Um desafio extremo: o secretário de Ambiente do Rio de Janeiro se propõe a mergulhar na Baía de Guanabara para provar que as competições de vela das Olimpíadas de 2016 podem acontecer no local. A Federação Internacional de Vela já disse que quer que as provas sejam disputadas em outro lugar.
Dia de luz e um barquinho a deslizar pela Baía de Guanabara. A bordo, o secretário Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro, André Corrêa. Ele quer provar que a poluição no local não é tão grande quanto o Fantástico mostrou na semana passada. Para isso, ele diz que vai mergulhar na água.
O barquinho vai e já se vê pelo caminho sinais de sujeira. Mas não vai ser no local que o secretário vai nadar. Ele escolheu um ponto específico. E para entender o motivo o Fantástico foi até o alto do Corcovado, junto com o oceanógrafo David Zee aos pés do Cristo, no feriado de 1º de Maio.
O Fantástico foi até o local para ter uma boa visão da Baía de Guanabara inteira. Desde a entrada dela, que a gente vai chamar de boca da Baía de Guanabara, até lá no final onde fica o fundo da Baía. Esta é a área mais suja.
“Porque os rios estão drenando uma grande quantidade de esgotos. Resíduos que a cidade não conseguiu tratar”, destaca o oceanógrafo.
Mas no meio da Baía existe uma fenda por onde a água do mar circula. Essa área, às vezes, fica mais limpa do que todo o resto. Mesmo com as 100 toneladas de lixo diárias e os 8 mil e 200 litros de esgoto por segundo que chegam à Baía. Quando a maré está enchendo, entra água limpa do oceano pela boca da Baía. E as condições melhoram. Agora, quando a maré está baixando, a água sai da Baía e traz todo o lixo e esgoto que vêm lá do fundo dela.
“As condições da agua numa maré vazante não são boas.
Na hora da maré enchente a agua se transforma. Fica uma água límpida e espetacular”, destaca o oceanógrafo.
O secretário marcou para mergulhar bem na hora em que a maré está enchendo. E bem onde a água entra na baía. Ou seja, nas melhores condições possíveis. Do Cristo, a gente consegue ver onde serão as raias Olímpicas.
“A gente tem três raias olímpicas. Três locais dentro da Baía de Guanabara. E a gente tem mais duas raias do lado de fora”, diz o oceanógrafo.
Fantástico: Semana passada no Fantástico, o vice-presidente da Federação Internacional de Vela falou que se a qualidade da água não estivesse boa a ideia seria tirar as raias de dentro da Baía e colocar na boca. Isso resolveria o problema?
David Zee: Seria uma atitude mais segura.
Fantástico: Mas a gente teria que contar com a sorte?
David Zee: Sem dúvida nenhuma. Se nós tivermos uma prova logo depois de uma grande chuva e uma maré vazante, sem dúvida nenhuma o risco de encontrar esses problemas de lixo, resíduo, esgoto, é muito grande.
Desse ponto sairão os 324 atletas de 34 países, em 250 embarcações.
“Isso aqui é a Marina da Glória. Mas infelizmente a verdade hoje é uma latrina, a “Latrina da Glória”. Porque tem várias galerias de aguas pluviais, aguas de chuva, que são utilizadas como rede de esgoto”, explica o biólogo Mário Moscatelli.
O secretário admite que a Marina da Glória é sujeira pura. Mas ele garante que a qualidade das outras quatro raias olímpicas é boa.
“Temos um outro gráfico desde 2010. Essa linhazinha vermelha aqui significa água para contato primário. Ou seja: para mergulhar”, explica o secretário.
O secretário André Corrêa então se prepara e cumpre o prometido.
“Aqui dá para mergulhar igual Ipanema, igual lá na Barra. Como eu disse o desafio é o lixo flutuante. Esse é o desafio que nós vamos enfrentar porque lixo zero em nenhuma baía a gente consegue”, diz o secretário.
“É um ato político.Eu particularmente não mergulharia", diz Mário Moscatelli.
Fantástico: Que tipo de doença alguém que entra na agua da Baía de Guanabara hoje pode pegar?
Alberto Chebabo, infectologista: As doenças mais comuns são hepatite a (transmitida principalmente pelo esgoto) e doenças diarreicas.
Pouca gente se arrisca a mergulhar nas praias dessa ilha que parece que parou no tempo. Paquetá é só uma das 16 que são abraçadas pela Baía de Guanabara.
“Quem vem passear em uma ilha a expectativa é tomar um banho de mar. E isso no local fica bastante prejudicado”, diz a comerciante Regina Linhares.
O restaurante de Regina poderia estar cheio agora. Um levantamento do Instituto Trata Brasil concluiu que se a Baía de Guanabara fosse limpa poderia gerar mais de 50 mil empregos. E os ganhos de renda com o turismo poderiam ultrapassar R$ 51 milhões por ano.
“A questão importante é que no momento da imagem de uma medalha de ouro, mesmo o Brasil ganhando uma medalha de ouro, e se a gente não conseguir mostrar condições boas na Baía de Guanabara isso vai deprimir muito isso”, diz o secretário.