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Batida, GPS e telão: a série de fatores que gerou o erro de Mercedes e Lewis

Piloto perdeu vitória praticamente certa em Mônaco por fazer pit stop desnecessário. Reconstrução mostra série de acontecimentos que contribuiu para a falha da equipe

Por Direto de Mônaco

header livio oricchio (Foto: Editoria de Arte)



 

Lewis Hamilton perdeu a vitória praticamente certa no GP de Mônaco, neste domingo, ao fazer um pit stop não previsto na 65ª volta, a 13 da bandeirada, quando era líder (reveja no vídeo). O segundo colocado àquela altura, Nico Rosberg, seu companheiro de equipe, não parou. Assim como o terceiro, Sebastian Vettel, da Ferrari. Quando Hamilton deixou os boxes, estava atrás de Rosberg, novo líder, e Vettel, segundo. “Não posso expressar o que estou sentindo”, disse o atual campeão do mundo e ainda líder do campeonato.

Uma série de acontecimentos contribuiu bastante para os profissionais da Mercedes e até mesmo Hamilton se equivocarem no Circuito de Monte Carlo. Vale a pena reconstruir o que se passou nas voltas finais da corrida caracterizada pela imprevisibilidade.

Lewis Hamilton sai incrédulo após perder a vitória no GP de Mônaco (Foto: AFP)Lewis Hamilton sai incrédulo após perder a vitória no GP de Mônaco (Foto: AFP)


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A batida, o safety car virtual e o safety car real


Na 64ª volta, o holandês Max Verstappen, da STR, de apenas 17 anos - com pneus supermacios em bom estado, pois os colocara na 46ª volta - fazia de tudo para ultrapassar o francês Romain Grosjean, da Lotus. A luta valia o décimo lugar, último a marcar pontos. Bem mais veloz, o inexperiente Max, colado à traseira da Lotus, imaginou que Grosjean pudesse frear onde ele faria, com os pneus bem mais aderentes e em melhor estado. Grosjean, porém, havia feito o seu pit stop ainda na 17ª volta e instalara os macios, menos aderentes que os supermacios de Max.

Quando Grosjean começou a frear, Max ainda acelerava. Os dois tinham ritmos bem distintos, gerados principalmente pelo estado diferente de seus pneus. Resultado: Max tocou no pneu traseiro direito do francês e decolou. Seguiu reto até bater num ângulo de quase 90 graus na proteção de plástico e borracha da curva 1. Não se feriu.

Charlie Whiting, diretor de corrida, enviou o sinal eletrônico do safety car virtual, pela primeira vez em uso. Mas a assistência a Max, na breve área de escape da curva 1, bem como a intervenção do pessoal de resgate, para remover o modelo STR10-Renault do local, fez Whiting mudar de ideia. A situação exigia o safety car.

Nico Rosberg celebra vitória no GP de Mônaco (Foto: AFP)Nico Rosberg celebra vitória no GP de Mônaco, neste domingo(Foto: AFP)

Depois do acidente de Jules Bianchi em Suzuka, no ano passado, que o deixaram na condição de ter vida apenas vegetativa, à menor necessidade de carros de serviço nas áreas de escape Whiting libera o safety car.

Na volta do acidente, a 64ª, Rosberg havia cruzado a linha de chegada, em segundo, nada menos de 25s727 depois de Hamiton, o líder. Já Vettel, terceiro, a apenas 1s177 de Rosberg.

O aviso do safety car virtual faz com que na pequena tela existente no volante dos carros aparecesse um sinal de mais ou de menos. Se o piloto conduzir acima da velocidade vem a indicação (+), indicando estar acima e deve reduzi-la. Se estiver abaixo da desejada pela direção de prova, surge o sinal de (-), para aumentá-la. Foi o que todos os pilotos fizeram. No primeiro momento, aliviaram o pé no acelerador.


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O telão e a confusão feita por Hamilton


Mas segundos depois, viram as placas de safety car expostas pelos comissários e nos painéis eletrônicos, além de as próprias equipes avisarem pelo rádio. Vale a mesma regra do safety car virtual, os pilotos têm no painel a orientação para diminuir ou aumentar a velocidade. Mas perdem mais tempo por terem de se posicionar para alinhar atrás do safety car e não apenas seguir a orientação da velocidade no painel.

Hamilton disse nas entrevistas sobre aquele momento: “Você confia na equipe. Eu vi no telão do circuito os mecânicos prontos para o pit stop e achei que Nico tinha parado. Obviamente eu não podia ver os pilotos que estavam atrás de mim. Eu pensei que os caras (Rosberg e Vettel) estavam parando. A equipe me avisou para me manter na pista. E respondi que a temperatura dos meus pneus iria cair.”

Hamilton falou mais: “Na minha cabeça, os caras estariam com os pneus supermacios enquanto eu estava com os macios. Nesse instante o time pediu para eu fazer o pit stop. Sem pensar, eu entrei acreditando completamente que os outros tinham feito o mesmo”.

Nico Rosberg, à frente de Nico Rosberg e Lewis Hamilton no fim do GP de Mônaco (Foto: Gero Breloer / AP)Nico Rosberg, à frente de Nico Rosberg e Lewis Hamilton no fim do GP de Mônaco (Foto: Gero Breloer / AP)

O GloboEsporte.com perguntou a Hamilton na coletiva da FIA, em seguida a essa explicação, se sabia a diferença que havia entre ele e Rosberg e Vettel. “Antes de o safety car ser acionado eu sabia. Eu não me preocupei quando me vi atrás do safety car. Mas nesse instante já não sabia a nossa diferença".

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O GPS e o erro de cálculo


Toto Wolff, sócio e diretor da equipe Mercedes, conversou com os jornalistas. E deu uma explicação importante: “Nosso pessoal fez os cálculos errados. Aqui em Mônaco o GPS não funciona, o que ajudou a deixar a equipe confusa”. O GPS permite não apenas saber a diferença de tempo precisa entre cada piloto como mostrar onde cada um se encontra no traçado.

Segundo jornalistas alemães bem informados das coisas da Mercedes, eles calcularam que quando chamaram Hamilton, a diferença dele para Rosberg era de algo entre 16 e 18 segundos. Mas não sabiam na hora da corrida. E Hamilton precisaria cerca de 21 segundos. Vale lembrar que Rosberg vinha atrás num ritmo bem mais lento que na corrida, ditado pela presença do safety car e a indicação de velocidade no painel até que ele se posicionasse atrás do safety car. Mesmo assim, a diferença que Hamilton tinha não foi suficiente, para dar a dimensão do erro de cálculo.

Isso fez com que Hamilton saísse bons metros atrás de Rosberg e quase lado a lado de Vettel. Depois da saída dos boxes, em seguida a curva 1, há uma linha branca que atravessa a pista. É a linha do safety car. Se o piloto sai do box, sob regime de safety car, e cruza essa linha antes dos adversários que estão na pista, ele ganha o direito de ficar na sua frente. Vettel disse na entrevista da FIA: “Eu estava muito confiante de que passei na frente de Lewis, graças ao nosso departamento de desenho que projetou um bico bastante longo”.

Hamilton ainda chamou a Mercedes, no rádio, afirmando que ele havia ultrapassado a linha primeiro e começou a subir a reta antes do Cassino lado a lado com Vettel, até desistir. “Era um momento cheio de emoção e gesticulei para Lewis a fim de informá-lo de que eu estava na frente. Naquele instante os dois achavam que haviam cruzado primeiro”, disse o piloto da Ferrari.

Lewis Hamilton cumprimenta Nico Rosberg, enquanto Sebastian Vettel celebra pódio no GP de Mônaco (Foto: AP)Lewis Hamilton cumprimenta Nico Rosberg, enquanto Sebastian Vettel celebra pódio no GP de Mônaco (Foto: AP)



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O pedido de desculpas


Wolff pediu desculpas públicas também a Hamilton pelo erro da Mercedes. E o campeão do mundo, profundamente abalado com a “derrota”, afirmou que “o grupo ganha e perde junto”.

O que mais se questiona na decisão não apenas dos técnicos da Mercedes como até mesmo de Hamilton é a razão do pit stop. Historicamente quem está na frente, em Mônaco, se desejar, não permite que o pilotos de trás o ultrapasse, mesmo quando a diferença de desempenho for de dois, três segundos. E restavam 13 voltas para a bandeirada.

Portanto, mesmo que acontecesse o que Hamilton imaginava, ou seja, Rosberg e Vettel tivessem parado e colocado pneus supermacios novos, seria muito difícil aos dois ultrapassá-lo para vencerem o GP de Mônaco. Mesmo Hamilton estando com os pneus macios, apenas, instalados na 38ª volta.

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A pergunta que não quer calar


Essa era a pergunta mais repetida até por adversários da Mercedes: qual a necessidade daquele pit stop?

Para o campeonato foi um acontecimento favorável: Hamilton segue líder, com 126 pontos, mas Rosberg está bem perto, 116. Vettel tem 98. As duas vitórias seguidas de Rosberg, em Barcelona e no Principado, elevaram bastante sua autoconfiança. E a F1 vai para o Canadá, agora, dia 7, com outra perspectiva para a sequência da temporada, apesar da superioridade de Hamilton e da Mercedes.