Edição do dia 03/11/2014

03/11/2014 21h19 - Atualizado em 03/11/2014 21h19

Demissões revelam efeitos do ataque chinês à indústria têxtil no Brasil

No último ano, foram mais de mil demissões, em média, a cada mês.
Empresários culpam, principalmente, os produtos chineses.

O setor têxtil, um dos mais tradicionais do Brasil, está atravessando um período muito difícil. No último ano, foram mais de mil demissões, em média, a cada mês. Os empresários culpam, principalmente, os produtos chineses.

Durante 25 anos, seu Rubens teve uma tecelagem em um galpão em Americana, no interior de São Paulo. Quando as portas fecharam, no ano passado, 280 pessoas ficaram desempregadas.

“Saudades da indústria, não. Eu tenho saudades da minha equipe”, diz Rubens da Silva.
Seu Rubens mudou de ramo. Hoje, é consultor imobiliário. “E dou graças a Deus pelo chinês não exportar terreno!”, diz.

E essa é mesmo a grande reclamação. Os representantes da indústria dizem que produtos importados e muito baratos, especialmente os chineses, são os principais culpados.

“Nós não podemos concordar que produtos venham aqui subfaturados. Uma roupa no Brasil, um biquíni a um centavo de dólar por quilo, isso não é uma importação justa nem leal e nem possível”, diz Rafael Cervone, da Associação Brasileira de Indústria Têxtil.

Segundo o Ministério do Trabalho, nos últimos 12 meses, 14 mil vagas foram fechadas no setor têxtil brasileiro.

“Um container que entra aqui derruba pelo menos 10 empregos na indústria de confecção”, afirma Alfredo Bonduki, presidente do Sinditêxtil/SP.

O técnico Ricardo Cardoso ficou sem trabalho na semana passada. "Estou fazendo faculdade, quero seguir outro rumo, fazer outro negócio", diz.

A história de Americana tem origem na indústria têxtil. A cidade foi fundada por imigrantes americanos que desenvolveram no local um polo do setor que já foi o maior da América Latina.

Mas hoje algumas empresas trabalham apenas com metade da capacidade. Nos últimos 20 anos, duas em cada três fábricas fecharam as portas, principalmente as pequenas confecções.

Um grande galpão desativado e mais um do outro lado da rua.

Os empresários afirmam que, além da concorrência dos importados, custos diversos, com os impostos e com o transporte, por exemplo, contribuem para a crise.

"Para gente importar uma tonelada de algodão do Texas para as fábricas do Nordeste custa US$ 120 dólares a tonelada. E para nós levarmos do Mato Grosso para as fábricas do Nordeste custa US$ 240, o dobro", afirma o empresário Ricardo Steinbruch.

E para encontrar soluções, a criatividade tem ajudado. Uma empresa de Americana agora usa fios coloridos, feitos com garrafas pet. O material sustentável é usado em roupas e calçados encomendados até por estilistas de Nova York

"Era uma matéria-prima até então utilizada muito em artesanato, e nós conseguimos fazer com que ela rodasse em máquinas de alta tecnologia. É uma forma de a gente tentar driblar essa crise", diz Marisa Ferragutt, diretora de produto e  riação

Segundo o Ministério do Desenvolvimento, o setor têxtil tem sido alvo de uma série de medidas para fortalecer a indústria nacional e aumentar a competitividade dos produtos brasileiros.

Entre as medidas citadas pelo ministério, estão a simplificação e a redução de impostos, as parcerias com os fabricantes e a adoção de regras para evitar a concorrência desleal com os artigos importados.