Casas e apartamentos
Apartamento de 98 m² bem iluminado tem jeito de casa
A delicadeza da mobília, a luz natural e os elementos dos anos 1950, resgatados após reforma da SAO Arquitetura, fazem deste apartamento de 98 m² uma lição de morar bem
2 min de leituraO cobogó branco estava lá, na lavanderia, escondido por uma persiana de escritório capenga, que mal impedia os fachos de luz vindos da rua. Da entrada do apartamento era impossível ver a beleza desse elemento vazado, tão típico dos anos 1950 e que garante até os dias de hoje a circulação de ar nos 27 apartamentos do charmoso edifício, localizado no bairro Jardins, em São Paulo.
Como em uma caça ao tesouro, os arquitetos Alexandre Skaff e Simone Carneiro, da SAO Arquitetura, inspecionaram todo o imóvel de 98 m² com sua cliente. “A perspectiva era desanimadora: havia pouca luminosidade e os cômodos eram apertados e mal distribuídos”, diz Alexandre.
Diante de um cenário longe do ideal, a dupla conseguiu transformar o espaço sufocante e escuro em um projeto claro, harmônico e que passa a sensação de ter o triplo do seu tamanho. Um ninho feminino, leve e com pouca mobília.
O ponto de partida foi remover as paredes, expôr as colunas e vigas estruturais e desenhar um piso elevado central no projeto, no qual estão a cozinha, a área de serviço, o lavabo e o banheiro da suíte. Para delimitá-lo, a dupla escolheu ladrilho hidráulico para o piso, um padrão cinza com arabescos. “A elevação foi necessária para passar as novas tubulações das instalações hidráulicas”, explica Simone.
A lavanderia foi transferida para o antigo quarto de serviço. Em seu lugar, surgiram painéis de madeira tauari e de vidro, que deixam explícitos os cobogós e incorporam parte da paisagem do bairro. Uma ilha com cooktop complementa a cozinha multifuncional. A peça curinga da decoração é a mesa redonda, que possibilita trabalhar, ler, cozinhar e conversar com os amigos durante o jantar.
Com as alterações, o apartamento ficou com um living estreito e comprido e apenas uma suíte. “Todos os espaços foram otimizados. Não há corredores ou cantos sem funcionalidade”, reforça Skaff.
Uma forma de dar unidade ao estar foi imaginar um único móvel, de 8,30 metros de comprimento, que se destacasse na parede da sala. Ele funciona como rack de TV, aparador e estante para livros e obras de arte.
Já a suíte atende a todos os desejos da proprietária, uma empresária do ramo alimentício. Tem banheiro separado do chuveiro, armários generosos, portas e janelas venezianas que ajudam na ventilação cruzada do projeto, já que não existe uma saída de ar direta na fachada.
Bem distante da versão original, o apartamento “cinquentinha” virou um“cinquentão” que esbanja espaço e beleza. Seus cobogós, elevados a outra categoria, estão aí para confirmar.
As soluções do projeto
1 | Quebrar as paredes e promover um único ambiente integrado ampliaram o projeto. “Quando se compartimentam plantas pequenas, surgem espaços mal utilizados e áreas de circulação desnecessárias. Optamos por uma área multiúso”, diz Alexandre.
2 | Como os banheiros não têm janelas para a fachada, foi necessário criar um sistema de venezianas para promover a ventilação cruzada nos ambientes.
3 | O rack de 8,30 m que percorre o apê é um bom exemplo da linguagem minimalista que os arquitetos defendem para pequenos espaços. “Os espaços vazios também dão escala ao ambiente”, afirma Simone.
4 | A cabeceira de concreto moldado resolve a questão estética da parede irregular no quarto de casal sem ocupar mais área.