Entre as Canetas

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por Ricardo Gonzalez

Mesmo com um pouco de atraso, ainda vale muito a pena fazer uma pequena mas verdadeira homenagem a uma das figuras com quem mais aprendi na minha carreira no jornalismo esportivo. Carlinhos fará muita falta não só ao Flamengo, onde passou a maior parte da vida, mas ao futebol. Não tive o privilégio de vê-lo jogar, mas basta-me o depoimento de meu pai para saber que o apelido Violino era perfeito. Tive a honra de entrevistá-lo várias vezes, no período das conquistas estaduais do Flamengo em 91, 99 e 2000. E digo com total convicção: o futebol precisava de mais Carlinhos. Técnicos sem pompa, sem nariz empinado, que conhecem tudo de bola, e que não ganham milhões para desfilarem teorias científicas e cibernéticas. Pessoas que se dedicam a um clube, ao esporte, e que são reconhecidas e admiradas por craques do calibre de um Zico, de um Júnior.

 



 



Ao saber da morte desse ser humano exemplar, lembrei-me de uma passagem que mostra sua humildade e sua aversão a aparecer - enquanto a maioria de seus colegas de profissão adora um holofote. Nessa passagem fica também minha saudade de outro monstro, este do radialismo, o amigo Danilo Bahia. Num tempo bom em que cada jornalista podia escolher com quem queria conversar, em que a informação circulava, em que não havia a detestável coletiva. 

 

Acaba o treino do Flamengo, Danilo aproxima-se de Carlinhos, já com gravador e microfone em punho. "Carlinhos, vamos gravar?" O treinador assustou-se: "Mas, Danilo, de novo?" Dadá foi didático: "Carlinhos, você é o técnico do time de maior torcida do país. Tem que falar todos os dias com a gente." Antes de atender ao pedido, como aliás sempre fazia, Carlinhos ainda retrucou: "Mas não aconteceu nada hoje de diferente do que eu te disse ontem..."

 

Esse era Carlinhos. Simples, avesso a entrevistas, mas sempre solícito a uma resenha, a um bom dedo de prosa, fosse o interlocutor jornalista ou não. Algo inimaginável no tempo de profissionais arredios e escorregadios de hoje. Um pouco do pouco que sei de futebol aprendi conversando com Carlinhos e vendo-o de perto ensinar aos craques do Flamengo.

 

Agora, Danilo Bahia e Carlinhos devem estar resenhando do lado de lá. E o papo certamente está bem mais interessante do que o que rola (ou não) nos clubes do lado de cá... 

 

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Ricardo Gonzalez

carioca, 50 anos,

Ricardo Gonzalez é jornalista, pai, filho, marido e apaixonado por futebol e música desde que nasceu, há 49 anos. Formado pela UFRJ, trabalhou nos jornais O Globo, JB, Folha de S.Paulo, O Dia e Lance, no site GloboEsporte.com, na TVE, e hoje é editor

SOBRE A PÁGINA
O “Entre as Canetas” existe para falar de imprensa esportiva, de esporte, e para fazer amigos. Trata do que os jornalistas fazem com suas canetas e do que os jogadores fazem com as deles, num trocadilho que exalta um dos dribles mais bonitos do futebol e o principal instrumento de trabalho de um jornalista.