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Mesmos jogadores, um novo time: por que o São Paulo reagiu sem Muricy?

Mais "amigo" dos atletas, Milton Cruz mexe na escalação, no esquema tático, no posicionamento e agrada ao grupo, que reage em campo com vitórias importantes

Por São Paulo

Milton Cruz São Paulo (Foto: Rubens Chiri / site oficial do São Paulo FC)Milton Cruz: 80% de aproveitamento no São Paulo (Foto: Rubens Chiri / site oficial do São Paulo FC)

Muricy Ramalho foi demitido do São Paulo em 6 de abril, um dia após a derrota por 2 a 0 para o Botafogo de Ribeirão Preto, pela fase de classificação do Campeonato Paulista. Funcionário do clube há 21 anos, o auxiliar-técnico Milton Cruz assumiu como interino, enquanto a diretoria ainda busca um novo treinador para a sequência da temporada. O grupo de jogadores é o mesmo. Mas a postura é outra. E as vitórias voltaram. Por quê?

A mudança de atitude partiu dos jogadores. Muricy Ramalho não tinha problemas de relacionamento com o elenco. Havia apenas discordância em relação aos seus métodos de treinamento.

Mas é fato que o interino tem relacionamento muito mais próximo com os atletas. Ao contrário de Muricy, Milton Cruz dá mais importância a conversas individuais com os jogadores. Resumindo: o elenco se sente mais à vontade.

A parte psicológica, que era ignorada pelo ex-treinador, passou a ser essencial. Basta lembrar que, no dia da partida contra o Corinthians, houve uma palestra motivacional da psicóloga Analy Couto, e depois os jogadores se fecharam numa sala e fizeram uma reunião - sem a presença de Milton Cruz.

Com a experiência de ter convivido com muitos treinadores que já passaram pelo clube, Milton Cruz também alternou a rotina de treinamentos. Dentro de campo, a evolução foi notável:  aproveitamento de 80%, com quatro vitórias e uma derrota em cinco partidas.

Apesar do pouco tempo de trabalho (duas semanas e meia), há evolução em vários aspectos. Taticamente, o time está muito mais organizado em campo. Antes, a situação não era bem essa. Em 18 jogos na temporada, Muricy não achou uma escalação que fizesse o time mostrar um bom futebol.

O rendimento não foi bom nem nas vitórias sobre os pequenos na fase de classificação do Paulistão. Nos clássicos, fiasco total. O maior erro foi cometido na derrota para o Corinthians, na estreia da Libertadores, quando Muricy tirou Michel Bastos (o melhor do time) do meio-campo e o colocou na lateral esquerda, para a entrada de Maicon.

Milton Cruz, em várias conversas com Muricy, havia alertado que o primeiro passo para começar a arrumar a casa seria colocar mais um volante no meio-campo para proteger o setor defensivo, mas a sugestão não foi aceita

Milton Cruz, em várias conversas com o treinador, havia alertado que o primeiro passo para começar a arrumar a casa seria colocar mais um volante no meio-campo para proteger o setor defensivo, mas a sugestão não foi aceita. Muricy seguiu no tradicional esquema com dois volantes, dois meias e dois atacantes, sendo um funcionando como referência. 

Quando o interino assumiu, ele mudou o esquema tático e o posicionamento dos atletas em campo. Com os três volantes, os beques ficaram menos expostos, tanto que Rogério Ceni foi vazado apenas três vezes (uma vez contra o Danubio e duas contra o Santos). Em vez de usar uma referência ofensiva (Luis Fabiano ou Kardec), o time passou a atuar apenas com Pato na frente, mas todos se movimentando bastante.

Além disso, mudaram também algumas peças. Bruno e Carlinhos, reforços indicados pelo ex-treinador e que não foram bem, perderam terreno. O lateral-direito voltou a ser utilizado no clássico contra o Corinthians depois de muito tempo. O esquerdo, apesar de ter sido utilizado na semifinal contra o Santos, virou reserva de Reinaldo.

Posicionamento de Ganso mudou. Agora, ele joga mais adiantado

Hudson, que não tinha a preferência do ex-treinador, virou aposta de Milton Cruz e virou titular. Wesley, ex-Palmeiras, deu mais mobilidade ao meio e será inscrito nas oitavas da Libertadores.

Outra clara diferença entre Muricy e Milton está na utilização de Paulo Henrique Ganso. O ex-técnico insistiu com o camisa 10 no setor de armação, mais pelo lado direito. Com Milton, além de atuar mais centralizado, ele foi mais adiantado, como um segundo atacante, e não tem a obrigação de voltar para marcar - faz apenas o primeiro combate na frente. Embora ainda esteja abaixo do desempenho do ano passado, pode-se dizer que ele cresceu de rendimento.

Esquema ideal de Milton Cruz é mais cauteloso e tem Ganso com liberdade total para jogar mais perto de Pato (Foto: GloboEsporte.com)Esquema ideal de Milton Cruz é mais cauteloso e tem Ganso com liberdade total para jogar mais perto de Pato

Nos treinamentos, também se percebe a diferença. Os próprios jogadores, em entrevistas, não criticam o ex-treinador, mas elogiam os métodos de Milton Cruz. Para se ter um exemplo, na segunda-feira posterior à derrota para o Santos, pelo Paulista, ao invés de um trabalho de recuperação física, Milton já trabalhou taticamente com os jogadores durante meia hora, sem a presença dos jornalistas. Na quarta, diante do Corinthians, viu-se um time bem postado, com atitude, e que venceu o rival por 2 a 0, garantindo a classificação como segundo colocado da fase de grupos do torneio sul-americano.

O crescimento da equipe, que agora terá duas semanas para se preparar para a partida contra o Cruzeiro, pela Libertadores, no dia 6 de maio, fez a diretoria tirar o pé na corrida pela contratação de um técnico.

Como Alejandro Sabella priorizou o mercado europeu e Vanderlei Luxemburgo preferiu seguir no Flamengo, a diretoria resolveu dar todo o respaldo a Milton Cruz, enquanto conversa com novos alvos. Hoje, a tendência é que o interino seja o técnico no primeiro duelo contra os mineiros, que será realizado no estádio do Morumbi. O presidente Carlos Miguel Aidar até considera a possibilidade de efetivar o interino no comando da equipe.