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O que as empresas podem fazer para enfrentar a crise da água?

O que as empresas podem fazer para enfrentar a crise da água?

Empresas precisam começar a economizar água – sob o risco de serem punidas pelo consumidor e verem seus lucros caírem

BRUNO CALIXTO
26/03/2015 - 08h00 - Atualizado 02/11/2016 17h22
Foto aérea da represa de Atibainha, em São Paulo, que enfrenta seca sem precedentes (Foto: Victor Moriyama/Getty Images)

Sabemos que o governo, a população e até o clima precisam fazer sua parte para evitar uma crise de água ainda pior nos próximos meses. Mas e o setor empresarial? Não é hora de também as empresas adotarem medidas para evitar o desperdício de água? Nesta semana, o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) lançou o relatório Gerenciamento de Riscos Hídricos no Brasil e o Setor Empresarial: Desafios e Oportunidades, mostrando que a seca também é um problema sério para a iniciativa privada. Se deixarem de agir, as empresas podem pagar caro - e serem punidas pelo próprio consumidor que, mais exigente, pode passar a optar por produtos que respeitem o meio ambiente. ÉPOCA conversou com Marina Grossi, presidente do CEBDS, que organizou o relatório. Ela conta que tipo de medida as empresas podem adotar.

A publicação Gerenciamento de Riscos Hídricos no Brasil e o Setor Empresarial: Desafios e Oportunidades está disponível para download

>> Tudo sobre a crise da água

ÉPOCA - As empresas estão enfrentando problemas com a crise de água no Sudeste?
Marina Grossi -
Sim, assim como todos os setores da sociedade. Mas com planejamento e visão de longo prazo, é possível estar um pouco mais preparado aos cenários adversos. É claro que tudo depende da área de atuação das empresas e do local onde estão instaladas e também do quanto essas empresas anteviram o risco. A Brasil Kirin, por exemplo, tem uma planta em Itu onde houve impacto no ano passado. No entanto, anteciparam ações para mitigar o risco e investiram em recuperação florestal. Após a restauração de uma área de mais de 380 hectares, foi observado o aparecimento de 19 nascentes, com uma estimativa de aumento de 20% do nível das águas subterrâneas e 5% das águas superficiais.

ÉPOCA - O setor empresarial também precisa agir para enfrentar a crise?
Marina Grossi -
Todos os setores - sociedade civil, governos, agricultura e empresas - precisam estar mobilizados e engajados para superar a crise que vivemos. As empresas também dependem da água. Para muitas, a água é o principal ativo. Hoje as empresas vêm acompanhando de perto a situação e intensificando ainda mais investimentos e ações para garantir a economia dos recursos hídricos neste momento crítico. As grandes empresas já buscam aprimorar o uso eficiente da água em seus processos, uma vez que são os grandes usuários que, em muitas bacias, já pagam a cobrança pelo uso da água. Ainda assim, o setor produtivo pode promover mais inovações no processo e garantir maior escala das boas práticas.

ÉPOCA - Que tipo de medida pode ser tomada pelo setor?
Marina Grossi –
Nas empresas, gerenciar os riscos hídricos pode reduzir as vulnerabilidades das organizações em relação ao suprimento de água, os conflitos com as comunidades locais e com os demais usuários da água, bem como problemas com suprimento de matérias-primas que usam muita água. As empresas podem captar água da chuva, reduzir perdas, fazer o reúso e tomar outras medidas que variam para cada tipo de indústria. Além disso, elas precisam olhar para fora das cercas, entendendo o contexto das bacias hidrográficas em que estão localizadas. Questões como proteção das nascentes, áreas de recarga de aquíferos e a cadeia de valor devem entrar na conta da gestão de risco de todas as empresas. Os momentos de crise são uma oportunidade para apresentarmos soluções e boas práticas que podem e devem ser replicadas. Acredito que essa crise acontecendo no Sudeste, onde estão as grandes cidades e parte importante do PIB brasileiro, tende a acabar com a cultura da abundância e do desperdício em relação à água.

ÉPOCA - O relatório publicado nesta semana mostra que empresas enfrentam riscos para os seus negócios se não agirem. Deixar de enfrentar a crise pode se tornar um problema para os negócios empresariais?
Marina Grossi –
Sem dúvida. Os riscos são muitos para a perenidade dos negócios, como pontuamos na publicação, como: a restrição de acesso ao capital, taxas de empréstimo mais elevadas e redução nos prêmios de seguro; falta de suprimento de água em quantidade e qualidade adequados; com o mercado consumidor, cada vez mais exigente; reputacional, por conta de conflitos de interesses público e com as comunidades locais e regulatórios.

ÉPOCA - Temos bons exemplos de manejo de água no setor empresarial?
Marina Grossi –
As empresas de vanguarda já reconhecem a água como um ativo essencial para seu negócio e realizam uma série de ações. A química Braskem, por exemplo, buscou parcerias para viabilizar um projeto para a geração de água de reúso para sua unidade no Polo Petroquímico da Região do ABC Paulista, garantindo o fornecimento de água pelos próximos 41 anos. A Ambev diminuiu em 38% a captação de água em suas unidades entre 2012 e 2013, tornando-se referência internacional. A Coca Cola Brasil implantantou 15 projetos de captação de água de chuva com potencial de coleta de 190 milhões de litros por ano, ou cerca de 1% do consumo total do sistema. Nós apresentamos esses casos e outros, e todo o material sobre os riscos, na publicação que lançamos nesta semana.








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