Rio

Acidente foi seguido de erros, avaliam especialistas

Falta de planejamento e entrosamento entre autoridades teria gerado caos no trânsito

Veículos ficam parados na Avenida Presidente Vargas
Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Veículos ficam parados na Avenida Presidente Vargas Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

RIO — Da Zona Norte à Zona Sul, passando pelo Centro, o caos no trânsito do Rio, nesta quinta-feira, demonstrou falta de planejamento e entrosamento entre os órgãos públicos em situações de imprevisto. Esta é a avaliação de especialistas ouvidos pelo GLOBO. Para eles, houve indícios suficientes para comprovar que os congestionamentos foram turbinados por uma sucessão de erros. Um deles, bastante trivial, estava estampado em painéis de orientação de tráfego: motoristas que acreditaram nas informações ficaram engarrafados em caminhos alternativos, e agentes de trânsito se aglomeravam nas ruas aparentemente sem saber o que fazer.

As autoridades alegam que fizeram o que puderam. Algumas situações, no entanto, explicitaram que houve, no mínimo, demora na tomada de decisões. A prefeitura só decretou estágio de atenção — aumentando o nível de alerta para mobilizar as equipes responsáveis por tentar solucionar o problema — às 10h12m, duas horas depois do acidente, com o caos já instalado. E o moderno Centro de Operações Rio (COR) admitiu não ter um plano de contingência para a Avenida Brasil que pudesse ser adotado em parceria com todos os órgãos públicos.

— Acidentes ocorrem em qualquer lugar. A diferença está na estrutura do poder público para evitar o caos. Isso precisa existir. Parece que o Rio não está capacitado para enfrentar problemas dessa natureza. Precisa estar equipado. Outra questão maior é a busca de alternativas viárias para que os motoristas evitem o local afetado e, consequentemente, o caos — avaliou o engenheiro especializado em transportes e professor da Uerj, José de Oliveira Guerra.

DIFICULDADE NUMA VIA EM OBRAS

O presidente do COR, Pedro Junqueira, argumentou que existem limites técnicos para o desenvolvimento de um plano integrado para a Avenida Brasil.

— É difícil criar plano para a Avenida Brasil. Não apenas pela sua extensão, mas por causa das obras do BRT. A todo momento, agulhas são fechadas e o tráfego desviado. É uma situação diferente dos túneis, que são ambientes mais confinados, onde temos planos de ação — disse.

No entanto, para o também professor da Uerj Alexandre Rojas, especializado em sistemas inteligentes de transportes, as restrições de tráfego na Avenida Brasil por si só já eram motivo para se ter um plano previamente definido de atuação:

— É preciso que alguém tome uma decisão política de estabelecer um plano para a Avenida Brasil. Se houvesse essa integração, alternativas poderiam ter sido pensadas, como enviar os peritos de helicóptero ou içar o corpo — disse Rojas.

Sobre o fato de o acidente ter ocorrido às 8h06 e o COR só ter decretado estágio mais de duas horas depois, Pedro Junqueira argumentou que emitiu o alerta quando a situação passou a ser enquadrada como “excepcional”. Segundo ele, em 14 meses de protocolo, essa foi a segunda vez que uma situação foi enquadrada como “excepcional”. A primeira foi em 14 de novembro de 2014, após um acidente que fechou o Túnel Santa Bárbara , sentido Laranjeiras.

CET-RIO DIZ QUE IMPLEMENTOU ‘PLANO B’

Numa demonstração de que nem os órgãos municipais se entendem, a CET-Rio informou que suas equipes tinham sim um “plano B” para o trânsito, e que esse plano foi implementado. O diretor de Operações da companhia, Joaquim Dinis, argumentou que o órgão fez o que pôde. Suspendeu uma reversível em direção ao Centro para escoar o trânsito no sentido oposto. Além disso, colocou 500 agentes nas ruas — cem a mais do que a média. As equipes extras foram montadas com operadores que deixavam o plantão. Servidores foram deslocados:

— Uma das prioridades foi manter os cruzamentos livres. Não fosse isso, a situação seria pior. O reforço foi possível porque agentes que largavam o turno ficaram mais tempo trabalhando. Também deslocamos efetivos que trabalham em outras atividades da CET-Rio.

Para o especialista José Eugênio Leal, professor da PUC-Rio, quantidade não necessariamente é simbolo de efetividade.

— Eles parecem não ter experiência com situação atípica. A maioria fica apenas reforçando o sinal verde ou vermelho. É muito pouco, tem que haver um entendimento de onde estão os gargalos.

AS FALHAS

Painéis: Motoristas reclamaram ter ficado engarrafados em rotas alternativas indicadas por painéis informativos. Muitas dessas informações estavam flagrantemente erradas. A prefeitura alega que a duração das viagens divulgadas é dinâmica. O dado, explica, é calculado com base na média de tempo de deslocamento de veículos que já passaram pelo trecho.

Agentes: A CET-Rio disse ter colocado 500 agentes previamente orientados nas ruas, para tentar solucionar o caos. Motoristas, no entanto, afirmaram que os “verdinhos” estavam completamente perdidos, sem saber o que fazer.

Alerta: O acidente ocorreu às 8h06, em pleno horário do rush. Apesar disso, o COR só entrou em estado de atenção às 10h12, duas horas depois, com o caos já instalado. O COR alega que, para decretar estágio de atenção, é preciso confirmar que o cenário realmente é de crise.

Sem contingência: Ao contrário dos túneis, a Avenida Brasil não tem plano integrado para ser implementado em caso de emergências, por dificuldades técnicas e devido às obras do BRT. Na falta desse plano, a CET-Rio tentou minimizar os problemas com base num planejamento próprio, que também não deu certo.