Reuters

18/12/2014 12h49 - Atualizado em 18/12/2014 12h49

Desmatamento tropical ameaça produção mundial de alimentos

Estudo foi publicado nesta quinta-feira na revista 'Nature Climate Change'.
Até 2050, desmate pode reduzir em 15% a chuva em áreas tropicais.

Da Reuters

Agente do Ibama inspeciona madeira ilegal apreendida na reserva indígena do Alto Guama, em Nova Esperança do Piriá (PA). Os fotógrafos Nacho Doce e Ricardo Moraes, da Reuters, viajaram pela Amazônia registrando formas de desmatamento. Foto de 26/9/2013. (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)Agente do Ibama inspeciona madeira ilegal apreendida na reserva indígena do Alto Guama, em Nova Esperança do Piriá (PA) (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)

O desmatamento de florestas tropicais no Hemisfério Sul tem acelerado o aquecimento global e ameaça a produção mundial de alimentos ao distorcer os padrões de chuva na Europa, na China e no meio-oeste dos Estados Unidos, de acordo com estudo divulgado nesta quinta-feira (18) na revista "Nature Climate Change".

Até 2050, o desflorestamento pode levar a uma queda de 15% na chuva em regiões tropicais, incluindo na Amazônia, no sudeste da Ásia e na África Central.

Grande parte do desmatamento tem como objetivo liberar terra para agricultura. Isso pode causar um ciclo vicioso, aumentando o aquecimento global e reduzindo a produção de alimentos em fazendas, o que, em contrapartida, leva os produtores a cortarem mais árvores para dar espaço para cultivo, disseram os especialistas. 

“Quando você desmata os trópicos, estas regiões vão passar por um aquecimento significante e maiores secas”, disse Deborah Lawrence, professora da Universidade da Virginia e líder do estudo.

Remover árvores e plantar colheitas libera dióxido de carbono na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global. Ao mesmo tempo, áreas desmatadas também são menos capazes de reter humidade, imediatamente alterando os padrões locais de clima. 

'Da Amazônia para o mundo'
O estudo disse que se as atuais taxas de desflorestamento na floresta Amazônica persistirem, a produção de soja na região pode cair em 25% até 2050. A retirada de vegetação no Congo e na Tailândia também podem ter consequências em outras partes do mundo, levando a mais chuvas para a Grã-Bretanha e ao Havaí, e menos chuvas ao sul da França e à região do meio-oeste dos EUA, segundo o estudo. 

Globalmente, os níveis de desflorestamento estão crescendo vagarosamente, disse Deborah. O Brasil conseguiu conter suas taxas de desmatamento, em uma “linda história de sucesso”, disse ela, ao passo que a situação na Indonésia piorou. 

Um desflorestamento completo pode levar a um aumento de 0,7 grau nas temperaturas mundiais, isso além do impacto de gases-estufa, dobrando o aquecimento global desde 1850.  “Florestas tropicais são frequentemente atribuídas como o ‘pulmão do mundo’, mas elas são mais parecidas com as glândulas sudoríparas”, disse Deborah. 

“Elas cedem muita humidade, o que ajuda a manter o planeja refrescado. Essa função crucial estará perdida - e será até mesmo revertida - caso as florestas sejam destruídas”, acrescentou.