Vou fazer outras coisas da minha vida. Não tem só Fórmula 1 no mundo” – disse.

Luiz Razia Marussia testes Fórmula 1 Jerez (Foto: Divulgação Marussia)Sonho de correr na Fórmula 1 pela Marussia acabou virando pesadelo (Foto: Divulgação )


Razia disputou a temporada 2014 da Indy Lights pela equipe Schmidt e terminou em quinto na classificação geral. Em 14 corridas, subiu cinco vezes ao pódio, anotou duas pole positions e venceu uma vez, justamente em Indianápolis, em uma prova disputada no circuito misto. Para o próximo ano, o piloto tenta uma vaga na categoria principal. A maior chance é na própria equipe Schmidt, que só confirmou o canadense James Hinchcliffe até o momento, e com quem tem vínculo de longo prazo. Outras possibilidades são a Dale Coyne e a Andretti, que ainda possuem vagas.

Confira a entrevista completa com Luiz Razia:

GloboEsporte.com: O que achou de sua temporada na Indy Lights em 2014:

Luiz Razia: Esse ano foi show de bola. Para o que eu fiz em 2013 que era Turismo, foi voltar às minhas raízes. E foi tudo diferente. Eu não conhecia pista nenhuma, nunca tinha andado de ovais e não conhecia os carros da Indy Lights. Só que eu fui para uma equipe boa e tive uma boa ajuda deles. No começo da temporada eu dei uma patinada e quando entraram as pistas em autódromos eu comecei a melhorar, subi ao pódio, ganhei, fiz pole. Aí na parte dos ovais também fiz pole e consegui bons resultados. 

Luiz Razia com carro da equipe Schmidt na Indy Lights em 2014 (Foto: Divulgação)Baiano com o carro da equipe Schmidt na Indy Lights em 2014 (Foto: Divulgação)


Estava indo tudo certo para ganhar o campeonato, aí tiveram duas etapas em que o carro quebrou e eu não consegui largar e isso “lascou” minha temporada. Terminei o ano em quinto, mas a poucos pontos do primeiro. Mesmo assim, foram pódios, poles, vitória. Gostei bastante e a equipe gostou bastante do meu trabalho e para o ano que vem estou tentando engrenar para a Indy.

Luiz Razia venceu o GP de Indianápolis na Indy Lights (Foto: Divulgação)Luiz Razia venceu o GP de Indianápolis na Indy Lights (Foto: Divulgação)


Está confiante em correr na Fórmula Indy em 2015?

Sim, estou otimista. Talvez não para a temporada inteira, mas para algumas provas. Minha carreira precisa engrenar, né?  Sou um piloto que por todas as categorias que passei venci, briguei por campeonato, fui campeão, fui vice da GP2. Preciso me profissionalizar, preciso achar meu espaço. E gostei bastante da Indy. Sempre foquei na Fórmula 1, mas depois daquele problema eu pensei: “bem, preciso procurar uma outra praça”. E os EUA me receberam muito bem. É o que eu quero. Não quero mais ficar procurando patrocínio, tentando mil vezes para conseguir correr. Eu quero que uma equipe enxergue o meu trabalho, que eu seja profissional e que eu consiga me manter.

Quais são suas opções na Indy para 2015?

Há poucas negociações, na verdade. A Dale Coyne, que tem espaço, a Sam Schmidt, e talvez a Andretti. Está bem apertado. A Sam Schmidt tem contrato comigo, um contrato prolongado. Esse ano foi de aprendizado e o Sam fechou contrato longo para minha carreira nos EUA. Ficou meio que amarrado com eles. Então a grande possibilidade de fazer alguma coisa no ano que vem é com a Sam Schmidt mesmo.

Se não conseguir a vaga na Indy, pensa em disputar a Indy Lights novamente?

Qualquer oportunidade que eu tenha no ano que vem eu gostaria de estar entrando de uma forma que eu seja um profissional, que eu tivesse lá para fazer meu trabalho e a equipe me mantivesse. Se eu conseguir a Indy ou a Indy Lights, estarei no lucro. Como sei que podem acontecer algumas coisas na Indy, estou focando nela mesmo.

Sentiu-se acolhido nos EUA? Pretende fazer carreira longa por lá?

Se eu conseguir emplacar no próximo ano, com certeza ficaria nos EUA, não tenho nem dúvidas. O automobilismo lá é sensacional. Você vê o Juan Pablo Montoya. Ele foi para a Nascar, voltou para a Indy, não teve nenhum problema, andou bem nas duas categorias. A vida profissional é muito boa, muito remunerada, os pilotos são bem tratados, são categorias top, grande promoção dos eventos...

kanaan montoya castroneves (Foto: Reprodução/Instagram)Colombiano Montoya com os brasileiros Kanaan e Castroneves (Foto: Reprodução/Instagram)

Como é sua relação com Hélio Castroneves e Tony Kanaan, os dois brasileiros da Indy atualmente? Eles te passam dicas?

O Helinho e o Tony são parceirões. Eles estão lá há muitos anos. Para eles é até legal que venha um outro brasileiro que queira participar da categoria. Eles dão toda a força.

Como foi a experiência de estrear em ovais justamente no tradicional circuito de Indianápolis?

Antes do oval de Indianápolis, fiz um GP (no circuito misto), onde venci e fiz a pole. Quando voltamos das férias teve o oval. E eu fiz a pole também. Era minha primeira experiência em um oval, eu tinha vencido o Indy GP antes, aí fiz a pole... Foi “do caramba”. Eles fazem um grande show na largada, cantam hino nacional... Foi sensacional!

Luiz Razia fez a pole position para a corrida no oval de Indianápolis na Indy Lights (Foto: Divulgação)Luiz Razia fez a pole position para a corrida no oval de Indianápolis na Indy Lights (Foto: Divulgação)


Gostou de correr em ovais?

Correr em oval é muito diferente de autódromo. Porque você tem que lidar em andar atrás do cara, ficar no vácuo. Às vezes você passa o cara, ele te passa de novo e dois vão no embalo. Existia muita coisa que eu não conhecia e que “apanhei” nessa minha primeira vez para aprender. E nas outras comecei a ter mais manha, mais malícia.

Luiz Razia em etapa no oval de Indianápolis na Indy Lights (Foto: Divulgação)Piloto em etapa no oval de Indianápolis na Indy Lights (Foto: Divulgação)


Um ano e meio depois do problema com a Marussia, você já abstraiu o episódio ou ainda fica incomodado?

Eu fiquei muito frustrado na época, porque chegar na Fórmula 1 é um sonho de qualquer moleque que começa no kart. Fiz todos os passos: kart, Fórmula 3, F-3000, GP2. Fui campeão, vice ou 3º lugar em todas as categorias que passei. Quando consegui emplacar a F-1 fiquei maravilhado: “Estou conseguindo realmente ser piloto de F-1”. E depois de 20 e poucos dias tudo caiu abaixo. Naquele momento eu senti uma decepção muito grande. Depois, tentei de várias formas voltar ao que tinha acontecido, não consegui. E depois eu falei: “Que se lasque! Vou fazer outras coisas da minha vida. Não tem só Fórmula 1 no mundo”.  E aí tive uma oportunidade instantânea com a McLaren na GT3.

Luiz Razia - Marussia - Fórmula 1 (Foto: Divulgação)Luiz Razia chegou a ser anunciado pela Marussia em fevereiro de 2013 (Foto: Divulgação)


A Fórmula 1 para você é passado ou ainda sonha em competir lá?

É passado. Mas se uma oportunidade surgir... Como no caso do Rubinho (Barrichello), que passa por várias situações de ter a oportunidade e tenta. Só não vou me debater, ficar procurando. Já passou essa fase.

A Marussia, onde você quase correu, fechou no fim deste ano. Você acha que não teria sido pior para sua carreira se tivesse ido para lá?

O “se” é inimigo do automobilismo. “Se eu tivesse ido dois décimos mais rápido eu era pole”, “se isso ou aquilo eu teria sido campeão”. Então eu não me preocupo com o “se”. Eu tive a oportunidade. Se eu tivesse consolidado a oportunidade seria muito legal. Mas não tive e esqueci e o que passou com a Marussia depois não é problema meu. 

Max Chilton treino GP Hungria (Foto: Getty Images)Com dificuldades financeiras, Marussia fechou antes mesmo do fim da temporada 2014 da F-1 (Foto: Getty Images)


O que você acha do atual momento da Fórmula 1?

Acho que a Fórmula 1 está em um momento muito crítico. As equipes grandes estão tentando amassar as equipes pequenas. E não está tendo espaço para jovens pilotos subirem, só nas equipes da RBR, que tem uma escola de pilotos sensacional – que outras empresas e  montadoras poderiam fazer também, mas não fazem. Vira isso. Ou é piloto RBR que sobe por talento ou vem a galera com grana que tem que se desdobrar para conseguir dinheiro. O cara tem que ser piloto e empresário, gerente de marketing ao mesmo tempo.

O que achou de sua passagem guiando uma McLaren pela equipe Bhai Tech no GT Open em 2013?

Fiz um ano com eles, mas foi uma coisa que não gostei muito. Dividir o carro com outro cara... Não era a minha pegada. Carro fechado não é o que eu gosto. Eu precisava tomar um rumo. Foi aí que falei com o meu manager e ele me passou boas oportunidades nos EUA, e ele me conseguiu a Indy Lights. E hoje não me arrependo, porque me abriu muitas portas. 

Luiz Razia e Chris van der Drift McLaren GT Open (Foto: FotoSpeedy / divulgação)Luiz Razia disputou o campeonato GT Open, de carros de turismo (Foto: FotoSpeedy / divulgação)


Está curtindo o trabalho no programa Auto Esporte?

Com certeza. Já são quatro anos que trabalho com o pessoal. Já foi criado uma grande fidelidade lá dentro. E eu tomo conta da parte dos super esportivos, que tem um link com o lado piloto. Minha parte é bem “chata” né? Só andar nas “carangas” “massa”, Ferrari, Lamborghini. Estou gostando, eu me dou bem com essas paradas, e o pessoal gosta de mim.

Luiz Razia testa carros super esportivos no programa Auto Esporte da TV Globo (Foto: Divulgação)Luiz Razia testa carros super esportivos no programa Auto Esporte da TV Globo (Foto: Divulgação)