Edição do dia 15/02/2015

15/02/2015 20h48 - Atualizado em 15/02/2015 23h20

Cirurgia delicada permite que menina de 5 anos volte a andar

Por consequência de paralisia cerebral, Julia não conseguia dobrar as pernas. Pais pediram na Justiça que o governo pagasse a cirurgia nos EUA.

A imagem é de um momento emocionante e inesquecível. O Fantástico conta a história da menina de 5 anos que está superando as limitações e hoje comemora a maior conquista da vida dela: voltar a andar. O sorriso de Julia mostra o quanto ela está feliz.

Ana Paula Marcheti, mãe de Julia: Ela foi uma criança prematura, era um bebezinho normal. Aos oito meses, a escola nos chamou e falou: ‘Olha, mãe, ela deveria estar sentando e não está’.
Fantástico: Ela ainda não tinha força?
Ana Paula Marcheti: Não tinha controle nenhum do corpo.
Fantástico: A perna dela não dobrava?
Ana Paula Marcheti: Não dobrava. A perna dela eram dois pauzinhos compridos. O pé não dobrava, o pé era sempre pra baixo.

Julia cresceu e só conseguia colocar as pontas dos pés no chão.

Ana Paula Marcheti: Ela vai para escola normalmente
Fantástico: Conversa com outras crianças?
Ana Paula Marcheti: Tranquilo.
Fantástico: Tem amigos?
Ana Paula Marcheti: Tem tudo. As coleguinhas da escola, como estão com ela desde os três meses, eram companheiras disso também.

Mas o vídeo divulgado na internet e em vários noticiários esta semana comoveu e chamou atenção para o caso dela. Veja no vídeo acima.

A cirurgia que devolveu os movimentos à Julia aconteceu em um hospital referência em tratamento de crianças, em Saint Louis, nos Estados Unidos.

Por consequência de uma paralisia cerebral, ela tinha dificuldade em dobrar as pernas. As pernas eram rígidas ela não podia caminhar, mas sete dias depois da cirurgia a equipe do Fantástico encontrou a Julia já andando de triciclo. A alegria de Julia é visível.

Fantástico: Como é que você se sente vendo essa cena?
Ana Paula Marcheti: Nossa, uma felicidade.
Fantástico: Ela gritando, curtindo...
Ana Paula Marcheti: Nossa, senhora. Gesticulando, mexendo o braço, controlando o tronco e ao mesmo tempo andando de bicicleta. São vários movimentos juntos que ela não fazia.

Ao nascer, Julia sofreu uma parada respiratória e a sequela foi a chamada espasticidade nas pernas.

“A espasticidade é um endurecimento dos músculos do corpo, involuntário. Então os músculos ficam endurecidos e, muitas vezes, esse endurecimento parasita os movimentos de uma criança ou de um adulto”, explica Bernardo de Monaco, neurocirurgião do Hospital das Clínicas de SP.

Para que Julia não perdesse os movimentos definitivamente, era necessária uma cirurgia delicada. As raízes que saem da medula e formam os nervos são responsáveis pelos movimentos de todo o corpo. No caso de Julia, a paralisia cerebral provocou uma alteração das raízes responsáveis pelo movimento das pernas. Primeiro, a cirurgia identifica as raízes que estão doentes. E depois elas são cortadas.

As pernas ficam amolecidas. E só então podem realizar movimentos. A partir daí, o trabalho é de fisioterapia. É o que está acontecendo com a Julia. Colocar o pé inteiro no chão já é uma grande vitória. Aprender que deve dobrar o joelho para andar e para subir uma escada também.

O fisioterapeuta explica por que pedalar, por exemplo, é um bom exercício nesse tratamento. “É porque, antes, o cérebro recebia sinais, mas esses sinais eram bloqueados. Então, os músculos não faziam o que o cérebro mandava fazer. Agora, ela tem a habilidade de os músculos ouvirem e responderem ao que o cérebro diz. Ela está indo maravilhosamente bem”, diz o fisioterapeuta Michel Kenyon.

Mas o médico que operou Julia é claro: “Essa cirurgia não cura a lesão cerebral. Ela tem rigidez nas pernas e também tem problemas com a coordenação dos movimentos. Isso pode melhorar, mas não conseguimos curar na cirurgia. Nós podemos melhorar as atividades: caminhar, ficar de pé, sentar e o equilíbro. Podemos melhorar a qualidade de vida. Antes da cirurgia, ela precisava de um andador para se locomover. Agora eu acho que ela será capaz de andar sem nada, sem ajuda. Pelo menos em lugares seguros como dentro de casa”, explica o neurocirurgião T. S. Park.

Julia ainda tem uma longa batalha pela frente depois que voltar ao Brasil. Além dos exercícios de fisioterapia, ela deve passar por mais uma cirurgia.

“Ela vai precisar fazer uma cirurgia para esticar os músculos das pernas e dos braços, que estão retraídos. Os pais querem que essa cirurgia seja feita no Brasil. Se tudo der certo, ela terá a capacidade de andar por conta própria”, avalia o neurocirurgião T.S. Park.

Se a cirurgia na medula não tivesse sido feita agora, antes que os músculos ficassem totalmente enrijecidos, Julia perderia todas as chances de voltar a andar.

A urgência esbarrou em uma questão financeira e jurídica. Os pais de Julia não tinham como arcar com os custos da cirurgia: R$ 119 mil. Os pais entraram na Justiça pedindo para o governo pagar a cirurgia nos Estados Unidos. Conseguiram, por meio de uma liminar, mas o Ministério da Saúde deve recorrer. De acordo com o Ministério, a cirurgia poderia ter sido feita no Brasil.

“O SUS realiza essa cirurgia, como do caso da Julia, no Sistema Único de Saúde” afirma José Eduardo Fogolin, coordenador de Média e Alta Complexidade do Ministério da Saúde. 

“A perspectiva é realmente que ela fique muito próxima da normalidade em tudo”, diz Ana Paula Marcheti.

Por enquanto, Julia ainda ficará nos Estados Unidos completando o tratamento pós-operatório. Aprendendo finalmente a andar para os próximos passos que a esperam.

veja também
Shopping
    busca de produtoscompare preços de